A situação apocalíptica que boa parte do Brasil atravessou nos últimos meses e que ainda atravessa com queimadas e incêndios florestais sem controle foi vista de perto por Eliseu Thomae, repórter fotográfico do DIÁRIO em sua viagem ao Acre e a Rondônia entre os dias 9 e 22 de setembro últimos.
Com uma sequência de imagens aterradoras em seu sentido literal, Eliseu Thomae oferece aos leitores do DIÁRIO um roteiro real – e ao mesmo tempo surreal – da situação que a Região Norte do Brasil atravessou em setembro passado.
O Brasil ainda experimenta um dos mais severos períodos de seca de sua história. A região Norte registrou 23.715 focos de incêndios em setembro, já o Centro-Oeste vem logo atrás com 18.015 focos registrados no mês passado, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (Cnm).
A pergunta é: como a indústria do turismo sobreviverá diante deste cenário apocalíptico?
Confira a seguir o roteiro ACRE – RONDÔNIA, de Eliseu Thomae, que foi dividido em duas partes por sua qualidade de conteúdo e quantidade de imagens.
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Eliseu embarcou dia 9 de setembro às 16h05 no voo Congonhas/Cruzeiro do Sul, segunda cidade mais populosa do Acre, depois da capital, Rio Branco. Ele fez conexão em Brasília e escala em Rio Branco.
Eliseu Thomae inicia seu relato:
“Chegamos em Cruzeiro do Sul e o céu estava todo esfumaçado e o cheiro de fumaça no ar. Em transfer fomos até Mâncio Lima (município mais ocidental do Brasil, na divisa com o Peru e 2 horas a menos que o fuso horário de Brasília). Nos hospedamos na Pousada Mãe Dita com café da manhã. Caminhamos pela cidade, que não tem atrativos relevantes. Fomos até o porto do Japiim, no Rio Moa, para ver as condições do rio, de onde saem os barcos em direção ao Parque Nacional da Serra do Divisor. Como não há estradas, esta é a única forma de acessar o parque e também o meio de transporte para a população ribeirinha que vive na região, tanto para escoar e vender seus produtos quanto, na volta, trazer os mantimentos da cidade. Pernoitamos na Pousada Mãe Dita, em Cruzeiro do Sul”.
Parque Nacional da Serra do Divisor
“Partimos de Cruzeiro do Sul em barco até o Parque Nacional da Serra do Divisor. Como o nível das águas do rio estava muito baixo, ao invés das costumeiras 8h, levamos 9h para chegar na pousada. Com o leito baixo, troncos e galhos de árvores que caem no leito do rio ficam expostas, exigindo destreza do barqueiro. Mesmo com todo o cuidado, uma hélice acabou quebrando e teve que ser trocada para prosseguir a viagem. Além disto, em todo o trajeto, vários trechos estão com bancos de areia ou nível tão baixo que o barco se arrasta sobre a areia do leito, correndo risco de frequentemente atolar”.
“Devido ao baixo nível do rio, a pesca e o transporte tanto da produção quanto das mercadorias para os ribeirinhos foi severamente afetado. Barcos maiores e sobretudo os que transportam o gado estão inoperantes, aguardando as chuvas e elevação do nível do rio para poder voltar a navegar”.
“Chegamos na pousada Canindé, no Parque Nacional da Serra do Divisor, chefiada pela Dona Graça às 16h”.
Cachoeiras
“Nos hospedamos por cinco noites com café, almoço e janta e também os passeios à Cachoeira do Amor, Cachoeira do Ar Condicionado, Buraco da Central (perfuração de 700m de profundidade feita na década de 30 pelo Conselho Nacional do Petróleo (“pai” da futura Petrobrás) que, ao invés de petróleo, fez jorrar água morninha e ferrosa. Visitamos ainda as Cachoeiras Pirapora 1 e 2, o Mirante do Parque Nacional, que oferece uma vista panorâmica do lado brasileiro de um lado e, de outro, o peruano”.
“Durante a trilha, além das árvores altíssimas, ouve-se o tempo todo o canto estridente de pássaros e cruza-se também com bandos de macacos prego, preto e barrigudo, o maior da selva”.
Trilha e Camping Selvagem
“Para tornar a experiência mais imersiva, fizemos também a trilha de 15km (total ida e volta = 30km) pela selva amazônica até a Cachoeira Formosa, local onde passamos a noite em camping selvagem. Por conta da chuva que caiu logo ao chegarmos, a vivência foi ainda mais autêntica.
“Durante a trilha, muito recoberta de folhas, frutos e sementes, além das árvores altíssimas, ouve-se o tempo todo o canto estridente de pássaros, e cruza-se também com bandos de macacos prego, preto e barrigudo, o maior da selva e, claro, também outros animais e insetos da fauna local”.
Volta para Mâncio Lima
“Tomamos o Café da manhã e voltamos em barco para Mâncio Lima. Na volta, por ser a favor da correnteza, levamos 8h para percorrer o Rio Moa desde o Parque Nacional da Serra do Divisor até o “porto” em Mâncio Lima.
Chegada e traslado até Cruzeiro do Sul, onde pernoitamos no Hotel Swamy.
Caminhada para reconhecimento do centro da cidade, visitando a praça com vista para a ponte estaiada sobre o Rio Juruá, a Igreja Nossa Senhora da Glória e sua arquitetura singular.”
LEIA A 2ª parte, Roteiro Acre – Rondônia: do Céu ao Inferno em 14 dias (Parte do Inferno):
Roteiro Acre – Rondônia: do Céu ao Inferno em 14 dias (Parte do Inferno)