Viver em Santos e Região
No último dia 10 de outubro, sopramos velinhas para o complexo industrial que faz a Baixada Santista funcionar, que dá energia e vida à região: a Usina Hidrelétrica Henry Borden, localizada no sopé da Serra do Mar, na Vila Light, em Cubatão.
Desde o fim do Século XIX a canadense Light cuidava da iluminação e fornecimento de energia dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Tudo transcorria às mil maravilhas para a empresa quando em 1924 ocorreu uma grande seca em todo o Estado de São Paulo, causando a diminuição do nível dos rios e reservatórios que alimentavam as pequenas usinas da empresa e obrigando-a a realizar longos e significativos cortes no abastecimento de energia. A situação rapidamente se encaminhava para o caos e toda a sociedade exigia uma resposta da light. Foi aí que surgiu o “Projeto da Serra” e entrou em cena o genial engenheiro americano Asa White Kenney Billings, para construir uma nova usina hidrelétrica super poderosa, capaz de fornecer energia para praticamente todo o Estado. O primeiro passo era achar o local ideal para a construção e após alguma pesquisa Billings decidiu pela cidade de Cubatão por 3 motivos: ficava entre as 2 mais importantes cidades do Estado (São Paulo e Santos), ficava bem próxima ao complexo ferroviário que viabilizaria um transporte mais rápido e eficiente dos materiais para as obras e o mais importante, tinha um desnível de 720 metros entre o topo da serra e o nível do mar. Numa sacada genial, Billings propôs alterar o curso do Rio Pinheiros (que corria rumo ao interior) para desviá-lo até um enorme reservatório artificial que viria a ser construído próximo da foz do Rio das Pedras. Desse reservatório, a água desceria por enormes tubos até as turbinas que gerariam a energia. É nesse ponto que a grande altura de 720 metros faria toda a diferença. A água desceria com tamanha velocidade e pressão que geraria muita energia com bastante eficiência e pouco gasto. É esse sistema que você enxerga quando olha para a Serra do Mar e vê aqueles enormes tubos brancos paralelos que a cortam de cima abaixo.
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Assim, Asa Billings deu início às obras daquela que por muitos anos foi a principal geradora de energia do Estado de São Paulo. As atividades começaram oficialmente em 10 de outubro de 1926, com a inauguração do 1º gerador com 2 turbinas. A partir daí, até 1950 foram inaugurados mais 7 geradores, cada um também com 2 turbinas, perfazendo uma capacidade total de 469 mw. Porém, a usina possui um sistema coringa, pensado para evitar a paralisação do fornecimento em caso de grandes calamidades, inclusive bombardeios. Trata-se de uma segunda usina subterrânea com 6 geradores, construída num enorme túnel de 120 m de comprimento, 21 m de largura e 39 m de altura, escavado no maciço rochoso da Serra do Mar. Essa “usina reserva” possui capacidade operacional de 420 mw.
Essa capacidade de geração de 889 mw é suficiente para abastecer toda a Baixada, Litoral Norte e praticamente toda a grande São Paulo. Porém, nem tudo são flores com o crescimento da Capital seus rios foram se tornando cada vez mais poluídos, o que tem um efeito negativo muito especial em relação ao Rio Pinheiros uma vez que o reservatório da usina também servia para o abastecimento de água de consumo da grande São Paulo. Diante disso, numa não muito bem sucedida tentativa de conter o avanço da poluição, a captação de água para funcionamento da usina foi drasticamente limitada por lei a partir de 1992, passando a operar com apenas 25% de sua capacidade total, exceto no verão, onde o bombeamento de água é retomado e a Usina pode operar com capacidade plena.
Henry Borden foi presidente da Light a partir de 1946 e realizou importantes obras e investimentos na geração de energia no Estado. Seu nome foi dado à usina após sua morte, que até então era conhecida apenas como usina de Cubatão. Asa White Kenney Billings teve seu nome eternizado no reservatório artificial que criou. Sim, estamos falando da famosa represa Billings.