Um mergulho na cultura e sensibilidade de Inhotim (MG)

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Por Glaucia Machado*

Saímos de São Paulo com a indicação de que iríamos percorrer alguns quilômetros, talvez umas seis horas de viagem, por uma estrada com descrições assustadoras até chegarmos a Mário Campos, pertinho de Brumadinho e de Inhotim, nosso objetivo.

A realidade foi bem diferente. Movidos a isotônicos, percorremos 10 horas de viajem com paradas contemplativas pela Autopista Fernão Dias (BR-381) que liga Contagem/MG e Guarulhos/SP, estrada duplicada e que tivemos a bênção de encontrar poucos carros e caminhões. Segura não é, mas também não foi um monstro a ser abatido no primeiro dia de férias.

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Chegamos a Mário Campos, cidade pequenina e que, pessoalmente, trouxe-me a lembrança dos cheiros, sabores, cores e sons da minha infância. É rota de trem de carga e nos surpreendeu. Coincidentemente quando íamos fazer a travessia da linha férrea, tivemos que esperar o trem passar. Senti uma forte emoção ao ouvir o som do apito e das engrenagens. Voltei à infância, quando viajávamos para o interior de São Paulo para casa da tia Nega nas férias. A cidade é minúscula e simples, porém, foi nela que encontramos uma pousada próxima ao museu e com bom preço.

A pousada é simples, mas aconchegante e com jantar à moda mineira: comida gostosa – o feijão é incomparável – e com fartura.

Logo cedo tomamos um delicioso café da manhã regado a café quente e forte, geléias, pães de todos os tipos, bolinhos caseiros, chipas e muito pão de queijo.

Movidos à isotônicos, percorremos 10 horas de viajem com paradas contemplativas pela Autopista Fernão Dias
Movidos a isotônicos, percorremos 10 horas de viajem com paradas contemplativas pela Autopista Fernão Dias

Depois de algumas orientações dadas pelo dono da pousada, fomos para Inhotim, nosso sonho de consumo (ok, meu sonho de consumo aceito pela família). Vinte minutos de estrada estreita e algumas curvas chegamos ao Museu. Antes, compramos chapéus do casal que fica na beira da estrada.

Preço justo, bom atendimento e – diga-se de passagem – indispensável o uso de chapéu e protetor solar no Museu.

A pousada é simples, mas aconchegante e com jantar à moda mineira
A pousada é simples, mas aconchegante e com jantar à moda mineira

Logo na entrada traçamos um plano pelo mapa recebido e fizemos todo o percurso que consistia nas cores rosa e amarelo.

Andamos o dia inteiro. As obras estão distantes umas das outras. Não alugamos carrinho e isso foi especial para uma família que gosta de aventuras. Andando pelo espaço vimos detalhes que passariam despercebidos se estivéssemos no carrinho.

Mas, essa é uma escolha para quem não se importa em andar.

No final da visita, de pés descalços na grama verde a sensação era a mesma que temos ao terminar de ler um bom livro
No final da visita, de pés descalços na grama verde a sensação era a mesma que temos ao terminar de ler um bom livro

 

As instalações são maravilhosas. É o maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo. Nossos sentidos foram provocados inclusive no paladar. Inhotim reserva uma área de pesquisa do verde no Jardim dos Sentidos, onde pudemos experimentar algumas ervas aromáticas.

Reservamos dois dias para conhecermos o museu e de fato são necessários
Reservamos dois dias para conhecermos o museu e de fato são necessários

Mas, a instalação que mais desejava visitar era Sonic Pavilion, 2009, ou mais conhecida como o Som da Terra, do artista Doug Aitken. Dizem que o som muda a cada hora e enquanto lá estávamos usamos nosso afinador do celular para verificar a tonalidade que ouvíamos, e qual não foi nossa surpresa: a terra “cantava” em lá. O lá é o chamado diapasão, é a partir desta nota que os instrumentos são afinados. Isso para nós, família de músicos, foi inspirador.

No segundo dia visitamos a outra parte e a última instalação que conhecemos foi a Cosmococa 5 Hendrix-war, 1973 dos artistas Hélio Oiticica – Neville D’Almeida.

Demos um mergulho na arte contemporânea
Demos um mergulho na arte contemporânea

No final da visita, de pés descalços na grama verde a sensação era a mesma que temos ao terminar de ler um bom livro: um suspiro profundo, um tempo de reflexão para tentar absorver todas as sensações a que fomos provocados.

Reservamos dois dias para conhecermos o museu e de fato são necessários. Foram bem cansativos, porém, de gostosas paradas nos “bancos” ou nas esculturas do artista Hugo França, com a natureza bem próxima e a inspiração da arte.

Demos um mergulho na arte contemporânea e o que mais nos orgulha é saber que este lugar maravilhoso fica aqui, bem pertinho de nós, dentro do nosso Brasil.

De lá, fomos para Ouro Preto imergir na arte barroca. Bem, mas essa é outra história.

De lá, fomos para Ouro Preto imergir na arte barroca. Bem, mas essa é outra história.
De lá, fomos para Ouro Preto imergir na arte barroca

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DICAS DE INHOTIM:

Fique na Pousada Villa da Serra. Comemos bem por R$ 25,00 por pessoa. A pousada fica perto do museu cerca de 20 km.

Às terças-feiras o museu é gratuito. É bem mais cheio do que nos demais dias, mas o lugar é enorme e estar cheio não significa filas intermináveis. Pegamos uma fila de 10 minutos em duas instalações e só. Nas outras não tinha fila.

Reserve pelo menos dois dias. É o tempo mínimo para apreciarmos com calma.

O chapéu ou boné é indispensável. Também o uso de protetor solar e roupas e calçados apropriados para caminhadas. Mulheres: esqueçam as sandálias, rasteirinhas e sapatilhas. Um passeio como este requer um tênis bem confortável.

Leve isotônico, hidrata rapidamente e barrinhas de cereal que alimentam. O parque possui lanchonetes e restaurantes, mas como a comida costuma encarecer muito uma viagem e somos em quatro, preferimos buscar opções mais baratas. Comemos lanchinhos durante o dia e deixamos a boa refeição para fazermos na pousada.

Se você gosta de andar dispense o carrinho. O parque tem muitos cantinhos para descanso e contemplação. Mas se você tem alguma dificuldade para caminhar, o carrinho é indispensável. Para a instalação “Som da Terra” percorremos mais de 500 metros de subida.

Deixe a instalação Cosmococa por último, é relaxante e você vai entender porquê.

Se você conhece um pouco e aprecia a arte contemporânea, ótimo. Se não conhece é bom pedir ajuda para os monitores. Mais fácil para compreender o que o artista diz com sua obra e fará mais sentido.

Divirta-se e aproveite.

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* Gláucia Machado é repórter especial do DIÁRIO, professora de musicalização infantil e prática de conjunto, escritora e compositora. Contadora de histórias. blog: www.cantodoponto.wordpress.com

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2 COMENTÁRIOS

  1. São matérias assim, que fogem do lugar comum e que mergulham em uma água clara de simplicidade, vazando a superfície, que precisamos. Quem dera se pudéssemos encontrar pessoas sensíveis menos preocupadas com o quantum, mas com o qualy – envoltas nessa aura de prazer em conhecer o destino, degustá-lo, ouvi-lo em sua totalidade, não apenas consumi-lo. Essa reportagem me remeteu a esse estágio contemplativo. Parabéns à repórter!

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