quinta-feira, dezembro 4, 2025
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Roraima conquista Prêmio Nacional de Turismo 2025 com protagonismo indígena da Comunidade Kauwê

Estado alcança reconhecimento máximo do turismo brasileiro com projeto de etnoturismo sustentável desenvolvido na Terra Indígena Raposa Serra do Sol

REDAÇÃO DO DIÁRIO, de São Paulo

Roraima entrou para a história do turismo brasileiro ao conquistar, nesta quarta-feira (3), o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Turismo 2025, na categoria Turismo de Base Comunitária. A premiação, realizada em Brasília, destacou a atuação da Comunidade Indígena Kauwê, de Pacaraima, pela criação de uma experiência única de etnoturismo, que combina ancestralidade, sustentabilidade e empreendedorismo com protagonismo indígena.

A vitória é reflexo direto das políticas públicas implementadas pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado (Secult) e da articulação com o trade local, que inscreveu dez iniciativas em diversas categorias. Três chegaram à final, e a Kauwê brilhou como modelo de inovação e inclusão no turismo nacional.

A força do território e da cultura Makuxi

Criada oficialmente após a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2008, a comunidade Kauwê é formada por cerca de 85 famílias das etnias makuxi-taurepang. Em apenas 15 anos de existência formal, transformou-se em símbolo de resistência cultural e modelo de desenvolvimento sustentável. Desde 2019, com apoio da Secult, a comunidade estruturou um projeto de turismo comunitário que vem conquistando visibilidade nacional e internacional. O DIÁRIO visitou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol e produziu uma reportagem em junho deste ano (Veja).

A experiência turística oferecida é imersiva: o visitante percorre a Rota do Café Artesanal, participa de trilhas ecológicas na floresta, oficinas culturais, rituais de pintura corporal com urucum e saboreia a rica gastronomia makuxi. Toda a vivência é guiada por indígenas da própria comunidade, que compartilham seus saberes e modos de vida de forma autêntica e respeitosa.

À frente desse processo está a turismóloga Karynna Makuxi, primeira indígena a ocupar o cargo de técnica de turismo no município de Pacaraima. Formada em Turismo pela Universidade Estadual de Roraima e pós-graduada em Ecoturismo, ela coordena as atividades com outras lideranças jovens e profissionais indígenas, como a engenheira agrônoma Dona Vera e a produtora de café especial Ana Karoliny Calleri.

turismo Roraima
Bruno Muniz (diretor do Departamento de Turismo de Roraima), Angela Aguida Portela (deputada – RO), Karynna Makuxi e Ana Lídia (Terra Indígena Raposa Serra do Sol) – Ministério do Turismo – divulgação

Café especial e empreendedorismo feminino

O turismo na comunidade Kauwê é impulsionado por uma verdadeira revolução agrícola: o resgate do cultivo do café arábica em sistema agroflorestal, uma tradição familiar que ganhou novo significado com o surgimento do Café Imeru. O nome, que significa “cachoeira” em makuxi, é uma homenagem à avó de Ana Karoliny, que iniciou as primeiras plantações ao lado de uma nascente no Sítio Cachoeirinha.

Hoje, com mais de 10 mil pés plantados, colheita manual grão a grão e processamento 100% artesanal, o café da Kauwê já atinge pontuação acima de 8.5 — selo de qualidade internacional que classifica o produto como café especial. O projeto, que começou com uma única família, agora envolve toda a comunidade e tem despertado o interesse de universidades, instituições de pesquisa e possíveis compradores estrangeiros.

Com apoio do Sebrae e do Instituto Federal, a comunidade recebeu capacitação técnica em gestão, finanças e boas práticas agrícolas. O resultado é uma cadeia produtiva sustentável, orgânica e liderada por mulheres indígenas que unem conhecimento tradicional e formação acadêmica para transformar a realidade local.

Modelo de futuro para o turismo brasileiro

A conquista do Prêmio Nacional de Turismo marca um ponto de inflexão não apenas para Roraima, mas para todo o setor turístico nacional. Em um momento em que o mundo discute novas formas de viajar e consumir experiências culturais, a Comunidade Kauwê oferece um modelo exemplar de turismo transformador — inclusivo, autêntico e regenerativo.

“É mais do que turismo. É o resgate da nossa identidade e uma forma de gerar renda com dignidade”, resume Karynna Makuxi. A história da Kauwê mostra que, com políticas públicas consistentes, apoio técnico e valorização dos saberes locais, o turismo pode ser uma ferramenta poderosa de empoderamento, preservação ambiental e desenvolvimento territorial.

A premiação nacional celebra esse protagonismo e coloca Roraima no centro do mapa turístico brasileiro, como referência de inovação enraizada na cultura e na natureza.

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