Você sabia que Consuelo Suncin, esposa de Antoine de Saint-Exupéry, autor de “O Pequeno Principe”, se casou com um vestido, véu e grinalda de noiva pretos?*
Para uns é conhecida justamente por isso, por ser a esposa dessa grande personalidade literária, e para outros, a mulher que inspirou a criação da personagem Rosa, par romântico do principezinho na obra.
Mas para conhecer tanto a Rosa, quanto a Sra Saint-Exupéry, a noiva de preto, precisamos conhecer melhor essa mulher misteriosa, geniosa e cheia de personalidade para tentar entender o que a fez fazer tal ato.
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Consuelo, foi uma mulher salvadorenha que fez com que o piloto e escritor francês se apaixonasse tão fortemente que a pediu em casamento no dia seguinte em que a conheceu. O encontro se deu pois Saint-Exupéry, enquanto responsável pela subsidiária da Aéropostale, a Aéroposta, participa de um coquetel promovido pela Aliança Francesa, onde conhece Consuelo, que estava em Buenos Aires para resolver questões do inventário de seu falecido marido. Tamanho foi o encanto de Saint-Exupéry, que convidou a jovem de 27 anos para um passeio em seu avião. Já no avião, Saint-Exupéry a pediu em casamento e a fez um ultimato: “Se responder que não, esse avião não descerá”. Mas Consuelo foi muito mais que uma forte paixão, foi uma amante das artes, uma talentosa contadora de histórias, pintora e escultora.
Filha de um rico plantador de café em El Salvador – América Central, teve uma excelente educação, e já na infância, seu talento para a poesia começava a desabrochar. Também era muito inteligente, falava com perfeição, o espanhol, o inglês e o francês.
Tinha um temperamento forte demais para a época em que vivia, pode-se dizer, uma mulher de atitude, diferente das moças da década de 1920, que eram mais reservadas e dependentes dos maridos.
Fumava, bebia, dirigia e viajava o que era exatamente ao contrário da época. Era conhecida inclusive, pelo apelido dado pelos próprios amigos de Saint-Exupéry, de “Vulcão da América Central”, cuja referência pode ser notada no asteroide do principezinho, que tinha, dos três vulcões, um adormecido, e dois ativos, fazendo homenagem ao país de Consuelo.
Até no dia de seu casamento não deixou a discrição prevalecer: Usou um vestido de noiva e véu pretos, mesmo sendo recíproca ao forte amor de seu marido, não foi aceita pela família do escritor e piloto, assim como também, pela sociedade literária da qual participava, uma forma de protesto e de desafiar a sua futura família, o que relatou em cartas: “Eu estava de luto por mim mesma, o que eu realmente era e o que eles me negaram a ser”. Uma mulher a frente de seu tempo, que por amor, decide “dançar conforme a música” ao que se espera de uma mulher casada, ainda mais naquela época.
Mesmo com espinhos na vida amorosa do casal, ela foi uma grande apoiadora, incentivando seu marido a escrever Voo Noturno, obra que lhe deu o Prêmio Femina de 1931, considerado o maior prêmio literário da França. Além é claro, de “O Pequeno Príncipe”, último livro em que escreveu, tendo estado sempre presente na vida do escritor.
E uma curiosidade, é que um livro foi escrito inteiramente inspirado na víuva negra, chamado “Uma Noiva Vestida de Preto”, escrita por Marie Helene Carbonel e Martine Fransioli Martinez, esposa do herdeiro de Consuelo, José Martinez Fructuoso. O livro, que reúne 600 páginas de texto e 32 de ilustrações, contém relatos íntimos dos seus diários, além de vídeos no final de sua vida, já avançada, onde sentia mais dificuldade de escrever.
Crédito José Augusto Cavalcanti Wanderley
Colaborou: Nicole B. Vieira da Rocha Santos