Por Bayard Do Coutto Boiteux*
O Rio de Janeiro completou 450 anos e as festividades passaram quase despercebidas. Uma falta de criatividade norteou os festejos repetindo shows e queima de fogos, o que não permitiu quase nenhuma promoção institucional do destino. Acredito que muito dinheiro deve ter sido gasto e não vi nenhum retorno, ao analisar os principais veículos internacionais e sites nos principais países emissores. Senti falta de planejamento e fiquei horrorizado com discursos de autoridades federais, no Rio, durante algumas inaugurações e entregas de prêmios.
Faltou algo que sintetizasse a diversidade que é a marca registrada do Rio. Uma ação que mostrasse nossa cara, como aconteceu, por exemplo, com a campanha ‘Rio, nossa paixão’, no Facebook, que trouxe declarações de personalidades, que manifestaram seu amor pelo Rio. Com custo reduzido e eficácia, não teve a atenção devida pois contou apenas com o trabalho de voluntários. Na nossa humilde opinião, são ações diferentes e cheias de poesia que podem dar um outro tom ao nosso Rio.
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A alegria não foi a marca do ultimo domingo, 1º de março. Sentimos uma cidade enlutada pelas constantes balas perdidas, mortes dos policiais que nos defendem, pelos ônibus sem ar condicionado que circulam pela zona oeste e zona sul, fazendo da vida dos trabalhadores, que já enfrentam um transito caótico, um martírio para chegar ao trabalho e voltar para casa.
Tive a impressão que se cantava parabéns com um aperto na garganta, de tristeza profunda por um Rio que precisa ser repensado nas pequenas ações e não só nas grandes obras, que caminham mas que sem políticas de melhoria do dia a dia vão servir para exigências dos grandes eventos, como aconteceu com a Copa, onde elefantes brancos se espalham no país e o Maracanã teve custos muito, mas muito mais altos do aqueles estimados num primeiro momento.
A cidade é de uma beleza única, disso tenho certeza, e sobretudo do potencial incomparável de mar, praia, floresta, ilhas e das novas atrações culturais. É um Rio de grandes exposições, de centros culturais, que poucos lugares no mundo possuem, mas com uma população de rua cada vez maior e violência praticada por menores, em bairros turísticos, como Copacabana e Ipanema.
A cada dia que passa, vejo um grupo de abnegados criando movimentos, fazendo denuncias, buscando na imprensa apoio para uma discussão aprofundada dos rumos de uma das maiores metrópoles do mundo. Vislumbro também que os problemas da carestia e da insegurança afugentam turistas internacionais, fazendo do carnaval carioca e do Réveillon, evento com presença significativa de turistas nacionais, com grande ênfase em São Paulo, que salva a ocupação hoteleira do Rio. A cidade também ganha todo dia novos hotéis: só na Abelardo Bueno são seis. O que vai acontecer com os mesmos, após as Olimpíadas, já que nosso crescimento de turistas internacionais é muito reduzido?
Os 450 anos do Rio foram uma grande caminhada, mas que trouxeram crescimento desordenado e falta de caminhos sustentáveis para a modernização da cidade maravilhosa. Que o aniversário abra grandes discussões no âmbito da sociedade e do Poder Publico para o ressurgimento do Rio, pelo qual somos apaixonados e não queremos em hipótese alguma deixar nosso amor acabar.
*Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, pesquisador, escritor, vice-presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio e presidente do Site Consultoria em Turismo. (www.bayardboiteux.com.br)