Ribeira Sacra é uma das regiões vinícolas espanholas e está localizada na Galícia, cujo reconhecimento vem sendo alcançado há pouco tempo, principalmente pela qualidade de seus vinhos.
Por Werner Schumacher*
Na Ribeira Sacra há aproximadamente 2.500 ha de vinhedos, que desafiam as grandes dificuldades topográficas, com declives acentuados entre 50 e 70%, quando o mínimo exigido para ser caracterizada como viticultura heroica é 30%.
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Nessas impressionantes condições, a mais de 500 metros de altitude acima do nível do mar, esses sofridos viticultores, colhem os frutos nas vinhas consideradas as mais perigosos do mundo.
A dificultosa vindima é muito mais do que um espetáculo de risco, como se pode ver nesse vídeo:
Ribeira Sacra é uma das regiões vinícolas espanholas e está localizada na Galícia, cujo reconhecimento vem sendo alcançado há pouco tempo, também pela qualidade de seus vinhos.
Eric Asimov e Robert Parker Jr colocaram a Ribeira Sacra no mapa-mundi do vinho, dizem alguns.
Considerada a vinícola mais antiga da Ribeira Sacra, a Ponte da Boga, surgiua em 1898, é também a 2ª maior da região. Aqui você não só encontrará um escritório de vinhos, mas também organizará degustações, visitará as instalações, conhecerá os vinhedos ao pé da videira e aprenderá sobre a história do vinho mais heroico da Espanha. Há aproximadamente 100 vinícolas.
Outra característica da Ribeira Sacra é que 80% de seus vinhos são tintos, dos quais 70% é elaborado a partir da uva Mencía e 10% de outras uvas especiais e mais difíceis, como Merenzao e Brancellao. 20% são de uvas brancas com predomínio da Godelho. Como sabemos, a Galícia é muito conhecida pelo seu Albariño ou Alvarinho em português
Os monjes, os precursores
Pode-se afirmar, que sem a presença monacal na Ribeira Sacra não haveria hoje viticultura e nem a denominação de origem que hoje tem 24 anos de existência, constituída por um intricado quebra-cabeça de 41 mil pequenas vinhas.
Os monges impulsionaram o cultivo da videira desde o Século VI, nas empinadas margens dos cânions dos Rios Sil e Minho, com declives que chegam a impressionantes 70% e o foram pela natureza abrupta e beleza selvagem, o lugar escolhido para retiro espiritual pelos primeiros cristãos, cenobitas, monges beneditinos e todos os tipos de religiosos que procuravam lugares longe do barulho mundano para louvar a Deus.
Um lugar criado por deuses, onde se leva uma vida heroica e se louva a Deus, tem que ser mesmo Patrimônio da Humanidade.
A Ribeira Sacra é uma região muito pequena, produz aproximadamente 4 milhões de garrafas por ano.
Mas a Ribeira Sacra não é só vinho, como os belvederes formados por Juno
Seguindo pela margem norte, em Lugo, os mais importantes são os da Cividade, que parece olhar para o abismo, Boqueiriño e Cadeiras, a cerca de 400 metros acima do nível do mar.
Enquanto na margem sul, em Ourense, os mais conhecidos são Cabezoás, que está suspenso no ar, Balcones (varanda) de Madri, um dos mais famosos, e o de Vilouxe, que provavelmente oferece uma das mais belas vistas de toda a Ribeira Sacra.
A vida monástica nos mosteiros de Ribeira Sacra
A rota dos mosteiros também é conhecida como a rota românica da Ribeira Sacra, por isso já se pode imaginar o estilo arquitetônico que todos eles seguiram. Existem muitos mosteiros, assim como igrejas, embora em diferentes estados de conservação.
Entre todos eles temos três são fundamentais!
Mosteiro de San Pedro de Rocas – Acredita-se que surgiu em 573 e pode ser o mais antigo da Galicia. Tem a peculiaridade de ser escavado em pedra de granito e ao entrar na igreja você tem a sensação de entrar em uma caverna primitiva, e mesmo no chão de pedra há vários túmulos esculpidos. Embora seu estado de conservação não seja tão bom quanto gostaríamos, seu valor histórico e antropológico é inigualável.
Mosteiro de Santa Cristina de Ribas de Sil – A data de sua fundação é desconhecida, documentos apontam para o século IX. Sua localização em uma floresta de carvalhos perto da margem sul do Sil é mágica e duas asas do claustro do mosteiro foram preservadas. A igreja é do século XII e mistura estilos românico e gótico, mantendo dentro de afrescos. Embora seja abandonado, está bastante bem conservado.
Mosteiro de Santo Estevo de Ribas de Sil – É uma das mais espetaculares, por tamanho e localização. Está completamente restaurado e perfeitamente preservado porque agora faz parte da rede de Paradores Nacionales, mas não perdeu seu encanto. O mosteiro pode ser visitado, com seus três claustros (Barroco, Gótico e Renascentista), assim como sua igreja. Há também visitas dramatizadas.
Um passeio de barco no rio Sil
E não haveria uma visita completa à Ribeira Sacra se não aproveitássemos para navegar nas águas dos rios Sil ou Minho. Em ambos os rios há vários píeres com barcos e catamarãs para fazer uma travessia tranquila do rio.
No rio Sil, encontramos os molhes de Santo Estevo (Nogueira de Ramuín), Abeleda (A Teixeira), Doade (Sober) e Los Chancís (Sober).
No rio Minho encontramos o Belesar (Chantada) e o Peares (A Peroxa).
Os passeios estão sujeitos ao nível da água dos rios e reservatórios, mas geralmente são feitos regularmente.
As caminhadas duram entre uma hora e meia e duas horas, e você não terá uma perspectiva melhor da Ribeira Sacra do que das águas de seus rios. Daqui pode-se descobrir vinhedos antigos, quase esquecidos, embora muitos deles sejam explorados, em terraços de uma verticalidade impossível, onde só há acesso pelo rio, de modo que a colheita é coletada em pequenos barcos.
A Ribeira Sacra no Roteiro Transromânico Europeu
Em sua busca para ser reconhecida como Patrimônio da Humanidade, a Ribeira Sacra passou a fazer parte do Roteiro Transromânico Europeu, que está formado atualmente por doze regiões pertenecentes a 9 países europeos. Os países que integram essa rede cultural são España, Portugal. Francia, Alemania, Italia, Austria, Serbia, Eslovaquia y Rumanía.
Se esse pequeno resumo não é o suficiente para que a Ribeira Sacra o reconhecimento de Patrimônio da Humanidade em 2021, que Hércules venha e mostre ao mundo o quanto heroico é esse povo.
A lenda
A mitologia romana conta que Júpiter se apaixonou por estas terras e se tornou um rio para acariciar até a última curva, mas o ciúmes de Juno, sua esposa, a fez abrir nela uma ferida cuja cicatriz afundou na terra até limites insuspeitos, e assim nasceu o cânion. Algo nos diz que foi realmente um trabalho duro de erosão, mas de uma forma ou de outra o cânion merece toda a nossa atenção.
A origem do nome
O que não está muito claro é se a origem de seu nome se deve a estes mosteiros e a vida monástica, nesse caso viria de “Rivoyra Sacrata”, ou se tem a ver com a abundância de carvalhos (“roboyra”), uma árvore que era sagrada nos tempos celtas, e, portanto, viria de “Roboyra Sacrata”.