Renato Franklin, CEO da Movida: “Compromisso com a eficiência do negócio e com a descarbonização”

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“Em abril deste ano a Movida Rent a Car investiu cerca de R$ 100 milhões na compra de 250 veículos elétricos da BYD, reforçando a nossa posição como a locadora com a maior frota de carros a passeio totalmente elétricos do Brasil”, afirma Renato Franklin, CEO da Movida, ao DIÁRIO. Nessa longa entrevista, da série ‘Entrevista Presidencial’, o executivo fala praticamente de  todas as áreas que envolvem uma locadora de automóvel oferecendo ao leitor uma perspectiva muito mais ampla a respeito das empresas de aluguel de carro.
A Movida Rent a Car é a segunda maior locadora de automóveis do país. Faz parte da Simpar, holding que também controla a JSL.  Além do aluguel de carros, a Movida oferece Gestão e Terceirização de Frotas e, adicionalmente, comercializa seus carros seminovos.
Administrador de empresas, contabilista e especialista na área de gestão de pessoas, Renato Franklin nasceu em Belo Horizonte (MG) e tem 40 anos. Está na Movida desde 2013, depois de 10 anos na Vale S.A. e passagem rápida pela Suzano Celulose. A seguir a entrevista completa, concedida aos editores do DT, jornalistas Gabriel Emídio e Paulo Atzingen.

DIÁRIO – A que o senhor atribui o crescimento rápido e vigoroso da Movida, nos seus 15 anos de existência?

Eu atribuo o crescimento da Movida ao nosso jeito de trabalhar, que é abastecido por ideias, bastante empenho, atitude de dono, ética e olhar consciente e crítico. A Movida surgiu no mercado pautada por um jeito ágil de fazer negócios, atento às necessidades dos clientes e às novidades nos campos tecnológico e de prestação de serviços. Isso, somado ao compromisso corporativo com a agenda social, ambiental e de governança nos dá capacidade de execução, com visão de futuro.

A ousadia para buscar a inovação e oferecer novidades com qualidade e sem complicações torna nosso atendimento diferenciado, contribuindo para um relacionamento contínuo com o cliente, e isso reflete nos resultados.

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Na governança, nossas prioridades são o profissionalismo e a transparência nas decisões sobre o negócio. Em termos de expansão, seguimos o plano de crescimento orgânico e inorgânico, em sintonia com as diretrizes de nossa holding Simpar e o planejamento estratégico traçado por nosso Conselho de Administração.

Em 2021, abrimos 21 lojas, realizamos 1.700 contratações e amadurecemos nossos novos produtos, como o Movida Zero KM, de carros por assinatura, e o Movida Cargo, de locação de veículos utilitários para empresas. Também tornamos nosso negócio de Gestão e Terceirização de Frotas (GTF) mais robusto, com a incorporação da CS Frotas e aquisição da Vox, que trouxe novos contratos e incrementou nosso portfólio. Essa complementaridade de negócios é um diferencial competitivo.

DIÁRIO – O que tem levado as pessoas físicas a optarem pelo aluguel de carro? Essa é uma tendência inexorável ou nem tanto?

O mercado de aluguel de carros tem crescido muito no Brasil, ainda que seja bastante subpenetrado. As pessoas vêm mudando de hábito, conhecendo mais o aluguel de carros e considerando esse tipo de serviço como uma alternativa de mobilidade. A pandemia acentuou essa tendência. Com o trabalho flexível, viagens que seriam possíveis apenas aos finais de semana, por exemplo, passaram a ser feitas durante outros dias.

A pandemia fez com que as pessoas migrassem do transporte coletivo para o individual e, uma vez que elas conhecem o aluguel de carros, veem uma alternativa com custo bastante racional, que viabiliza diferentes tipos de trajeto, seja de lazer durante um final de semana ou de trabalho, com vários deslocamentos, onde se ganha eficiência e diluição dos custos.

Além disso, o aluguel possibilita o acesso a veículos desejados pelo consumidor, mas que são muito caros para se adquirir. O SUV, por exemplo, está tomando gosto no varejo, porque o brasileiro quer carros modernos e bem equipados. A Movida foi estratégica ao entender essa necessidade, diferenciando-se da concorrência ao investir bastante na renovação do catálogo, tornando-se a maior compradora de carros do Brasil e a locadora com a frota mais nova e moderna do país, que encanta o consumidor e atrai novos clientes.

O carro por assinatura, produto que trouxemos em 2017 e que se tornou totalmente digital em 2020, durante a pandemia, também cresce bastante e tende a ser um dos maiores mercados de aluguel de carros no futuro. O fundamento do setor de locação como um todo continua muito forte e veremos bastante desenvolvimento pela frente.

DIÁRIO – Na ‘ponta do lápis’, alugar um carro por mês ou de forma continuada é mais vantajoso do que ter um carro?

Com a modalidade de assinatura, o interessado tem acesso a um carro exclusivo, um modelo novo e com tecnologia, e pode mudar o propósito de vida do cliente por 12 meses. A assinatura permite trocar despesas de aquisição e demais gastos fixos (como licenciamento, IPVA, manutenção) por uma mensalidade que inclui todos os custos.

O público típico que opta pela assinatura é o jovem, com maior desapego do bem que está mais interessado na usabilidade e menos na posse.

O potencial de crescimento da modalidade é gigantesco. Em vez de avaliar o preço total do veículo, a pessoa vê se a mensalidade cabe no bolso dela.

DIÁRIO – O crescimento da gestão e terceirização de frota tem relação com o sucesso crescente do e-commerce e dos motoristas por aplicativos?

Com certeza. O e-commerce tem crescido bastante, especialmente desde o início da pandemia. Com isso, cresce também a demanda por soluções logísticas que otimizem a entrega dos produtos comprados pela internet. Cada vez mais empresas percebem que o aluguel é mais eficiente do que comprar uma frota própria e, assim, a terceirização surge como uma alternativa para ganhar escala sem custos com aquisições.

Outra solução que oferecemos é o aluguel de veículos utilitários pelo Movida Cargo, voltado para motoristas autônomos responsáveis pelo last mile, que é a parte final do trajeto de entrega, geralmente feita por carro. Assim, esses entregadores ganham eficiência, melhorando as entregas e impulsionando as vendas do varejo.

DIÁRIO – Qual o perfil básico das pessoas físicas que alugam carros?

Diferentes públicos optam pelo aluguel. Percebemos um interesse cada vez maior pelos carros elétricos. Os clientes têm curiosidade e querem experimentar esses modelos. Outra mudança no perfil do consumidor é o aumento da procura por SUVs, principalmente por famílias que buscam mais espaço e conforto. As viagens de lazer, que ficaram mais longas devido ao home office e flexibilização do trabalho, também fizeram com que crescesse a busca por carros maiores, mais confortáveis e com mais espaço para bagagem.

DIÁRIO – Que diferenciais relevantes a Movida apresenta ao mercado, na sua estratégia de expansão?

Temos como base da nossa estratégia a expansão orgânica e geográfica, com foco no cliente e na rentabilidade. Trabalhamos para potencializar as sinergias e cross-selling entre nossos diferentes segmentos de negócios e ampliar nossa presença em todas as regiões do país, além de lançar produtos e ampliar canais com foco em inovação. Tudo isso com disciplina financeira e eficiência operacional que garantam a melhoria contínua dos resultados.

Desde 2020, somos uma Empresa B certificada, o que significa que trabalhamos para gerar benefícios concretos e mensuráveis aos públicos com os quais nos relacionamos. E, na condição de integrantes pelo terceiro ano consecutivo do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), buscamos amadurecer nosso modelo de gestão e comunicação com o mercado, dialogando com transparência sobre nossos desafios, riscos e oportunidades.

Apesar de termos sido a empresa com maior crescimento em frota durante o ano passado, há um desafio, que é o déficit de veículos para o setor de locação – em 2021, esteve em 600 mil carros, segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA).

A indisponibilidade de veículos zero e o aumento geral de custos impactam os valores médios de locação no mercado brasileiro. Trabalhamos para ter uma frota jovem, renovada e diversificada, e estamos atentos à crise de semicondutores da indústria automotiva, mas também de olho em oportunidades, como o avanço no modelo de carros por assinatura.

O segmento GTF é outro com oportunidades de crescimento. A incorporação da unidade de frotas da CS e a compra da Marbor Frotas Corporativas, em dezembro de 2021, e da Vox, nos primeiros meses do ano, reforçam nossa crença na oferta de serviços qualificados, capturando as transformações nas cadeias de valor das organizações.

DIÁRIO – Fale sobre a capilaridade da Movida em território brasileiro, a estrutura logística por trás da operação e o resultado financeiro dos últimos três anos.

Estamos presentes nos quatro cantos do país, com lojas em praticamente todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. Falta chegar ao Amapá. No primeiro trimestre deste ano, inauguramos nove lojas, chegando a 185 unidades, e nossa frota alcançou mais de 191 mil veículos com a compra de 21 mil novos carros entre janeiro e março, reforçando nossa posição como a locadora com a frota mais nova do Brasil.

A Movida vem crescendo exponencialmente nos últimos anos e isso é resultado de uma gestão sólida, cuja estratégica de negócios é pensada a longo prazo. Estamos há um ano reportando recordes sequenciais, trimestre a trimestre. Transformamos a companhia e somos hoje a que mais cresce no setor e a que mais evoluiu em rentabilidade.

No 1T22, superamos pela primeira vez a marca de R$ 2 bilhões em receita bruta, recorde para um único tri, crescimento de 138,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita líquida na locação de veículos totalizou R$ 992 milhões, um crescimento de 87,1% na comparação anual. O lucro líquido foi de R$258 milhões, evoluindo 136% ano a ano com margem de 13%.

Temos hoje um patamar de R$ 8 bilhões de receita bruta e R$ 1 bilhão de lucro líquido quando analisamos os resultados do 1T22. Isso é só o começo do que ainda está por vir neste ano e nos deixa ainda mais confiantes com o nosso posicionamento.

Renato Franklin: “Chegamos a um novo patamar, com opcionalidade e seletividade em comprar carros, e ainda vamos colher os benefícios desse crescimento” (Crédito: Germano Lüders)

DIÁRIO – Em gestão e terceirização de frota, qual a participação da iniciativa privada e do poder público nos negócios da Movida?

Em Gestão e Terceirização de Frotas (GTF), encerramos o trimestre próximos a 96 mil carros, correspondendo a 50% da frota da companhia, o que traz mais estabilidade aos resultados futuros. A receita bruta da unidade evoluiu 140% ano a ano, devido a movimentos inorgânicos, como a incorporação da CS Frotas – líder do setor de empresas públicas e organizações de economia mista -, e as aquisições da Vox e Marbor – sendo a última, concluída em 04 de abril de 2022 – além do crescimento orgânico, especialmente no Movida Zero KM.

DIÁRIO – Sob sua gestão, em 2017 a Movida realizou o seu IPO (Initial Public Offering). O que mudou, a partir desse advento?

A jornada até aqui foi de forte crescimento, necessário para que atingíssemos uma escala que nos desse condições de competir com qualquer outro player. Hoje, temos essa escala, com uma frota de quase 200 mil carros. Compramos 6,5% dos veículos novos disponíveis nas montadoras e estamos liderando essa tendência no mercado. Tivemos a maior expansão do setor e fomos a única locadora a renovar a frota, que hoje possui idade média inferior à nove meses.

Chegamos a um novo patamar, com opcionalidade e seletividade em comprar carros, e ainda vamos colher os benefícios desse crescimento. Hoje, temos o menor custo por veículo e a maior produtividade do setor, com ganho de 15 p.p, além de termos a maior margem em todas as unidades de negócio, crescimento com rentabilidade e liderança no ASG. Do IPO para cá, transformamos nossos resultados e somos outra empresa, fruto do nosso planejamento e da nossa capacidade de execução.

Nossa estratégia sempre foi ter um olhar atento para aquilo que o cliente quer, para atender qualquer tipo de necessidade, desde oferecer carros automáticos, com ar condicionado, à compactos desejados, como HB20, ou com mais espaço, como os SUVs. Além disso, focamos em inovação e tecnologia, com avanços no digital e adoção de funcionalidades como web check-in e e-commerce de seminovos.

Também avançamos em questões de sustentabilidade, com o programa Carbon Free, e hoje temos a maior frota de veículos de passeio totalmente elétricos do país, sendo líderes, assim como fomos com a linha premium no início da nossa jornada. Temos a frota mais nova do Brasil e é isso que o cliente quer. Nosso crescimento parte dessa estratégia.

DIÁRIO – Quais ferramentas de comunicação e marketing são determinantes para dar visibilidade e resultar em conversões de vendas?

Temos uma estratégia “fidigital”, uma mistura de físico com digital, que é um diferencial para a ativação da marca e na conversão em vendas da Movida. Usamos o OOH como mídia offline para localizar geograficamente a demanda e a mídia online para oferecer os canais de venda, como nossos site e app, além da experiência física na loja, como durante a entrega do produto.

DIÁRIO – O que a Movida faz para manter e elevar o grau de satisfação do cliente?

Nosso ponto de partida é sempre estar por dentro das demandas e necessidades dos nossos clientes. O setor de locação é uma novidade para muitas pessoas e atuar nesse campo significa estar atento às rápidas mudanças das tendências e demandas, bem como ter agilidade para trazer soluções inovadoras.

O caminho para garantir um ótimo atendimento exige ferramentas e iniciativas voltadas a observar, escutar e impulsionar. Em 2021, aceleramos nossa frente de atendimento digital, tornando nossos processos mais ágeis e adequados à restrição do contato presencial.

Conquistamos avanços relevantes para otimizar o tempo de retirada e devolução de veículos, reduzir o uso de papel e superar obstáculos burocráticos. Hoje oferecemos a possibilidade de realizar 100% das etapas do processo de locação de forma digital, incluindo reserva, check-in e assinatura.

A experiência dos clientes da Movida Seminovos também se transformou com a ampliação das nossas frentes digitais. Em 2021, implementamos em algumas lojas a venda 100% online, com entrega do veículo em casa. Além disso, o atendimento via WhatsApp passou a ser oferecido por todos os nossos vendedores.

Também é fundamental mensurar a satisfação dos nossos clientes para identificar pontos de melhoria e procedimentos que se mostraram bem-sucedidos no atendimento. Nessa frente, contamos com ferramentas e indicadores, como o Contact Rate (CR), que envolve a soma de contatos, ligações e interações, o First Call Resolution (FCR), Tempo Médio de Solução (TMS) e dados obtidos via Reclame Aqui, além de benchmarkings e das metodologias Net Promoter Score (NPS) e Voice of Consumer (VOC).

DIÁRIO – Qual o papel do turismo receptivo no andamento das vendas de serviços de mobilidade oferecidos pela Movida?

O turismo receptivo exerce um papel muito importante na oferta de soluções em mobilidade, especialmente no aluguel de carros. Um exemplo simples para entender isso é como o setor de locação ficou aquecido com a retomada das viagens turísticas, após a flexibilização das restrições contra a Covid-19, principalmente para destinos nacionais, cuja locomoção é ainda mais fácil por carro. O auge da pandemia foi um período desafiador, mas o avanço da vacinação contribuiu para a volta gradual da normalidade. Isso estimulou o aluguel de carros nos centros turísticos e nas grandes cidades do país, indicando que a locação é uma solução tanto para o lazer quanto para o cotidiano. Não à toa, durante 2021, experimentamos um crescimento de mais de três dígitos em receita, em comparação ao ano anterior.

DIÁRIO – Como a Movida enxerga a evolução dos carros elétricos e até mesmo a perspectiva dos automóveis autônomos?

A Movida tem o compromisso de incentivar o aluguel de veículos híbridos e elétricos e fomentar a discussão sobre a viabilidade econômica e operacional de uma frota eletrificada. Nosso compromisso é, ao mesmo tempo, com a eficiência do negócio e com a descarbonização, uma necessidade no cenário das mudanças do clima e da saturação do modelo de combustíveis fósseis.

Em abril deste ano, investimos cerca de R$ 100 milhões na compra de 250 veículos elétricos da BYD. Isso reforça a nossa posição como a locadora com a maior frota de carros a passeio totalmente elétricos do Brasil, que consolidamos em 2021, quando anunciamos a aquisição de outras 150 unidades do Leaf em uma aliança comercial com a Nissan – mesmo modelo do qual adquirimos 70 carros em 2020.

Não dá para discutir mobilidade elétrica sem falar sobre infraestrutura. Em dezembro, inauguramos nossa primeira loja conceito voltada a carros movidos a eletricidade, na Marginal Tietê, em São Paulo. O espaço disponibiliza carregadores de alta velocidade, inclusive um ultrarrápido, que permite a carga completa em apenas 40 minutos.

 

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