Segundo presidente de associação, ‘turismo de lazer foi a zero’. Município também teve queda na arrecadação com queda na mineração.
(O G1 publica, durante esta quinta-feira (5), três reportagens sobre passado, presente e futuro de Mariana e do distrito de Bento Rodrigues nos seis meses da tragédia do rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco. O distrito foi a localidade mais afetada pela lama. A reportagem sobre o futuro será publicada às 15h).
O rompimento da barragem de Fundão, que pertence à mineradora Samarco, cujas donas são aVale e a BHP Billiton, afetou outras localidades de Mariana, além do leito do Rio Doce. Os rejeitos também atingiram mais de 40 cidades de Minas Gerais e no Espírito Santo e chegou ao mar. Dezenove pessoas morreram. Um corpo ainda está desaparecido. O desastre ambiental é considerado o maior e sem precedentes no Brasil.
Parado na Praça Minas Gerais à espera de turistas, o guia Fábio Bento das Dores, de 40 anos, diz que o movimento de visitantes anda fraco. “Antes, a gente chegava a pegar quatro famílias por fim de semana, hoje, se pegar uma, a gente coloca a mão para o céu”, disse.
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Ele afirma que muitas pessoas acreditam que, após o rompimento da barragem de Fundão, o centro histórico de Mariana também ficou encoberto pelos rejeitos de mineração da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton.
“A cidade ficou intacta, mas muitos turistas ouvem: ‘você está louco? Você vai para Mariana?’. A cidade está de portas abertas para o turismo”, pontua. Segundo a prefeitura, a redução no número de turistas é de aproximadamente 30%.
Fábio não atribui a queda somente ao desastre ambiental. Segundo ele, a crise pela qual passa o país também contribui para que os pontos turísticos da cidade estejam mais vazios que em outros tempos.
A opinião do guia turístico coincide com a avaliação do presidente da Regional Circuito do Ouro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Antoninho Tavares dos Santos. Segundo ele, desde antes do rompimento da barragem, Mariana já assistia a uma redução de turistas. “Desde agosto, nós entramos em uma crise política e econômica, que começou a afetar o turismo. Mariana vive do turismo de negócio, que já estava afetado pela crise. Então, veio a tragédia, e o turismo de lazer foi a zero”, explicou
Conforme Santos, o turismo de negócios movimenta 70% do setor na cidade histórica. Com a tragédia, ele diz que o aumento de pessoas que vão ao município com este fim teve leve alta, o que não foi suficiente para compensar os impactos do sumiço daqueles que visitam Mariana buscando lazer.
O presidente da entidade diz que o município costumava apresentar taxa de ocupação dos hotéis de cerca de 45%. Após 5 de novembro, este índice despencou para 20%, afirmou Santos. Segundo ele, hoje, a taxa de ocupação gira entre 25% e 28%. A expectativa é que os 45% sejam novamente atingidos no ano que vem. Mas, para Santos, além da melhora da situação política e econômica do país, esse crescimento depende ações para fomento do turismo, que, na opinião dele, estão “acanhadas”.
O secretário adjunto de Cultura e Turismo, José Luiz Papa, prefere não falar em números, mas confirma uma “queda significativa no turismo”. “Mesmo com toda a queda na arrecadação – nós vivemos da mineração e hoje nós temos a mineração parada, temos mantido os atrativos e os nossos eventos”, alegou, citando o Natal de Luz, o Carnaval e o Encontro Regional Evangélico de Mariana (Erem).
Papa, que também destaca a crise econômica, afirma que é muito difícil precisar um prazo para que o turismo na cidade histórica volte ao patamar em que estava antes do rompimento de Fundão. “A gente não quer ficar como estava. Queremos ir bem além. Antes mesmo da tragédia, já estávamos trabalhando para que o turismo fosse alavancado”, disse com esperança.