No centenário da Semana de Arte de 22, São Paulo vive um processo de descentralização da cultura e demais atividades, mas sem perder de vista a imponência da região central
por TÁRCIA ORESTE (especial para o DIÁRIO)*
(Artigo publicado originalmente dia 14 de fevereiro de 2022)
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Transformações culturais ocorreram nos palcos do Theatro Municipal da cidade de São Paulo há exatos cem anos. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna ocupava os espaços deste majestoso teatro, que transbordava, à época, um processo de experimentação cultural, com uma liberdade de expressão capaz de deixar para trás padrões artísticos existentes, colocando em evidência as novas criações dos modernistas.
A Semana de 22 trouxe ao Centro da cidade de São Paulo uma proposta completa de renovação do ambiente artístico-cultural, frequentemente visitado por famílias conservadoras. Artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, entre outros, marcaram época ao apresentar ao mundo novos conceitos de arte.
Até os dias de hoje, o Centro de São Paulo está aberto aos seus visitantes, e é o lugar da cidade onde tudo acontece. De acordo com a secretária municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres, tanto os moradores de São Paulo, como seus visitantes sempre encontram programação de qualidade nos equipamentos culturais da região. Muitos desses locais são também pontos turísticos, como o próprio Theatro Municipal de São Paulo, a Galeria Olido, a Biblioteca Mário de Andrade, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e o Museu da Cidade, equipamentos muito procurados para serem fotografados e para visitas culturais.
“O Centro é o ponto de encontro de todas as regiões da cidade. Por isso, é um dos espaços mais emblemáticos para se ocupar. É o local onde podemos unir quem mora nos extremos”, declarou Aline Torres.
Multiculturalismo
A diretora de Operações da Setin Incorporadora, Bianca Setin, acredita que a transformação cultural e turística adquirida pelo Centro nas últimas décadas está muito relacionada ao padrão de comportamento do público que o habita. É também notável a ampliação do turismo como um ponto muito positivo para a sociedade e a economia da cidade. A variedade de perfis contribui para a evolução do caráter cultural, o que é muito importante para uma sociedade diversa como a paulistana. Esse multiculturalismo no Centro, ocasionado também pelo caráter turístico, agrega na diversidade do comércio, gastronomia, oferta de serviços e experiências.
“Para mim, o Centro representa a história da cidade de São Paulo, com todos os seus aspectos positivos e negativos, capazes de transparecer as diversas transformações socioeconômicas enfrentadas. Como arquiteta de formação, afirmo que é uma região rica em arte e arquitetura, pois contempla bairros tradicionais e edifícios históricos. Em São Paulo, especificamente, a região central é a representação da junção do passado e de todos os componentes principais da modernidade”, comentou a diretora de Operações da Setin Incorporadora.
Programação Cultural
A programação cultural da região é pensada mês a mês para os equipamentos centrais. Em dezembro de 2021 foi comemorado o Dia do Samba. A Secretaria Municipal de Cultura convidou 30 comunidades do Samba para uma roda que durou mais de 10 horas no novo Vale do Anhangabaú. Houve também o aniversário de São Paulo, no dia 25 de janeiro, que contou com uma programação especial e ocupou não só os equipamentos centrais, mas os de todas as áreas da cidade. O mesmo irá acontecer com a celebração do Centenário da Semana de 22.
A programação começou no dia 22 de janeiro, juntamente com as festividades do aniversário de São Paulo, e vai até o dia 1º de maio. Serão 100 dias de comemorações com diversas atrações. A programação do Centenário pode ser conferida AQUI:
Para auxiliar essa vivência, também é possível conhecer os equipamentos culturais da cidade por meio da plataforma Geosampa e buscar o serviço de Patrimônio Cultural, assim como o Inventário Memória Paulistana, o Selo de Valor Cultural, os bens registrados, as esculturas e os bens arquitetônicos.
Descentralização: Cultura e Centros Comerciais
O Theatro Municipal foi palco, em 1922, desse grande evento que foi a Semana de Arte Moderna, mas passados cem anos, a ideia da Secretaria Municipal de Cultural de São Paulo é mostrar para o paulistano, e para quem visita a cidade, que os novos modernistas são também os artistas da periferia. “A gente continua pensando em programação para o Centro, mas não apenas para o Centro. A cidade inteira será ocupada pela arte”, comunicou Aline Torres.
Segundo a secretária municipal de Cultura, a cidade de São Paulo não acontece apenas no Centro. Para ela, os novos modernistas estão igualmente na periferia, e é preciso olhar para o todo. “É preciso entender que a cultura precisa ser descentralizada. Isso não significa que o investimento será retirado do Centro e colocado nos equipamentos das periferias. Descentralizar significa pensar projetos para que aquele artista que está acostumado a se apresentar na Zona Norte, ou na Zona Sul, por exemplo, possa ocupar um palco na região central. E aquele músico clássico, que geralmente se apresenta no Municipal, vá até a Casa de Cultura Brasilândia tocar para um público que desconhece o seu trabalho”, afirmou.
“Esvaziamento do centro”
Durante a pandemia da Covid-19, naturalmente, a população sentiu um “esvaziamento” do Centro, houve um distanciamento pessoal, o que também dificultou a realização de grandes eventos na região. No início desse período, foram promovidas ações online, com as famosas lives. Durante o processo de retomada, a Secretaria de Cultura teve que continuar encontrando soluções. Um exemplo foi o aniversário de 130 anos da avenida Paulista. A programação aconteceu no local com circo, contação de histórias, apresentações aéreas e pequenos shows. “Um sucesso!”, segundo Aline Torres.
“Quando a gente fala de cultura, com pandemia ou não, a saída é uma só: ocupar. Trazendo programação cultural, as pessoas aparecem, seja online ou presencial. Vale destacar que, nesse momento, ainda temos a preocupação de não gerar aglomerações, por isso sempre ouvimos o que a Secretaria Municipal de Saúde tem a dizer”, completou a secretária.
Do ponto de vista urbanístico, há muitas razões para o processo de esvaziamento do Centro de São Paulo. Na opinião da diretora de Operações da Setin Incorporadora, Bianca Setin, existe uma grande quantidade de imóveis com estruturas antigas, que não contam com a devida manutenção, ou que não contam com infraestrutura de lazer, o que faz falta para alguns moradores no dia a dia. Outro indicador importante é a baixa iluminação noturna nos espaços públicos, considerado um ponto de atenção para a segurança da região.
Há também um processo de descentralização dos centros comerciais para outros pontos estratégicos da cidade. E por conta dos últimos dois anos de pandemia, muitos comércios acabaram fechando. Para Bianca, do ponto de vista econômico, a melhor forma de contornar a situação seria por meio da união de esforços governamentais que incentivem a reocupação da região e invistam na infraestrutura dos bairros, paralelamente à presença da esfera privada, capaz de investir na construção civil e na comercialização de imóveis residenciais para suprir a grande demanda habitacional existente na cidade.
A Revitalização do Centro
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Sé, tem atuado na revitalização de diversos locais públicos. De acordo com o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, tem sido dada especial atenção à manutenção e zeladoria da região.
A Subprefeitura está empenhada na revitalização de praças e demais logradouros em todos os 8 distritos que fazem parte da área administrada pela Sé. Foram entregues, recentemente, obras de revitalização e novo paisagismo na Ladeira da Memória (Sé), Monumento Uri (Bom Retiro), Praça Dom Orione (Bela Vista), Praça Roosevelt (República), Praça Almeida Júnior (Liberdade), Largo do Cambuci (Cambuci), Praça Luís Parnes (Bom Retiro), Largo Santa Cecília (Santa Cecília) e Praça do Ciclista (Consolação). De acordo com Marcelo Salles, atualmente, há equipes trabalhando na Praça da Sé, Praça da República, Avenida Vieira de Carvalho, Praça Hélio Ansaldo e Praça Cívica Ulysses Guimarães com o objetivo de entregar espaços onde as pessoas sintam-se bem-vindas e percebam que o poder público está cuidando do local.
Seguindo uma das políticas públicas estabelecidas pelo Prefeito Ricardo Nunes, Marcelo Salles afirmou que a Subprefeitura da Sé está construindo diversos jardins de chuva pela região central para oferecer mais áreas verdes e melhoria do bem-estar da população. Esses jardins já somam mais de 40.000m² de área construída.
As regiões centrais das cidades sempre são o cartão de visita e com São Paulo não é diferente. “A maior cidade do Hemisfério Sul, maior metrópole da América Latina e uma das maiores cidades do mundo precisa ter uma região central à altura de sua importância”, declarou o subprefeito.
Investimentos e Projeções
Ainda segundo o subprefeito da Sé, a Prefeitura de São Paulo tem trabalhado para atrair empresas, facilitar negócios e trazer eventos esportivos, culturais e empresariais para a cidade. “Temos projetos alvissareiros como o Triângulo Histórico, Quadrilátero da República, Retrofit, Ruas de Comércio, entre outros. Todas essas iniciativas trazem pessoas para a região central e a Subprefeitura Sé continuará atuando dentro do seu papel para tornar a região central atraente, interessante e acolhedora para todas as pessoas”, explicou Salles.
No âmbito do mercado e investimentos na região central, incorporadoras, construtoras e mesmo operadoras especializadas no gerenciamento de hotéis enxergam um grande potencial no Centro da cidade, uma vez que, com o processo de revitalização, é verificada uma valorização direta dos imóveis e da região como um todo.
A Atrio Hotéis, empresa especializada no desenvolvimento, implantação e gerenciamento de hotéis de negócios e de lazer, lançou, em 2021, uma plataforma de locação de curta temporada chamada Xtay, que tem desenvolvido alguns projetos no Centro da cidade em conjunto com incorporadoras. De acordo com o CEO da empresa, Beto Caputo, há um interesse particular da Atrio Hotéis no processo de revitalização de construções antigas, o “retrofit” de prédios comerciais para apartamentos residenciais, com foco em locações de curta ou longa temporada. “Este movimento ajuda na revitalização do centro, trazendo turistas e novos moradores para uma região histórica da cidade, e que conta com infraestrutura disponível”, contou Caputo.
O CEO da operadora enxerga a região central com otimismo. “O Centro é rico em atrativos históricos e culturais e tem muitos imóveis disponíveis. É também uma área com boa acessibilidade e infraestrutura disponível”, comentou.
Para Caputo, as pessoas gostam de morar em ambientes que estimulam a convivência social, com serviços variados. E o Centro tem a cara deste jovem que vê o imóvel como um serviço, que quer ter liberdade de trocar de moradia de acordo com seu momento de vida.
Multiculturalismo
Na opinião da diretora de Operações da Setin, a região central é repleta de facilitadores para os moradores, já que se trata de uma área com muitos comércios, estabelecimentos estudantis e, principalmente, uma gama de opções de meios de transporte que otimizam o dia a dia das pessoas. “São Paulo é conhecida por seu multiculturalismo. E o Centro, como não poderia deixar de ser, traduz sua diversidade também na gastronomia. Tudo isso combinado, atrai uma gama de moradores que procuram por toda essa experiência”, explicou Bianca Setin. Para as incorporadoras a preservação do entorno de seus empreendimentos é vital no sucesso dos lançamentos.
A Setin tem hoje uma série de empreendimentos denominados “Downtown”, que são residenciais localizados nos principais bairros do centro de São Paulo, como República, Praça da Sé e Estação da Luz. São studios e apartamentos de até dois dormitórios destinados àqueles que apreciam a tradição da região central.
Cautela para 2022
Por carregarem um estilo contemporâneo de viver e apresentarem retorno rápido para investidores devido à alta liquidez e rentabilidade, os studios são modelos muito bem recebidos pelos moradores das grandes cidades. A incorporadora já lançou 8 imóveis na região desde 2011, em um total de 2064 unidades, com um valor geral de vendas (VGV) de aproximadamente R$ 1 bilhão, em valores atualizados.
Para o ano de 2022, as expectativas são moderadas. “Acredito que precisamos ter cautela a respeito de projeções e expectativas para 2022. Devemos, primeiramente, avaliar os riscos e compreender a conjuntura econômica do país, pois somente com esse olhar analítico poderemos tomar decisões mais assertivas, principalmente quando falamos de um ano movimentado, com grandes desafios como pandemia, eleições e Copa do Mundo”, afirmou Bianca Setin.
A população residente da área administrada pela Subprefeitura Sé é de 431.000 pessoas e a população flutuante chega a 2 milhões de pessoas transitando diariamente pela região central. “É como se tivéssemos toda a população de Paris caminhando pela região central de São Paulo todos os dias”, comentou o subprefeito da Sé. “Ainda temos muito trabalho pela frente e a Prefeitura de São Paulo tem o objetivo de fazer a cidade cada vez melhor, com a Subprefeitura Sé totalmente comprometida com esta missão”, completou Salles.
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