por Vivian Wolff*
Vivemos em uma era de muita competição no mundo corporativo, fazendo com que as pessoas abdiquem de suas vidas pessoais para produzir mais, ganhar destaque em suas carreiras e garantir o conforto de suas famílias. Mas de que adianta tanto tempo de trabalho se a pessoa mal consegue usufruir da “boa vida” que oferece à família?
Este dilema carrega um conceito que desafia a todas as pessoas que trabalham – estejam elas conscientes desse desafio ou não. Quando o tempo que precisamos dedicar à vida profissional “invade” o tempo da vida pessoal, surge a necessidade de conciliar esses dois aspectos, desenvolvendo estratégias que acomodem o equilíbrio entre ambas. É difícil, mas não impossível.
Não existe uma fórmula universal que funcione para todas as pessoas, afinal, cada indivíduo é único e tem recursos e situações particulares. A única coisa certa é que um dia tem apenas 24 horas. Como e onde você dedica esse tempo é uma questão de prioridade e disciplina.
É preciso aceitar que essa situação existe e precisa de atenção, porque ela tem um impacto na sua vida pessoal e profissional (e nas vidas das pessoas que dividem esses espaços com você). O mais importante é conhecer a você mesmo em profundidade, para poder elencar suas prioridades e fazer escolhas certas, sem correr riscos mal calculados em nenhuma das esferas de sua vida.
Definição de prioridades
A primeira pergunta a ser respondida é: o que eu quero alcançar na minha vida profissional e pessoal?
A segunda é: quais são as atividades que eu desempenho diariamente na minha rotina profissional e pessoal?
Responder às questões propostas não é simples e nem mesmo rápido, e exige que o indivíduo esteja disposto a ir fundo nessa atividade. Liste as coisas que faz, os papéis que desempenha e analise sua agenda de compromissos para identificar onde seu tempo está, de fato, sendo empregado.
Sem essa base de informações precisas fica muito difícil estabelecer as prioridades, porque, para isso, é preciso separar suas atividades em três grupos:
(1) Atividades que podem ser desempenhadas por outras pessoas e que devem ser atribuídas a outras pessoas;
(2) Atividades que sejam puros “ladrões de tempo” e que devem ser eliminadas;
(3) Atividades que só podem ser realizadas pelo próprio indivíduo.
A partir dessa seleção, basta organizar as atividades do grupo 3 em ordem de importância. Pode-se até atribuir uma nota de acordo com a importância da atividade, para ficar bem clara a ordem de prioridade. Por fim, é necessário confrontar os dois outros grupos, alinhando o que pode ser descartado da sua rotina e o que pode ser delegado a outras pessoas. É preciso reforçar que esse exercício exige coragem e disciplina, como qualquer processo de mudança que desejamos implementar em nossas vidas pessoais e profissionais.
Como evitar que a tecnologia nos isole do mundo real
A dimensão que a tecnologia ocupa no mundo atual torna essa separação cada vez mais difícil. Os smartphones e os aplicativos facilitaram tarefas, encurtaram distâncias, mas, por outro lado, nos tornaram disponíveis o tempo todo, e em qualquer lugar. É necessário delimitar espaço e tempo em que estejamos off-line, para que possamos nos dedicar à presença e atenção requeridas, seja da família ou de amigos.
Qual é a importância de saber relaxar e descansar
Voltando ao fato inquestionável de que o dia só tem 24 horas, é preciso lembrar que esse é o tempo bruto de que dispomos. O tempo líquido deve ser o que sobra ao descontarmos dessas 24 horas o tempo que deve ser dedicado à atenção de nossas necessidades fisiológicas e de saúde e bem-estar. E o conceito de bem-estar integra as dimensões física, mental, social e intelectual, bem como o propósito de vida de um indivíduo. Por isso, é imprescindível incluir, na lista de prioridades, atividades que atendam a essas dimensões da saúde, tais como sono, alimentação, exercícios físicos, encontros com amigos e pessoas queridas, boas leituras, música, cinema, lazer. A meditação desempenha um papel importante no equilíbrio pessoal e contribui para o relaxamento e o descanso em um nível mais profundo. Algumas modalidades de meditação, como a atenção plena ou mindfulness, podem ser aprendidas e praticadas pelo indivíduo em sua casa, até mesmo numa pausa do trabalho, e vêm apresentando resultados comprovados cientificamente.
A importância de definir metas
Mais importante do que definir as metas, é estabelecer objetivos e selecionar atividades que conduzam a eles e que possam ser implementadas de forma realista na agenda do profissional. Quando falamos de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, é comum o indivíduo, ao perceber que precisa fazer mudanças nesse sentido, fazer planos como acordar mais cedo, fazer ginástica, cozinhar alimentos saudáveis em casa, sair do trabalho mais cedo, ficar com a família, ler um bom livro e estar na cama a tempo de dormir, pelo menos, 8 horas por noite. Tudo isso pode parecer ideal. Mas dificilmente é possível implementar um plano tão perfeito de uma vez e fazê-lo funcionar. Sempre há imprevistos, como uma viagem a trabalho, um atraso motivado pelo trânsito ou algo que desmorona a estrutura toda. Daí vem a desmotivação, e a mudança não acontece. Num processo de mudança sustentável, a análise cuidadosa das alternativas de ações acaba por constituir um Plano de Ação que vai ser implementado aos poucos, através da experiência e da reflexão sobre os resultados da experiência realizada. As experiências bem-sucedidas vão sendo inseridas pouco a pouco na rotina e tendem a ser implementadas definitivamente aquelas que melhor se adequam à vida real e aos recursos disponíveis que o indivíduo possui. Definir um número semanal de horas de exercícios físicos permite uma distribuição flexível e mais realista do que matricular-se na aula de spinning das 19h30 todos os dias, por exemplo. O importante é avaliar constantemente o que está sendo feito versus objetivos e prioridades estabelecidos.
*Vivian Wolff, Coach de Vida e Carreira pelo Integrated Coaching Institute (ICI); formada em Mindfulness pela Georgetown University Institute for Transformational Leadership, Washington DC; com MBA em Marketing Estratégico pela University de Catalunya, Barcelona