Na abertura do 23º Salão Paranaense de Turismo, ocorrida na última quinta-feira (16), o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, deu uma lição de História Paranaense
Por Paulo Atzingen (de Curitiba)* (Publicado originbalmente em 23 de março de 2017)
No país da patacoada, da piada pronta e da Lava-Jato, algo de novo acontece novamente sob o Trópico de Capricórnio e novamente vem do Paraná.
Na abertura do 23º Salão Paranaense de Turismo, ocorrida na última quinta-feira (16), o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, desbancou o cerimonial, descumpriu a encenação tola que todo evento se reveste para dar uma lição de História Paranaense. Em que pese contra ele algumas declarações polêmicas e controvertidas que o fizeram ser amado e odiado por muitos, nesta noite Greca no mínimo se redimiu junto a possíveis desafetos. E usou novamente como arma a palavra.
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De fato, em 15 minutos ele colocou políticos, burocratas e até poetas e visionários no bolso sem recorrer a powerpointer, teleprompter ou calhamaços de discursos previamente elaborados.
Com um corpanzil proporcional à caixa craniana que carrega sobre os ombros, Greca teve dificuldades em subir os degraus do palco e, sabe-se, que atravessou um recente período de convalescença logo após tomar posse, em janeiro deste ano. O corpo de Greca, com toda a certeza, não faz inveja aos jovens da academia, mas a mente e a sensibilidade do homem bate Usain Bolt nos 100 metros rasos.
Alvorecer dos Pinhais
Greca foi surpreendente quando, ao pegar o microfone, ao invés de seguir a avenida pavimentada do discurso pronto de prefeito eleito, atalhou, preferiu caminhar na estrada da narrativa, na trilha das descrições, atraindo todos para um mergulho nos rios do Paraná, para uma viagem ao “alvorecer dos pinhais”…
O discurso do prefeito vestiu-se de uma sinceridade impar, pois não se respaldou em números, em frases alheias ou possíveis feitos do que já fizera – esquema dos discursos tradicionais – mas fez um voo sobre as principais regiões turísticas do estado com o calor de quem vivera nela, experimentara a sua comida, bebera a sua bebida, falara a sua língua e não apenas a sobrevoara…
Greca citou quilombos, monjolos, deu guarida em seu discurso a fatos econômicos que mudaram a história do Paraná, como a estrada de ferro, lembrou dos tropeiros, do barreado e citou, praticamente todos os atrativos não só turísticos do Paraná, mas sociais, políticos e culturais…
Como um alfaiate que une recortes de um tecido utilizando uma linha fina, quase transparente, Greca uniu as 17 regiões turísticas do Paraná em uma só tacada e – usando sua técnica de orador intercalando um ritmo em prosa e verso, tocou no coração de todos aqueles que, mesmos engravatados e sem tempo, algum dia sentiram o cheiro de sua terra, a água de seus rios, a força de suas cataratas, a beleza de seus campos gerais, presenciaram “a cor da aurora entre os Pinhais…”
Quem ouviu Greca nesta noite, em algum momento sentira o desejo de dizer: “eu sou do Paraná”.
O orador foi aplaudido de pé.
* O jornalista Paulo Atzingen viajou a Curitiba convidado pela ABAV do Paraná