O real digital tem o potencial também de se converter em ferramenta para combate à lavagem de dinheiro
A economia e as transações econômicas no Brasil e no mundo estão em constante transformação. Do papel-moeda passamos para o cartão de crédito, daí para o Pix e, agora, no País se estuda o lançamento do real digital.
Segundo artigo de Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, publicado na Folha de São Paulo deste domingo (16), o BC (Banco Central) tem funcionado como um propulsor da inovação no setor financeiro. Além do Pix, está em curso também o LIFT (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas). Trata-se de uma plataforma de lançamento de outras inovações com potencial transformador. A novidade cria desafios relacionados a um tema específico e empresas e consórcios apresentam propostas sobre como melhor resolver a questão.
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O objetivo é a criação de real digital. Esse real pode ser criado como uma criptomoeda estável (stablecoin) cujo valor é atrelado à nossa moeda. A diferença é que já seria criado dentro do guarda-chuva regulatório do BC, atendendo aos requisitos normativos aplicáveis ao setor financeiro. Seria um passo importante no sentido de haver no Brasil uma CBDC (moeda digital emitida pelo Banco Central).
“O real digital muda muita coisa. Por exemplo, ele não precisa ficar depositado em uma instituição financeira. Pode ser custodiado pelos próprios usuários, que em tese não precisariam nem ter conta em um banco”, escreve Lemos. Segundo ele, o real digital poderá circular sem fronteiras, podendo ser comprado, vendido ou usado como meio de pagamento com alcance global. Assim, alguém que viaja ao exterior poderia carregar sua carteira digital com reais digitais, no próprio celular, e fazer pagamentos ou mesmo converter e sacar dinheiro em outras moedas a partir dela.
O diretor do Instituto escreve que o real digital abre as portas também para ser usado em contratos inteligentes e até mesmo em organizações autônomas descentralizadas. Seria possível, por exemplo, criar uma modalidade automática de pagamento de salário por “streaming”. Em vez de ter o salário pago mensalmente, o trabalhador poderia receber um fluxo contínuo de dinheiro, depositado automaticamente na sua conta a cada segundo, proporcional ao pagamento mensal.
Combater a lavagem de dinheiro
Além disso, o real digital tem o potencial também de se converter em ferramenta para combate à lavagem de dinheiro. A tecnologia permite a criação de aplicações que monitoram os fluxos financeiros, com mais detalhes e alcance que os fluxos em dinheiro convencional, podendo ao mesmo tempo preservar a privacidade nos termos da Lei Geral de Proteção de Dados.
A chamada feita pelo LIFT foi atendida com sucesso. Várias empresas apresentaram projetos e nove foram selecionados. Todos interessantes, inclusive provenientes de bancos (Itaú e Santander), bandeiras de cartão de crédito (Visa) e de novos atores como o Mercado Bitcoin.
EDIÇÃO DO DIÁRIO – Com informações da Folha de São Paulo