Desta vez não deu para ir às Cataratas do Iguaçu. Mas entrei no estômago da Itaipu Binaciional e vi seu cérebro analógico-digital. Me encostei em uma estátua de Buda, e quase meditei. Conheci um Empório Restaurante que tem uma jabuticabeira bicentenária…reencontrei amigos na Tríplice Fronteira…
Por Paulo Atzingen, de Foz do Iguaçu*
Mal havia me recuperado das emoções florestais e cacaueiras vividas na última quinzena de junho na região do rio Xingu e parto para mais um compromisso profissional, agora sob a força titânica do rio Iguaçu.
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Foram três dias nesta cidade que guarda um cheiro de floresta misturada com um spray que vem das Cataratas. Com um astral que lembra as cidades do interior brasileiro, esta cidade de fronteira tem imóveis que nos remetem ao passado com casas avarandadas e jardins frontais sem muros altos e cercas elétricas. Foram três dias com o encontro do dever em viajar e com o prazer em laborar, isso mesmo e não o contrário.
Foram três dias com o encontro do dever em viajar e com o prazer em laborar, isso mesmo e não o contrário.
Comecei visitando as colossais turbinas da Itaipu Binacional, entrei no estômago do ciclope de concreto e vi suas veias de ferro e aço sustentando uma obra construída na era de um Brasil que sonhava do tamanho que hoje ele é.
Vi o enorme cérebro analógico de onde se administra a pressão, o nível e a quantidade de água tanto nos lagos formados pela barragem, quanto das 20 turbinas da maior hidrelétrica do mundo.
Mais brasileiros e mais estrangeiros
Na mesma leva, conheci o centro executivo da Itaipu Binacional e conversei com Enio Ferri, seu diretor geral. Sensato, coerente, criou em sua gestão um núcleo de executivos para pensar o turismo com cabeça de gente grande e tornar Itaipu um atrativo ainda mais conhecido e visitado por brasileiros e estrangeiros. Falou da pintura que a mata ciliar criou ao contornar pedaços de terra na formação dos lagos de Itaipu (ao olharmos de cima do avião) e a relação que isto tem com sustentabilidade.
Livro com livro se paga
Na passagem por Foz me encontrei com Jackson Lima, o jornalista filósofo que conhece as Cataratas do Iguaçu sob o ponto de vista geológico, social e humano. Jackson é alagoano e segue em sua saga de valorar os elementos genuínos da região da Tríplice Fronteira. Atualmente desenvolve estudos sobre os jesuítas que chegaram por aqui no século XVI e foram expulsos dois séculos depois. Todos os sábados atravessa a Ponte da Amizade e vai para o Paraguai estudar a língua Guarani. Retribui com o meu “Pontes, Céus e Miragens” o seu livro “7 Arcos 3 Degraus” que ele havia me dado em 2019. Penso assim: Livro com livro se paga.
Meditar encostado na estátua do Buda
A variedade de atrações da Tríplice Fronteira pede para estendermos nossa permanência por mais alguns dias, a não ser que mantenhamos uma programação executiva, como a minha.
Executiva, pero no mucho. Visitei o Templo Budista de Foz do Iguaçu ao final de uma das tardes e nele o silêncio impera. Bem cuidado e aparentemente financiado por verbas e doações. Seus jardins são lugares perfeitos para desagitar a mente e meditar encostado em alguma estátua de Buda para quem, como eu, não tem as pernas flexíveis como os iogues. O Templo budista, com entrada gratuita, é perfeito para manter são e salvo o bêbado e o equilibrista que vive em cada um de nós.
Transmissão de pensamento
Fui muito bem recebido na ampla, limpa e clara sede do Visit Iguassu, pela diretora executiva Elaine Tenerello e sua equipe. Não tínhamos programado uma pauta para o encontro, mas o faro de repórter resolve perguntar, informalmente, sobre o balanço do Visit Iguassu no 1` semestre de 2024. A sala ficou mais iluminada. Elaine abriu um sorriso pois trazia no notebook exatamente esse balanço que iria apresentar aos seus associados no dia seguinte. Não faltou assunto, números e análises bem fundamentadas (que serão apresentadas em breve em entrevista exclusiva).
Bate-volta
Para não dizer que não pisei em solo paraguaio fiz um bate-volta relâmpago a Ciudade del Leste o que só serviu para constatar: ir ali não é fazer turismo de compras, mas sim colaborar com a sonegação fiscal.
Yabuticaba
Em minha derradeira noite na Tríplice fronteira, fui conhecer o Yabuticaba Mercadito de la Selva, um Empório-restaurante-adega com uma proposta múltipla de agradar e atender gente de todos os cantos do mundo, refinada no paladar ou não. A convite da amiga jornalista Silvana Canal, o Yabuticaba, na cidade de Puerto Iguazú, leva esse nome porque foi pensado e criado ao redor de um pé de jabuticaba que já ultrapassou os 200 anos. Fomos em um grupo de guias de turismo e agentes de viagem. Lá a agradável recepção dos anfitriões, Victor, Rosana e o chef Leonardo Becker.
Desta vez não visitei as Cataratas, mas posso garantir que este spray que a cidade respira vindo de lá transfere a todos que passam por aqui uma energia que só a Tríplice Fronteira pode oferecer. Uma tripla experiência, para o corpo, para a alma e para o coração.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO