quarta-feira, setembro 3, 2025
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Serra dos Martírios / Andorinhas: um mergulho na história do Araguaia

Os sóis gravados nas lajes de pedra da Ilha dos Martírios do Araguaia resistem ao tempo passado e também ao tempo presente. Essas inscrições provam que, antes da era do celular e das mídias sociais, os homens já carregavam essa necessidade interna de registrar o que faziam, o que sentiam e como viviam.

Por Paulo Atzingen, de São Geraldo do Araguaia (Texto e fotos)*

Pisei aqui, na Ilha dos Martírios, pela segunda vez — a primeira foi no final dos anos 80, quando a Casa da Cultura de Marabá idealizou e realizou uma manifestação em favor da criação do Parque Estadual Serra dos Martírios / Andorinhas. A bandeira era: “Salve as Andorinhas! Legalizar para preservar! Parque já!” O manifesto deu certo e o parque foi criado em 1996, alguns anos depois da nossa bicicletada, apoiada, claro, pela imprensa local e estadual.

Serra das Andorinhas: vestígios arqueológicos e memórias do Araguaia

Nesta segunda experiência, constato, mais uma vez, que todo o trabalho realizado no passado pela Fundação Serra das Andorinhas não foi em vão. Essa Fundação, criada em 1989 e extinta no ano 2000, mapeou, catalogou, registrou e documentou todo o acervo arqueológico da região, todas as cachoeiras, cavernas, a flora, a fauna e boa parte da história dos dois lados do Rio Araguaia — ou seja, no Pará e no Tocantins.

A visita à região oferece este prato cheio de história natural, mas também de história política do nosso país. O Parque Estadual, hoje nominado Parque Serra dos Martírios / Andorinhas (PESAM), foi o território onde ocorreu, no final da década de 1960 e início da de 1970, a Guerrilha do Araguaia.

Serra das Andorinhas
A Fundação Serra das Andorinhas foi responsável por impedir que os atrativos turísticos e científicos fossem engolidos pelo tempo
Serra das Andorinhas
A visita à região oferece este prato cheio de história natural, mas também de história política do nosso país
Serra das Andorinhas
Na Serra das Andorinhas foi onde ocorreu, no final da década de 1960 e início da de 1970, a Guerrilha do Araguaia

É preciso preservar, mas com sensibilidade histórica

Nesta segunda experiência, lá em Santa Cruz, às margens do Araguaia, no lado paraense, vejo que foi criado um aparato estatal de segurança e fiscalização, com carros modernos e fiscais e policiais ambientais bem uniformizados e armados. É isso! É preciso manutenção, fiscalização e vigilância constantes! Mas é preciso também um item fundamental: profissionais que amem o que fazem e entendam seu papel.

Não basta termos apenas policiais ambientais — é necessário sensibilidade histórica, ambiental e cultural. Verifiquei alguns problemas durante a visita à região. Primeiro, as inscrições estão cobertas por musgos e líquens. Segundo, foi colocada uma placa enorme bem em frente às gravuras — uma evidente falta de sensibilidade. E terceiro, não há nenhum tipo de fiscalização ou segurança que garanta a preservação das inscrições rupestres da Ilha dos Martírios. Ouvi de moradores que já ocorreram furtos dessas inscrições.

Serra das Andorinhas
O Parque Estadual Serra dos Martírios / Andorinhas – PESAM foi criado em 1996. Antes disso, o parque foi minuciosamente catalogado pelos técnicos e cientistas da Fundação Serra das Andorinhas

A biodiversidade da Serra das Andorinhas e o papel da preservação ambiental

O Parque Estadual Serra dos Martírios / Andorinhas – PESAM foi criado em 1996. Antes disso, o parque foi minuciosamente catalogado pelos técnicos e cientistas da Fundação Serra das Andorinhas. Foram identificados 143 sítios arqueológicos e mais de 5 mil pinturas e gravuras rupestres. Visitamos a Ilha dos Martírios, já em território tocantinense, e fotografamos algumas dessas gravuras.

Na parte da flora, os estudos apontam para mais de 100 frutos comestíveis, 28 espécies de palmeiras e 85 espécies de orquídeas. Na fauna, a Fundação catalogou 572 espécies de animais vertebrados, dos quais 25 estão na lista dos ameaçados de extinção, como o tamanduá-bandeira. Na parte de espeleologia, foram documentadas 528 cavidades geológicas — as cavernas. Em grande parte delas há gravuras, pinturas rupestres e cerâmicas.

O cuidado atual com a preservação do PESAM está sob responsabilidade do Ideflor-Bio, Instituto de Desenvolvimento Florestal e Biodiversidade do Estado do Pará.

Atualmente, o Pará conta com 26 Unidades de Conservação (UCs) estaduais, 57 federais e 10 municipais.

Serra das Andorinhas
A ilha dos Martírios, fica no Rio Araguaia e geograficamente pertence ao Tocantins
Serra das Andorinhas
Foram identificados 143 sítios arqueológicos e mais de 5 mil pinturas e gravuras rupestres nesta região do Pará e do Tocantins
Serra das Andorinhas
Somente em julho de 2024, o Governo do Estado do Pará lançou, no município de São Geraldo, o plano de manejo integrado do Parque Estadual da Serra das Andorinhas

PLANO DE MANEJO

Em julho de 2024, o Governo do Estado do Pará lançou, no município de São Geraldo, o plano de manejo integrado do Parque Estadual da Serra dos Martírios / Andorinhas, substituindo o primeiro plano, feito em 2006. O documento busca assegurar a preservação dos recursos naturais e culturais da unidade de conservação, além de promover o uso sustentável desses territórios. Que essa iniciativa estatal não sirva apenas para gerar empregos e salários a funcionários públicos, mas que seja efetiva na preservação da nossa história e da nossa memória.


Sugestões do DIÁRIO para o Parque Estadual Serra dos Martírios / Andorinhas

  1. Implantar mais placas ao longo da estrada São Geraldo – Santa Cruz, indicando locais de importância cênica ou ambiental, destino do lixo e mapas com localização de estradas, vilas e atrativos.

  2. Substituir a placa “Caverna do Morcego” pelo nome correto: “Abrigo Pedra Escrita”, nome original registrado no órgão responsável por cavernas do IBAMA, o Cecav.

  3. Retirar a placa colocada em frente à Pedra Escrita e recolocá-la ao lado (à direita ou à esquerda), para garantir visibilidade ao atrativo turístico e não “poluir” fotografias e vídeos.

  4. Contatar com urgência um arqueólogo especialista em limpeza de líquen da Pedra Escrita.

  5. Sinalizar com placas a Ilha dos Martírios — apesar de estar fora do parque, por estar em território tocantinense —, visto que é muito visitada por turistas que acessam pela área do Parque. Consideramos necessário sinalizar para valorizar as gravuras, orientar sobre o destino do lixo e alertar que a depredação e subtração das inscrições é crime.

  6. Verificar se há dispositivos legais para reduzir o número de pescadores na Cachoeira de Santa Izabel.

Serra das Andorinhas
Uma dica do DIÁRIO é retirar a placa colocada em frente à Pedra Escrita e recolocá-la ao lado (à direita ou à esquerda), para garantir visibilidade ao atrativo turístico e não “poluir” fotografias e vídeos

Preservar para existir

A região da Serra dos Martírios / Andorinhas é mais do que um destino turístico — é um verdadeiro santuário da memória, da biodiversidade e história brasileira. Preservar esse patrimônio é garantir que futuras gerações, sejam estudantes ou turistas, possam se emocionar com as marcas deixadas por civilizações ancestrais, refletir e compreender a importância vital da educação ambiental. E quem sabe, no futuro, termos a capacidade de decifrar o que esses povos ancestrais queriam dizer com suas mensagens para o além do tempo.

*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do JORNAL DIÁRIO DO TURISMO DIGITAL

MÚSICA SUGERIDA: ARAGUAIA, EDNARDO

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