Estado alcança reconhecimento máximo do turismo brasileiro com projeto de etnoturismo sustentável desenvolvido na Terra Indígena Raposa Serra do Sol
REDAÇÃO DO DIÁRIO, de São Paulo
Roraima entrou para a história do turismo brasileiro ao conquistar, nesta quarta-feira (3), o primeiro lugar no Prêmio Nacional de Turismo 2025, na categoria Turismo de Base Comunitária. A premiação, realizada em Brasília, destacou a atuação da Comunidade Indígena Kauwê, de Pacaraima, pela criação de uma experiência única de etnoturismo, que combina ancestralidade, sustentabilidade e empreendedorismo com protagonismo indígena.
A vitória é reflexo direto das políticas públicas implementadas pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado (Secult) e da articulação com o trade local, que inscreveu dez iniciativas em diversas categorias. Três chegaram à final, e a Kauwê brilhou como modelo de inovação e inclusão no turismo nacional.
A força do território e da cultura Makuxi
Criada oficialmente após a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2008, a comunidade Kauwê é formada por cerca de 85 famílias das etnias makuxi-taurepang. Em apenas 15 anos de existência formal, transformou-se em símbolo de resistência cultural e modelo de desenvolvimento sustentável. Desde 2019, com apoio da Secult, a comunidade estruturou um projeto de turismo comunitário que vem conquistando visibilidade nacional e internacional. O DIÁRIO visitou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol e produziu uma reportagem em junho deste ano (Veja).
A experiência turística oferecida é imersiva: o visitante percorre a Rota do Café Artesanal, participa de trilhas ecológicas na floresta, oficinas culturais, rituais de pintura corporal com urucum e saboreia a rica gastronomia makuxi. Toda a vivência é guiada por indígenas da própria comunidade, que compartilham seus saberes e modos de vida de forma autêntica e respeitosa.
À frente desse processo está a turismóloga Karynna Makuxi, primeira indígena a ocupar o cargo de técnica de turismo no município de Pacaraima. Formada em Turismo pela Universidade Estadual de Roraima e pós-graduada em Ecoturismo, ela coordena as atividades com outras lideranças jovens e profissionais indígenas, como a engenheira agrônoma Dona Vera e a produtora de café especial Ana Karoliny Calleri.

Café especial e empreendedorismo feminino
O turismo na comunidade Kauwê é impulsionado por uma verdadeira revolução agrícola: o resgate do cultivo do café arábica em sistema agroflorestal, uma tradição familiar que ganhou novo significado com o surgimento do Café Imeru. O nome, que significa “cachoeira” em makuxi, é uma homenagem à avó de Ana Karoliny, que iniciou as primeiras plantações ao lado de uma nascente no Sítio Cachoeirinha.
Hoje, com mais de 10 mil pés plantados, colheita manual grão a grão e processamento 100% artesanal, o café da Kauwê já atinge pontuação acima de 8.5 — selo de qualidade internacional que classifica o produto como café especial. O projeto, que começou com uma única família, agora envolve toda a comunidade e tem despertado o interesse de universidades, instituições de pesquisa e possíveis compradores estrangeiros.
Com apoio do Sebrae e do Instituto Federal, a comunidade recebeu capacitação técnica em gestão, finanças e boas práticas agrícolas. O resultado é uma cadeia produtiva sustentável, orgânica e liderada por mulheres indígenas que unem conhecimento tradicional e formação acadêmica para transformar a realidade local.
Modelo de futuro para o turismo brasileiro
A conquista do Prêmio Nacional de Turismo marca um ponto de inflexão não apenas para Roraima, mas para todo o setor turístico nacional. Em um momento em que o mundo discute novas formas de viajar e consumir experiências culturais, a Comunidade Kauwê oferece um modelo exemplar de turismo transformador — inclusivo, autêntico e regenerativo.
“É mais do que turismo. É o resgate da nossa identidade e uma forma de gerar renda com dignidade”, resume Karynna Makuxi. A história da Kauwê mostra que, com políticas públicas consistentes, apoio técnico e valorização dos saberes locais, o turismo pode ser uma ferramenta poderosa de empoderamento, preservação ambiental e desenvolvimento territorial.
A premiação nacional celebra esse protagonismo e coloca Roraima no centro do mapa turístico brasileiro, como referência de inovação enraizada na cultura e na natureza.
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