Uma medida humanitária para amparar mulheres vítimas da violência (principalmente doméstica), e um selo para oferecer às hóspedes produtos e serviços feitos especialmente para a mulher.
Assuntos aparentemente antagônicos, mas que se encontram, se entrelaçam sob a parabólica afetuosa da rede de hotéis Accor.
Por Cecília Fazzini e Paulo Atzingen*
O Programa Acolhe, que foi formalizado em 2020, em parceria com o Instituto Avon, já proporcionou 6 mil hospedagens gratuitas, em 300 hotéis da rede. Alcançou 600 mulheres e 700 crianças, em situação de violência e vulnerabilidade social. O Selo She Travel Club começou pela Europa e Ásia em setembro de 2022, com mais de 50 hotéis certificados. A Accor é a primeira rede hoteleira da região das Américas a implementar a certificação, iniciando com 25 hotéis. Já são 18 certificados até agora.
O mundo corporativo não é feito apenas de metas, obsessão pelo lucro e crescimento do patrimônio. A rede de hotéis Accor nas Américas – afinada com a política global de ESG do grupo francês – mantém, entre outras iniciativas de responsabilidade social, o “Programa Acolhe”, medida de caráter humanitário que visa abrigar mulheres e meninas, na luta contra a violência de que são vítimas. Magda Kiehl, SVP Jurídico, Compliance & Corporate Security, em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO TURISMO, avalia a gravidade do assunto que acomete o universo feminino, no Brasil e no mundo, e conta como nasceu a solução, pensada por muitas mentes dentro da rede hoteleira.
Compromisso mundial
“Falar da luta contra a violência que acomete as mulheres é encarar de frente uma questão que é muito séria, um problema social gravíssimo. E não é Brasil , é mundo”, esclarece Kiehl. Ciente do compromisso também como corporação, na luta antiviolência contra as mulheres e meninas, de acordo com o relato da executiva, é que o Grupo Accor mantém programas mundiais, assina coalisões internacionais nessa luta para conter a violência contra as mulheres e acordos com a ONU. Contudo, a par dos muitos compromissos assinados em âmbito mundial, no Brasil o desafio se acentuou durante a pandemia.
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“Ao mesmo tempo em que a pandemia nos deixou muito assustados, porque foi um momento muito difícil para a hotelaria, veio a constatação de que havia gente sofrendo muito mais e a certeza de que teria que prevalecer algum tipo de ajuda à comunidade”, conta a VP da Accor Hotéis.
Como nasceu o programa
Se a pandemia fez a hotelaria rever seu formato de negócio e se reinventar, também trouxe à tona questões sociais graves. E, dentro desse espectro, a violência contra a mulher engordou as estatísticas e alimentou as manchetes da imprensa. E, descreve Kiehl, foi quando se deu corpo ao “Programa Acolhe” para amparar mulheres vítimas de violência doméstica.
O pano-de-fundo da decisão de dinamizar o programa, assim, era a clara visão de que os números só pioraram durante o período de reclusão, imposto pela Covid. E ao comungar da máxima de que “é nos piores momentos que se tem as melhores ideias”, a VP da Accor diz que assim foi feito com o entendimento claro do que oferecer: a hospedagem, “nosso negócio, nosso business”. Ela lembra emocionada da conclusão de que havia expertise, mas não suficiente para tocar o projeto. Foi quando entrou em cena o Instituto Avon. “Eles reuniam muito conhecimento sobre o assunto, já tinham estudado profundamente a respeito e foi aí que unimos nossas forças”, sintetiza. Dessa união foi formatado o Fundo de Desenvolvimento Social na luta conjunta para deter a violência contra as mulheres no País.
A caixa de ressonância do time de colaboradores
Nos pormenores para operacionalizar o “Programa Acolhe”, conta Kiehl, se fez notar a força da cultura Accor. “Juntamos todas as áreas da empresa para construir, a 50 mãos, o programa exclusivo para acolhimento das mulheres e meninas vítimas de violência doméstica nos nossos hotéis”, explica. Mas como trabalho dessa natureza requer um conjunto de normas, a executiva frisa que os hotéis Accor participantes do ”Acolhe” são todos homologados e as equipes treinadas para receber as mulheres.
Os critérios para a hospedagem
A VP da Accor explica que foi elaborada uma política para o recebimento especial das mulheres. A parceria com entidades governamentais, que são responsáveis pela tutela das mulheres, de acordo com ela, foi uma das principais pilastras do programa. “Não podemos acolher como hóspedes em nossos hotéis as mulheres vítimas de violência, sem a tutela do governo. Há uma regulamentação e, hoje, já temos esse acordo firmado com mais de 350 órgãos oficiais”, esclarece. Assim, o percurso até que se concretizasse o número de quase 6.000 hospedagens doadas pela Accor, em três anos, atende a esses critérios.
No momento em que a mulher sofre a violência, as entidades públicas se deparam com a dificuldade de alocar a vítima que, muitas vezes, se vê sem abrigo. “Nossos hotéis se colocaram como opção e hoje já são uns 300 participantes do programa”, relaciona Kiehl. Para tornar mais viável esse percurso da vítima da violência até um quarto de hotel da Accor, o programa conta com o auxílio da ONG Bem-Querer Mulher, contratada pela rede hoteleira, para fazer o acompanhamento com apoio psicológico, jurídico e social.
Selo She Travel Club (STC)
Magda também falou à reportagem do Selo She Travel Club (STC), o primeiro selo independente e internacional que certifica hotéis de acordo com as necessidades femininas ao viajar, com foco especial em cuidado e conforto.
“She Travel Club é para as nossas hóspedes mulheres. Elas chegam no hotel, e o que que elas vêem lá? Muita coisa feita para homem, concorda? Não tem nada, assim, exclusivo, para as mulheres. Isso é muito ruim. Então o STC nasceu a partir de iniciativas para as mulheres hóspedes também, para elas se sentirem acolhidas, sentirem que têm iniciativas pensadas exclusivamente para elas”, explica Magda.
O She Travel Club é uma entidade internacional, baseada em Paris e os critérios utilizados por ela são aplicados nos hotéis. “Esses critérios vão desde o bem-estar da mulher, alimentação da mulher, até questões de segurança da mulher no hotel”, explica a executiva.
O projeto começou nos hotéis da Europa, depois foi para a Ásia e agora chegou na América. “Lançamos na América, esse ano, um piloto começando com 25 hotéis“. Atualmente, 18 hotéis já receberam seus certificados, que podem ser obtidos em três categorias: Prata, Ouro ou Platina”, adianta Magda.
Existem inúmeros detalhes que só sendo mulher é possível detectar. E ela dá exemplos clássicos. “Os amenities, por exemplo. “O hotel tem um kit de beleza para oferecer se a mulher, esquece a sua necessaire? O hotel tem absorventes higiênicos em caso de necessidade? No quesito alimentação, o hotel oferece uma alimentação light, um cardápio especial para elas? Enfim, tem muitos detalhes que só nós, mulheres, percebíamos”, enumera.
“Então, a gente quer cumprir com esse papel de uma rede hoteleira que se importa com aquilo que é importante para as mulheres, em termos de hospedagem”, acentua a executiva, concluindo que essas ações também possuem um viés comercial, diferenciando a Accor no mundo da hospitalidade como empresa que pensa também com a cabeça de uma mulher.
Hotéis nas Américas certificados com o STC
*Certificado Ouro: Mercure Salvador Rio Vermelho, Pullman São Paulo Ibirapuera, Novotel São Paulo Berrini, Mercure São Paulo Vila Olímpia, Novotel Buenos Aires, Sofitel Montevideo Casino Carrasco & SPA, Novotel Miami Brickell, ibis Copacabana Posto 5, Novotel Rio Janeiro Leme, Mercure Rio Boutique Copacabana, Sofitel Legend Casco Viejo Panama City e Swissotel Lima.
*Certificado Platina: Santa Teresa Hotel RJ MGallery, Sofitel Buenos Aires Recoleta, Sofitel Bogotá Victoria Regia, Sofitel Mexico City Reforma, Grand Mercure São Paulo Itaim Bibi e Fairmont Rio de Janeiro Copacabana.
SOBRE O SHE TRAVEL CLUB
O SHe Travel Club é o primeiro e único selo focado em mulheres para hotéis, prometendo empoderar todas as mulheres a viajar “seguras e felizes em qualquer lugar” (SHe).
Para mais informações e para obter a certificação, acesse www.shetravelclub.com ou envie um e-mail para: maria@shetravelclub.com, julia@shetravelclub.com, valerie@shetravelclub.com
*Cecília Fazzini e Paulo Atzingen são jornalistas