São Roque de Minas é recanto de cachoeiras e paisagens monumentais

Continua depois da publicidade

por Zaqueu Fogaça – repórter freelancer

A igrejinha central, as casinhas históricas que resistem ao tempo, a conversa ao pé da janela, a pracinha dos encontros, os moradores que se conhecem pelo nome, que se conhecem pelo sobrenome, e que sabem da história. O cotidiano da pequena São Roque de Minas (MG) revela uma cidade simples e afetuosa. “Aqui a gente dorme de portas e de janelas abertas”, já vai logo avisando a moradora Renilde Dupin, nascida na cidade e proprietária do hotel-pousada Chapadão da Canastra.

São Roque de Minas, cidade afetuosa onde os moradores se conhecem pelo nome (Crédito: Zaqueu Fogaça)

Além da calmaria bucólica

Com 7.5 mil moradores e localizada no sudoeste mineiro, a 500km do estado de São Paulo, São Roque de Minas vai muito além dessa calmaria bucólica e se revela um berço de paisagens monumentais. A força de sua poderosa natureza se manifesta no solo de quartzito, nas florestas de mata atlântica, nos paredões rochosos da Serra da Canastra, no cerrado que cobre seus chapadões, na diversidade de espécies e no balé das águas de suas nascentes e cachoeiras que rompem o solo e criam cenários grandiosos.

A força de sua poderosa natureza se manifesta no solo de quartzito

Veja também as mais lidas do DT

Essa rica biodiversidade costuma ser apresentada por seu principal cartão postal, a Serra da Canastra, patrimônio ambiental que abriga os 71.5 mil hectares demarcados do Parque Nacional da Serra da Canastra, criado em 1972 para preservar a nascente de um dos mais importantes rios do país, o Rio São Francisco. Em meio a esse berço de águas, proporcionado pelo encontro das bacias dos rios São Francisco e Paraná, mais um espetáculo natural floresce diante dos olhos: o encontro entre a mata atlântica e os campos de cerrado.

O DIÁRIO DO TURISMO visitou São Roque de Minas durante três dias, e apresenta agora, em três reportagens especiais, as riquezas natural e cultural da região. A primeira reportagem percorre a parte baixa da Serra da Canastra em busca da imponente cachoeira Casca D’anta; a segunda revela a vida e a imensidão do cerrado na parte alta da Serra; e a terceira e última mostra a atual revolução do queijo canastra, tradição local reconhecida como patrimônio imaterial.

A paisagem assume uma atmosfera insólita e suas árvores parecem flutuar em branca nuvem (Crédito: Zaqueu Fogaça – DT)

Primeiro dia

No primeiro dia em São Roque de Minas, a pequena cidade mineira amanhece encoberta por uma cortina de serração. Quando os primeiros raios de sol começam a clarear, a paisagem assume uma atmosfera insólita e suas árvores parecem flutuar em branca nuvem. “Quando a serração baixa, o sol racha”, ensina Elmo, guia turístico que deixou São Paulo para trás para desvendar as imensidões do pequeno município, onde mantém a pequena empresa Canastra Eco, especializada em passeios de 4×4.

Para conhecer as belezas naturais da região é preciso, lembre-se disso, realizar grandes deslocamentos por estradinhas de terra acidentadas. Pequenas pontes, barro, pedras e buracos dão o ritmo da viagem que representa horas nas estradas. Para maior conforto, a recomendação é usar veículos 4×4.

Estradinhas

Outro ponto muito importante nessa jornada pela Serra da Canastra é o tempo. É impossível aproveitar num único dia todas as atrações existentes na região. Os horários de visitas, tanto no parque quanto nas demais áreas de preservação do seu entorno, são até às 18h (hora de saída). No primeiro dia, o DIÁRIO conheceu o roteiro da chamada Parte Baixa da Serra da Canastra, endereço da histórica cachoeira Casca D’anta, a primeira queda do Rio São Francisco e um dos principais destinos da região.

O caminho até ela começa na pequena estrada da Laura. De terra, ela corta sinuosa as plantações de café, sobe e desce a geografia montanhosa da região e apresenta paisagens a perder de vista. A primeira parada acontece a 12km de São Roque de Minas. Numa cerca, uma pequena placa dá o recadinho a quem se aproxima: “féxiaportêra”. Ela pertence a uma fazenda particular considerada área de preservação permanente, e fica aberta à visitação a um preço de R$ 10. É nela que está a cachoeira da Chinela.

Numa cerca, uma pequena placa dá o recadinho a quem se aproxima: “féxiaportêra”

Para alcançar a cachoeira da Chinela é preciso seguir a pé por uma leve trilha por cinco minutos. No caminho, o espetáculo fica por conta das borboletas, dos pássaros e das nascentes que brotam pelo trajeto. Ao fim do percurso, grandiosas pedras abraçam o poço de água calma e gelada que é formado pela queda de 25 metros de altura. Toda branca, a cachoeira desce graciosa a escadaria de rochas e arbustos e encanta pela musicalidade que produz. Ela é a última e a maior dentre as nove quedas do rio da Chinela.

A Cachoeira da Chinela possui 25 metros de altura e uma beleza imedível (Crédito Zaqueu Fogaça – DT)

Fendas e cachoeiras grandiosas

Da cachoeira da Chinela, a viagem prossegue pela estrada de terra até a segunda parada, desta vez na pequena capela do chamado Mirante da Lavrinha. É nesse ponto alto e estratégico que se observa umas das paisagens mais imponentes da região. Em contraste com o vale e seus bolsões de mata atlântica característicos da parte baixa, o paredão da Serra da Canastra sobe 300 metros de altura de rocha e se abre em muitas fendas. Em dias de chuva, criam-se dezenas de cachoeiras grandiosas.

Do Mirante da Lavrinha também é possível contemplar as duas quedas d’água permanentes que correm pelo corpo da Serra da Canastra. Elas são as cachoeiras Lavra e Lavrinha, ambas com mais de 20 metros de altura. “Os caminhos até elas exigem pelo menos uma caminhada de 40 minutos por trilhas de subidas e descidas”, avisa o guia turístico Vicente, profundo conhecedor da região que trabalhou por muitos anos no Parque Nacional.

Águas limpas e prainhas fluviais são vistas nessa época (Crédito: Zaqueu Fogaça – DT)

Prainhas do Chico

Após a vista de encher os olhos proporcionada pelo Mirante, seguimos viagem estrada adentro até alcançar as famosas prainhas do rio São Francisco. Com margens amplas e cobertas por areia e por pequenas pedras, essas áreas são as mais adequadas para se banhar. A temperatura amena e a calmaria da água nesses trechos são convidativas para um mergulho.

As prainhas do São Francisco prenunciam que a maior atração da parte baixa da Serra, a imponente cachoeira Casca D’anta, já está bem próxima. Antes dela, no entanto, eis o simpático distrito de São José do Barreiro, um recanto habitado por 400 moradores. Pertencente a São Roque de Minas, ele proporciona uma vista privilegiada do Chapadão da Serra.

No ponto mais alto de São José do Barreiro está localizado o restaurante Cozinha Original: Sabores da Canastra, comandado pela chef Joanne Ribas. A decoração rústica do ambiente, que preserva as características da antiga residência, o forno à lenha no meio do salão, o cardápio que valoriza os sabores locais e as mesas colocadas numa varanda com vista para a Serra conquistam os turistas.

A alimentação é outro fator importante a ser levado em consideração nessa viagem. Como os percursos são longos e feitos por estradas onde não há comércios, é fundamental organizar pequenos lanches para se alimentar. No caso da água, bem, essa é abundante na região e pode ser apreciada em uma das diversas nascentes que brotam pelo caminho.

O restaurante Cozinha Original: Sabores da Canastra é comandado pela chef Joanne Ribas (Crédito: Elíria Buso)

Cachoeira Casca D’anta

Poucos quilômetros separam São José do Barreiro da cachoeira Casca D’anta. Um pouco mais adiante, a vista que se tem da Casca D’anta impressiona. A água se lança por uma fenda no meio do paredão da Serra numa queda de 186 metros de altura para formar umas das maiores cachoeiras do país e a primeira do Rio São Francisco.

A cachoeira está localizada no interior do Parque Nacional da Serra da Canastra. O acesso é realizado pelo portão 4 e custa R$ 10. Logo na entrada o visitante encontra uma área para piquenique e churrasco. Da portaria à cachoeira são menos de 2 km de caminhada, primeiro por uma estrada de terra aberta, depois por uma trilha leve na mata pela margem do Velho Chico.

É ela, a grande Casca D’ anta, com seu sopro de névoa (Crédito: Zaqueu Fogaça – DT)

De acordo com a tradição, o nome da cachoeira que faz a fama do lugar e permanece igual desde o século 18 remonta à uma espécie de árvore muito comum na região, a Drimys winteri. Conhecida por suas propriedades medicinais cicatrizantes, ela foi batizada de Casca D’anta porque as antas costumavam se esfregar nas cascas do seu tronco para curar os ferimentos.

Casca D’anta: as antas costumavam se esfregar nas cascas do seu tronco para curar os ferimentos; daí o nome.

O momento mais esperado chega. A aproximação da Casca D’anta deve ser feita devagar e com cuidado. Quando atinge o poço após a queda, a água lança um sopro de névoa que avança a uma longa distância e molha o que encontra pela frente.

Na sua majestosa queda de 186m, o Velho Chico se lança sem violência formando uma cortina branca que parece flutuar diante dos olhos. O espetáculo arranca as mais diversas reações dos seus apreciadores. Uns gritam, outros dançam, alguns chegam a chorar de tanta felicidade. Ao fim do dia, a sensação de todos é uma só: valeu a pena.

___________________________________________________

Na segunda reportagem especial do DIÁRIO à Serra da Canastra conheça a nascente do rio São Francisco, o balé de vidas  e a beleza do cerrado na parte alta da Serra e o topo da Casca D’anta.

O que usar: Para maior conforto durante a viagem, leve roupas leves, tênis macio e antiderrapante, boné ou chapéu, água, lanche de trilha, repelente de insetos, protetor solar e, claro, roupa de banho.

*O repórter Zaqueu Fogaça (freelancer do DT) viajou convidado pelo Hotel Chapadão da Canastra  Expresso União e a Associação dos Produtores de Queijo Canastra (APROCAN)

____________________________________________________

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade