HEITOR REALI E SILVIA REALI (Texto e fotos)
Confesso que meus conhecimentos musicais não são dos melhores. Fico envergonhado em não distinguir um ré de um sol, bemóis e sustenidos. Mas isso não me impede de gostar e apreciar principalmente a música clássica. Sou daqueles que compartilham que a música, ao lado da literatura, é a mais arrebatadora das expressões artísticas.
Assim vou para Jaraguá do Sul, Santa Catarina, em busca da música. Ali, entre os dias 18 a 31 de janeiro, acontece o 10o FEMUSC – Festival de Música de Santa Catarina. É a quarta vez que vou assistir o que é considerado o maior festival de música clássica da América Latina. Se no ano passado meu interesse se fixou nas harpas que debutavam, agora a bola da vez é a introdução do Canto Lírico, no Festival.
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O FEMUSC é muito mais do que um festival de orquestras formados por jovens na maioria de 16 a 20 anos. É, sim, um grande projeto cultural e educativo. O objetivo fundamental do evento, que esse ano recebe 800 alunos, vindos de todo canto do Brasil e de mais 30 países, entre eles Alemanha, Bulgária, Ucrânia, Costa Rica, Estados Unidos, Cuba … e quase uma centena de professores de várias nacionalidades, “não é descobrir gênios, e sim disseminar o interesse pela música clássica”, afirma o gaúcho Alex Klein, maestro-oboísta, idealizador do FEMUSC.
A atuação de alunos e professores como protagonistas no processo de aprendizagem virou bandeira do festival e uma das razões que fazem desse evento um modelo exemplar e aplaudido em todo o mundo. “Se posso definir a metodologia do ensino musical aqui, diria que aplicamos o conceito da informalidade séria”, reforça Klein.
Dito isso, o que seduz, são as apresentações musicais que os alunos, depois de quase 12 horas de estudo, realizam em diversos espaços, como shoppings, bares, postos de gasolina, instituições assistenciais, hospitais …, tanto em Jaraguá do Sul, e nas cidades vizinhas, como Timbó, Joinville, Blumenau, Brusque, São Bento do Sul, Pomerode e São Francisco do Sul. Essa intensa agenda vale também para os professores que não têm refresco – e olhe que nessa época faz um calorão de rachar em Jaraguá do Sul –, e dão aulas pela manhã, ensaiam à tarde e regem ou participam da apresentação orquestral à noite. Nos mais recentes festivais apresentaram-se grandes nomes da música clássica internacional como Mario Ulloa, Daniel Guedes, João Carlos Martins, Ademir Rocha, Andrés Cárdenes, Alexandre Dossin, Marlos Nobre, Leon Spierer, Catherine Larsen-Maguire, Charles Stegeman, para citar apenas alguns.
O que faz o encanto de um lugar é não raro seu mistério, o que tem de inexplicável. Mas em Jaraguá do Sul o que cativa é logo visível, melhor dizer audível. A cidade é emoldurada pela música. O fio condutor para isso se encontra em seu leque do tempo. A região abraçou desde meados do século 19 a imigração alemã e a italiana, e em menor número a húngara e a polonesa. Com eles vieram o dom que mistura o corpo e a alma musical de seus atuais habitantes. Assim como Nova York se revela nos filmes de Woody Allen; Paris no de Jacques Rivette; ou Hong Kong no de Wong Kar Wai; Jaraguá do Sul com as interpretações de Mozart, Beethoven, Verdi, Debussy, Tchaikovsky …, está se tornando cidade ícone da música clássica no Brasil.
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