“Bicho do cerrado”. É assim que Seleucia Fontes se afirma em sua mais pura característica. Nasceu em Brasília, migrou para Goiânia na adolescência e foi na capital goiana que descobriu o jornalismo, formando-se na Universidade Federal de Goiás. Em busca de ares novos e independentes, a comunicadora se mudou para Palmas, onde tinha uma ligação profissional, afinal, era contratada como editora de cultura do Jornal do Tocantins. O ano era 1997. De lá nunca mais saiu.
Em entrevista ao DIÁRIO, Seleucia narra sua trajetória, desde o início no jornalismo até alçar cargos públicos pelos quais teve a chance de atravessar o Tocantins de norte a sul, conhecendo suas belezas, seu povo, suas dificuldades e lutas. Além disso, desbravou todos os traços do turismo do Estado-berço do surpreendente Jalapão.
Nos últimos anos, a profissional tem atuado na Secretaria de Turismo do Estado e na presidência da Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo (Febtur), a qual ajudou a criar pela “necessidade de colocar a comunicação especializada em seu devido lugar, o que não é missão simples no país do agronegócio”, diz Seleucia, que também é sócia da Tekoá Brasil, empresa que foca no desenvolvimento de projetos de turismo sustentável e administração de pousadas. Confira a seguir a entrevista, que integra a série Mulheres que Escrevem o Turismo do DIÁRIO:
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DIÁRIO – Por que você escolheu o jornalismo? Com qual editoria sonhava em trabalhar?
O sonho de adolescente era ser escritora. O jornalismo me pareceu o caminho para alcançar esse objetivo de forma remunerada. Claro que não demorou muito para perceber que são duas realidades bem distintas, apesar de muitos jornalistas conseguirem conciliar com muita competência.
Quando comecei a estudar na Universidade Federal de Goiás havia uma discussão entre ser um jornalista especializado em uma área ou ser um ‘generalista’. Eu tinha o desejo de explorar os vários campos possíveis, mas desde o início tinha uma preferência pela editoria de cultura e as oportunidades me levaram sempre para esta temática, desde estágios na Secretaria de Cultura de Goiânia e na Rádio UFT, passando pela primeira experiência em jornal, justamente na editoria de Cultura e depois em revista de variedades.
Com a mudança para Palmas (TO), assumi a editoria de Cultura do principal jornal, e a partir daí fui conquistada também pelo turismo.
DIÁRIO – Como foi a mudança para Palmas? Além da pouca concorrência no jornalismo, o que te impactou nessa ida para outro estado?
Em 1997 Palmas era o espelho da Brasília da minha infância. Além disso, trazia oportunidades de crescimento profissional e pessoal, de busca de autoconhecimento.
DIÁRIO – Pode falar mais sobre os prêmios que recebeu?
Enquanto editora de Cultura de um jornal diário não tinha tempo para me dedicar a matérias especiais, mas ao assumir a edição geral de um semanário, foi possível buscar pautas com temas variados. Meu primeiro prêmio veio com uma matéria sobre a Associação de Catadores de Lixo.
O foco era mostrar como os personagens levavam tanta dignidade a um trabalho tão difícil, desvalorizado e invisível. A premiação era do Sebrae Tocantins, o prêmio nacional no modelo que hoje conhecemos só foi lançado depois.
Conquistei outro Prêmio Sebrae, etapa estadual, com matéria sobre o desenvolvimento da piscicultura no Estado do Tocantins.
Conquistei o segundo lugar em outras duas premiações, sendo uma da Fecomércio Tocantins, sobre a mudança de perfil dos empresários que começavam a atuar com turismo no Jalapão. Essas pessoas ajudaram a elevar o nível de profissionalismo do receptivo local.
DIÁRIO – Depois de anos de experiência, o que ainda te encanta no jornalismo de turismo hoje?
Pessoas. O profissional de comunicação que não se interessa em conhecer as histórias, dores e conquistas de seus personagens desconhece a verdadeira essência do seu trabalho.
Isso vale para todas as profissões e relacionamentos em todos os níveis. O mundo seria melhor se fosse movido por mais empatia.
DIÁRIO – Qual a importância da Febtur para a comunicação voltada para o turismo? A instituição tem colhido os frutos que almejou? Como tem sido essa experiência?
A comunicação mudou completamente nos últimos anos. As redes sociais trouxeram questões e dúvidas sobre o poder do jornalismo de massa. Especificamente na cobertura turística, uma área que surgiu no Brasil há cerca de sete décadas, a Internet e a Inteligência Artificial podem ser inimigas ou aliadas, a depender da capacidade de adaptação de cada um.
A Febtur é uma resposta ao anseio de profissionais que cumprem um papel muito importante, mas estão perdendo espaço para pessoas que não têm a mesma vivência profissional e intimidade com o tema, mas sabem fazer bons vídeos e imagens com seus celulares. Não estou falando aqui dos profissionais comprometidos com a informação, tanto que integramos uma entidade de jornalistas e comunicadores.
Recentemente, a Febtur completou 3 anos de criação. É uma criança começando a andar, mas já está presente em várias cidades e estados, conta com pessoas comprometidas e respeitadas no trade turístico. É uma experiência de aprendizado constante. Eis a magia: aprender sempre, jamais estacionar.
DIÁRIO – Fale mais sobre sua atuação na secretaria de turismo, como é estar do outro lado?
Antes de atuar na Secretaria do Turismo passei pela pastas da Cultura, do Meio Ambiente, da Educação, da Administração, sempre absorvendo aprendizados e conquistando amigos. O que sou enquanto profissional é resultado das experiências em veículos e assessorias. A pasta do Turismo é especial, porque traz o conhecimento dos bastidores e a oportunidade de conviver com pessoas muito comprometidas com a temática. Claro, tudo com muito cuidado, para evitar conflitos.
DIÁRIO – Como você vê o turismo do Tocantins hoje? O Jalapão surge como carro-chefe, né? E o que mais está em alta também?
Ainda temos muito espaço para crescer no turismo. O Jalapão oferece experiências e desafios únicos, mas as Serras Gerais e o Cantão também são regiões com atrativos incríveis. Mesmo a capital, Palmas, conta com uma grande variedade de atrações, como um lago com praias e acesso muito fácil para pescadores esportivos e um distrito, Taquaruçu, com cerca de 30 atrativos naturais, entre cachoeiras, trilhas, mirantes, além de cultura e gastronomia de qualidade. Há muito espaço para empreender, o Etnoturismo, o Afroturismo e o Turismo Rural são alguns exemplos. A Febtur e seus associados sempre serão parceiros.