Descrever falas exatamente como foram ditas e transcrever números e ideias de forma verossímil e objetiva integra as qualidades do jornalismo profissional. No entanto, após assistir a apresentação do presidente da Rede Nobile de Hotéis, Roberto Bertino, na abertura do II Fórum Brasileiro de Hotéis Independentes, algo me diz que são necessários mais recursos que os simples dados objetivos.
Por Paulo Atzingen*
As diretrizes do fórum estavam bem claras: poder de compra, poder de venda, padrões operacionais, tecnologia e fidelização. Os participantes também eram grandes executivos do universo hoteleiro: No primeiro painel nomes como Roland Bonadona (CEO Bonadona Hotel Consulting), Diego Garcia (diretor de Vendas Estratégicas), Rafael Guaspari (diretor Sênior de Desenvolvimento Grupo Nobile), Phillipe Godefroit (general Manager Hotel Gran Marquise) e Moema Wertheimer (arquiteta), se destacaram. Temas como cloud computing, big data, business intelligence e sharing economy rechearam o conteúdo da palestra inaugural.
Cora Coralina
Roberto é de uma simplicidade na retórica e de uma calma na apresentação de seu projeto que não é coincidência que tornou a sua rede hoteleira em apenas 10 anos, a quarta no ranking das maiores Administradoras Hoteleiras do Brasil em número de apartamentos. Hoje a Nobile administra 52 empreendimentos hoteleiros e esse talento para construções de concreto e aço não impediram que Roberto lembrasse de um poema de Cora Coralina, na apresentação do fórum: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.
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Inovação
Bertino trouxe para sua palestra “Como criar vantagens competitivas para seu hotel” toda a experiência de mais de 35 anos em hotelaria (ele começou a trabalhar com 14 anos no hotel do pai, em Recife) e com uma humildade genuína, falou para mais de 200 pessoas no auditório da Equipotel: “Depois de uma crise como esta não adianta ficar lambendo as feridas. O que fazer? Criar vantagens competitivas para o seu hotel”, provocou os hoteleiros, os investidores, fornecedores, consultores, proprietários de hotéis, logo no início de seu pronunciamento.
Embora o país atravesse uma das piores crises de sua história econômica, a figura do presidente de uma rede hoteleira que administra hotéis e convida hoteleiros independentes a integrar-se a seu network e participar de seu projeto pode ser interpretado como audacioso. No entanto, a história nos mostra, que todo grande projeto nasce de ideias audaciosas, arrojadas.
“A Ameris by Nobile veio para se consolidar no mercado como uma referência nacional em conceito de soft brand para hotéis independentes”, disse.
Os números que Roberto apresenta são significativos: de acordo com a pesquisa Brasil em Números 2017, realizada pela Jones Lang LaSalle, dos 537,4 mil quartos disponíveis na oferta nacional, 64,8%, ou 347,2 mil deles, são de empreendimentos independentes. Os hotéis de marcas nacionais representam 17,3% dessa oferta, ou 93,2 mil quartos, pouco atrás das marcas internacionais, com 96,3 mil apartamentos – 17,9% do share no País.
Negócio dos centavos
Compactar conhecimentos de gestão, administração, finanças, governança e saber como apresentar isso a um auditório repleto de formadores de opinião, especialistas e palpiteiros, requer boas doses de visão de conjunto e conhecimento de especificidades. Fazer análises econômicas e projeções de mercado futuro só tem credibilidade quando se entende do terreno onde se pisa. E Roberto nos passa este tipo de segurança. Não fala como um economista frívolo e que ganha pela palestra, nem fala como um apostador de mercado que joga palavras ao vento para elas criarem musculatura no mundo midiático. Fala como um hoteleiro, peão do chão de fábrica que entendeu, por anos a fio, o processo de seu negócio.
“Os quatro anos de crise nos tornaram craques em gestão de custos. Nosso negócio é dos centavos, somos extremamente cuidadosos com nossas receitas e despesas. E por isso, nosso trabalho depende 75% de gente. Nosso lema é ter pessoas certas nos lugares certos e as pessoas erradas convidamos para sair do hotel”, disse mostrando o tom firme de gestor.
As palavras inovação, vantagens competitivas, relação de transparência, reputação e outros termos carregados de significados corporativos indicaram o caminho de sua palestra. E contrariando as inúmeras falas e tendências Roberto deixou claro, que “Nosso negócio não é tecnologia, nosso negócio é hospitalidade”, acrescentando que tem empresas parceiras que cuidam do setor de TI.
Agregar valor ao seu hotel
Ao final, Roberto apresentou de forma muito objetiva as vantagens que os hoteleiros independentes vão ter quando se incorporarem ao Ameris By Nobile: manuais operacionais, canais de distribuição, vendas cruzadas, plataforma de compras, ações cooperadas preferenciais entre outras vantagens. “Queremos agregar valor, conteúdo e experiência ao seu hotel”, disse.
E citou Michel E. Porter, professor da Harvard Business School: “Segundo Porter, a vantagem competitiva advém do valor que a empresa cria para seus clientes em oposição ao custo que tem para criá-la”. O que isto quer dizer? perguntou. “É preciso criar valores, uma posição única e valiosa a seus clientes. As pessoas não estão mais comprando só marcas, estão comprando também reputação”.
NÚMEROS – A Ameris By Nobile, deverá alcançar a marca de 100 clientes até o fim de 2018. Estabelecida em abril deste ano, o serviço, que oferece marca em co-branding, padrões hoteleiros, central de compras, força de vendas, promoção e distribuição do inventário, já conta com 83 adesões desde a abertura.
*O DIÁRIO DO TURISMO é midiapartner da 56ª Equipotel
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