A Secretaria Estadual de Cultura e Turismo de Roraima intensifica ações práticas para que o turismo seja reconhecido e assumido como vetor de desenvolvimento do estado como um todo.
Por Paulo Atzingen, de Boa Vista, Roraima*
Uma dessas ações é convidar veículos especializados na área para conhecer seus atrativos, como o Monte Roraima, as comunidades indígenas espalhadas pelo território e a infra-estrutura da capital, como acontece com a visita do DIÁRIO DO TURISMO ao Estado. Outra ação bastante concreta é o Plano Estadual de Turismo lançado em 2021 que traça as metas do turismo roraimense. O DIÁRIO entrevistou Bruno Dantas de Brito, secretário do Departamento de Turismo na Secretaria de Cultura e Turismo do Estado.
Inicialmente, Bruno falou ao DIÁRIO sobre o seu trabalho no desenvolvimento do turismo nas comunidades indígenas.
“As diretrizes foram criadas em 2020 para que atendessem os anseios das comunidades de Roraima em protagonizar o seu próprio modelo de turismo”, afirma ao DT. Essas diretrizes, segundo ele, foram idealizadas e lançadas pelo departamento de turismo para atender uma instrução normativa da FUNAI, e que oferece as condições para que as comunidades, a partir da elaboração de um plano de visitação, possam trabalhar com o seu modelo de turismo.
O ponto alto de nossa foi a viagem para Pacaraima, divisa com a Venezuela e a chegada à comunidade Paraytepuy. Lá fomos recepcionados por um coral de meninos e meninas num momento sublime. Depois desse marco, do Mirador avistamos o Monte Roraima.
Tradução para a Língua Macuxi
Bruno apresenta ao DIÁRIO as diretrizes do turismo aplicado em comunidades, mas com um detalhe: os textos foram traduzidos para a língua Macuxi. Pergunto-lhe qual é o objetivo desta tradução. “Além de fortalecer o idioma nativo, o único idioma que os povos indígenas de Roraima, em sua maioria, falam, nós abrimos os olhos das pessoas para a importância de respeitar e de valorizar a cultura ancestral macuxi”, diz.
Segundo ele, não entender o macuxi, muitas vezes mostra a ignorância e a indiferença com sua própria cultura. “A cultura macuxi está na nossa cidade, no nosso estado, está no nosso prato, na nossa mesa, cotidianamente, e a gente simplesmente ignora. E muitas pessoas entendem o inglês, reproduzem as falas do inglês, do norte-americano, do europeu, do asiático, e esquecem que aqui na sua própria terra tem uma cultura forte, bonita e que é uma referência para muitas pessoas.
Produto em sua plenitude
Bruno destaca alguns pontos dessas diretrizes como o fortalecimento do étnico-turismo. “A gente prepara essa comunidade para trabalhar sua auto-estima, seu pertencimento e é um trabalho que vem desde a base, desde a educação. O trabalho consiste em apresentar para essas comunidades vários cursos de capacitação que vão abrir a mente, os olhos sobre o que é o turismo, como conduzir um visitante na mata, no caso de uma emergência, como proceder no socorro a esses visitantes, como roteirizar um atrativo turístico da comunidade, como classificar o que é turístico numa comunidade por exemplo”, enumera Bruno.
Segundo o técnico, esse fortalecimento vem dessas atividades práticas. “Essa etapa que estamos vivendo aqui com essa press trip é exatamente uma das vertentes desse fortalecimento que é apresentar o produto na sua plenitude”.
Ações governamentais Plano Estadual de Turismo
Durante a entrevista, Bruno também falou das ações do Governo Estadual com o incentivo do turismo em geral.
“Desde 2019, quando nós assumimos, identificamos como necessidade, como prioridade, a construção de uma ferramenta que orientasse o planejamento do Estado, que orientasse o setor empresarial de como o governo deveria fazer para atender o setor empresarial. Não é aquilo que o governo quer, é aquilo que o setor produtivo precisa para desenvolver”, revela. Segundo o turismólogo, a partir daí foi desenvolvido um inventário turístico para orientar esses caminhos, criou-se um diagnóstico e daí nasceu o Plano Estadual do Turismo.
“Com esse plano nós trabalhamos nos projetos de capacitação das comunidades, dos povos tradicionais, dos ribeirinhos que ficam nas áreas de pesca esportiva, das pessoas que vivem em áreas naturais e que vivem da construção do receptivo, da hospitalidade”. Ele destaca que parte do plano cuida da promoção turística, e que a visita do DIÁRIO ao estado integra esse plano.
Associação de Guias de Turismo
Com as três companhias aéreas principais do Brasil (Azul, Gol e Latam) atendendo a capital do Estado, Boa Vista, com voos diários, Bruno adianta que o plano estadual contempla também várias outras frentes como crédito empresarial para atividades do setor, promoção dos eventos, participação em feiras e grandes congressos de turismo.
“O fortalecimento da nossa Associação dos Agentes de Viagens, e a criação este mês de uma associação dos guias de turismo já com 104 afiliados, formando e capacitando profissionais para o receptivo, nos respalda para receber turistas do mundo todo e expandir ainda mais”, afirma Bruno reforçando que o estado se desenvolve de forma sustentável.
Limites com Guiana e Venezuela
O secretário destaca como a infraestrutura rodoviária, a diversidade de produtos turísticos e a proximidade com os países vizinhos favorecem o crescimento econômico e turístico do estado.
“A proximidade com a Guiana (Inglesa) fomenta a troca econômica. Tanto a Guiana quanto a Venezuela, historicamente, sempre tiveram uma forte representatividade no turismo de Roraima. No caso da Venezuela, temos um dos principais cartões postais da região, que é o Monte Roraima, um dos produtos mais relevantes para o mercado internacional”.
RODOVIAS ASFALTADAS
“Atualmente, tanto a Venezuela quanto a Guiana oferecem uma diversidade de produtos e muitas oportunidades. A Guiana, por exemplo, cresce a uma taxa de 11% ao ano, um crescimento expressivo e significativo. Hoje, existem roteiros turísticos tanto para a Venezuela quanto para a Guiana. Temos uma grande porta de entrada nas fronteiras com esses países, o que favorece os negócios, a economia e também o turismo”.
Com estradas bem asfaltadas e conexões estratégicas, Roraima se torna ponto de fácil acesso para turistas da Venezuela, Guiana e também de Manaus.
“Tudo isso está conectado por rodovias bem asfaltadas, como a BR 174 e a BR 405. Com essas vias, o deslocamento se torna mais ágil. De Boa Vista, capital de Roraima, até a Venezuela, são cerca de 200 quilômetros — aproximadamente três horas e meia de viagem. Já até a República da Guiana, o trajeto leva apenas uma hora e meia de carro. É muito perto, com estrada em boas condições, bem sinalizada, e com uma variedade de produtos turísticos para todos os públicos”.
“Manaus também tem ligação terrestre direta com Roraima. Pela BR 174, são cerca de 800 quilômetros, em uma viagem que dura em torno de oito horas. Aliás, Manaus é um dos estados que mais envia turistas para Roraima. Semanalmente, recebemos grupos vindos de lá”.
Números
De acordo com o secretário, há uma estimativa projetada para 2025 no número de turistas na faixa de 20% a 25% de crescimento, em comparação aos anos anteriores. “Registramos uma ocupação de turistas no estado em torno de 40 mil pessoas, entrando tanto por via terrestre quanto aérea — seja em ônibus de linhas convencionais, voos comerciais ou veículos particulares”, detalha.
“Esse número é baseado nos registros do nosso Centro de Atendimento ao Turista, que está presente em diferentes pontos do estado e vem monitorando esse crescimento por meio dos livros de visitantes. Além disso, a ocupação na hotelaria, sensível a esse aumento no fluxo, também confirma esse movimento”.
O crescimento médio dos últimos anos, em torno de 20%, deverá ser superado em 2025, principalmente por conta de grandes eventos programados para o segundo semestre, como o Amazon Tech, o encontro de motos de alta cilindrada, a Corrida 9 de Junho, o evento Júlio e até o Peking Up. Todos são importantes geradores de fluxo turístico para o estado.
Quem é Bruno Dantas de Brito?
Bruno Brito é paraibano, turismólogo, graduado pela Universidade Federal da Paraíba, com mestrado pela Universidade Estadual da Paraíba e doutorado pela Universidade Federal do Ceará. Chegou a Roraima em 2011 para prestar concurso público, foi aprovado e convocado em 2013, passando a exercer suas atividades como docente na Universidade Estadual de Roraima (UER).
Entre 2013 e 2018, atuou como professor na instituição até ser convidado pelo então governador Antônio Denarium para assumir o cargo de secretário do Departamento de Turismo na Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Roraima.
*Paulo Atzingen é jornalista e viajou convidado pelo Governo Estadual de Roraima
