Roteiro Acre – Rondônia: do Céu ao Inferno em 14 dias (Parte do Inferno)

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A segunda parte do Roteiro Acre Rondônia relatado pelo repórter fotográfico Eliseu Thomae inicia com uma viagem de ônibus de Cruzeiro do Sul, a Rio Branco, capital do Acre. Se a primeira parte da viagem Eliseu se aproximou da natureza exuberante da Amazônia, com seus rios e afluentes, flora e fauna, povo ribeirinho, nesta a paisagem muda completamente. Confira:

“A Viação TransAcreana faz o trecho Cruzeiro do Sul x Rio Branco. São 635km em 13horas de viagem. Saímos às 7h da manhã e chegamos às 20h, pela BR 364, que tem trechos em condições péssimas, muito esburacada.

O ônibus fez diversas paradas ao longo de pontos e rodoviárias de cidades do trajeto até a capital acreana. É um intenso sobe e desce de passageiros e acaba-se sendo testemunha também do cotidiano de cada um deles, de suas histórias de desbravadores destas longínquas terras.

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Quanto mais avançávamos em direção à capital, mais enfumaçada ficava a paisagem, deixando-a esbranquiçada e sem definição

Pela janela, logo que se atravessa o Rio Juruá, há uma sucessão de áreas indígenas, de diversas etnias, identificadas por placas e casinhas de madeira padronizadas. Em algumas também avista-se uma escola. É o único trecho de todo o percurso em que ainda de avista a selva preservada com os característicos igarapés (rios) e igapós (áreas alagadas com plantas hidrófilas). No entanto, em diversos trechos, o acostamento da rodovia também há vestígios de que foi queimado recentemente.

Viagem de ônibus de Cruzeiro do Sul a Rio Branco

Passadas as áreas indígenas, a paisagem muda radicalmente e, dos dois lados da rodovia, predominam agora as pastagens salpicadas de gado de corte e, ao fundo, na linha do horizonte, a silhueta ainda de selva. Quanto mais avançávamos em direção à capital, mais enfumaçada ficava a paisagem, deixando-a esbranquiçada e sem definição. O relevo, também à medida em que se aproxima da capital, vai deixando de apresentar morros e elevações e passa a ser totalmente plano.

Às 20h chegamos ao Terminal Rodoviário Internacional de Rio Branco

Destaque para o Museu da Borracha, onde é apresentada a triste saga dos desbravadores, recrutados para realizar o sonho da vida boa prometido pelo novo Eldorado

Traslado em Uber até o Hotel Guapindaia (Centro) e hospedagem por 02 noites com café da manhã. Passeio pela cidade, visitando do Museu da Borracha, a Praça da Revolução, o Palácio Rio Branco, o Novo Mercado Velho, a Passarela Joaquim Falcão Macedo e o Calçadão da Gameleira.

Destaque para o Museu da Borracha, onde é apresentada a triste saga dos desbravadores, recrutados para realizar o sonho da vida boa prometido pelo novo Eldorado, mas que ao invés da prosperidade com o ouro negro (borracha), os “soldados da borracha” encontraram o inferno verde (floresta bruta e malária), que ceifou a vida de até 25 mil migrantes, sobretudo cearenses.

Praticamente 10 vezes mais de vítimas em comparação aos brasileiros que na Segunda Guerra Mundial ficaram feridos ou mutilados, mas ao contrário desses, não foram laureados nem obtiveram nenhum tipo de auxílio do governo.

Rio Acre, que passa na capital Rio Branco

Seguindo, viagem em ônibus de Rio Branco a Porto Velho

Às 8h partimos de Rio Branco para Porto Velho, com a Viação Amatur. Foram 510km e 8h de viagem. Chegamos em Porto Velho às 16h.

Na capital de Rondônia nos hospedamos no Hotel Cielo (Centro) por 3 noites com café da manhã.

Cenário apocalíptico 

Em Rondônia, praticamente em todos os 510km (somando a parte acreana, percorremos um total de 1.145 km) que rodamos, além de muuuuuuuuitas vastas áreas queimadas, algumas recentes, outras já de algumas semanas, apenas vez ou outra algum vestígio de floresta. O mais comum é avistar algumas árvores solitárias que sobraram na paisagem de pastos ou campos de agricultura.

No entorno de várias cidades ao longo da BR 364, sempre há também enormes serrarias e volta e meia, cruza-se com caminhões carregados de enormes toras.

Deprimente. Dolorosamente deprimente cenário apocalíptico de terra totalmente devastada.

Árvores solitárias

 

E, já próximos da capital, Porto Velho, as pastagens com gado também se alternam com terras tórridas e poeirentas de plantio, em fazendas igualmente com quilômetros de extensão.

A baixa visibilidade em meio à densa fumaça ao longo de todo o caminho, com trechos em que ela se limita a algumas dezenas de metros, qual uma pista de dança com gelo seco, torna até difícil o registro em fotos, pois não se consegue algo mais nítido para poder obter o foco e ativar o botão do disparador.

Ponte sobre o Rio Madeira

 

Para se ter uma ideia, na capital Porto Velho, o aeroporto foi recentemente fechado por dias seguidos, devido à baixa visibilidade, causando grandes transtornos. Do Complexo Cultural Madeira-Mamoré, que fica às margens do Rio Madeira, há dias em que sequer se avista o rio, que fica a cerca de apenas 10 metros do deck!

Do Rio Madeira, um dos maiores do país (e do mundo!), com o nível da água baixíssimo, desponta muitos bancos de areia e com menos de 50cm de profundidade em muitos pontos, inviabilizando a navegação. Houve necessidade inclusive de desligar a maior parte das turbinas nas duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) construídas ao longo de seu curso.

Barco no Rio Madeira

Porto Velho

Em Porto Velho a Estação Madeira-Mamoré, belo complexo cultural recém-
reformado, com espaços para lazer, gastronomia, venda de artesanato e museu conta a epopeia da construção desta gigantesca ferrovia para escoar o ouro negro da selva, que ceifou a vida de mais de 10 mil trabalhadoress (o que deu origem à lenda de que cada dormente representa uma morte), visitamos as Três Caixas D’agua ou Três Marias (tanques metálicos cilíndricos vindos de Chicago e que abasteciam a cidade de 1912 a 1957), a Praça Getúlio Vargas, o Prédio do Relógio, o Mercado Cultural de Porto Velho e o Cemitério das Locomotivas.

Mercado Cultural de Porto Velho
Cemitério das Locomotivas dos tempos áureos do ciclo da borracha

Fim de linha

À 1h30, do 14º dia, fizemos o check-out no hotel, em uber chegamos ao aeroporto de
Porto Velho e embarcamos de regresso a São Paulo/Congonhas (com conexão em
Confins/BHZ).


*Eliseu Thomae é repórter fotográfico colaborador do DIÁRIO

LEIA A PRIMEIRA PARTE DA REPORTAGEM FOTOGRÁFICA:

Roteiro Acre – Rondônia: do Céu ao Inferno em 14 dias (Parte do Céu)

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