Neste artigo exclusivo de Bayard Boiteux, que reside da região onde acontece o Rock in Rio, ele apresenta uma série de benefícios e elogios ao maior evento de música do planeta. Mas também faz sérias críticas como morador e carioca que é. Leia:
Moro nos arredores do Parque Olímpico. Cada vez que o Rock in Rio acontece é um verdadeiro transtorno para os moradores. Participamos do evento sem querer, pois a música ensurdecedora invade nossas casas e às vezes é preciso esperar o evento acabar para dormir ou fazê-lo bem tarde. Assim é muito fácil para alguns especialistas dizerem que deveria acontecer anualmente …
Por Bayard Do Coutto Boiteux*
Fiz algumas pesquisas sobre os impactos na população e essas não foram positivas. Acredito que não basta fornecer um adesivo “morador” para conviver com o transtorno do esquema de trânsito, que este ano fechou inclusive várias estações de BRT, nas imediações, único transporte público disponível.
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Fui convidado para assistir o dia do Gun & Roses. Preferia, confesso, o dia do Cold Play e Djavan mas como diz a expressão “cavalo dado não se olha os dentes”.
Bastou andar uns 10 minutos e já estava na porta do evento. Fui por volta das 16 horas para evitar o tumulto dos horários de abertura. Uso aqui o termo tumulto para denotar o maior fluxo de pessoas. Pergunto sobre a fila de prioritários e em menos de 5 minutos estou dentro da maior experiência de música do mundo. As filas na entrada se dividem em com ou sem mochilas e a abordagem no controle de ingressos é rápida e cortês.
Como ainda estamos na pandemia opto por usar máscara dupla. No entanto, mais de 95% dos consumidores não a utilizam mesmo nas aglomerações.
A primeira característica positiva que me chama a atenção é a pontualidade dos shows. Ao fazer uma agenda de nosso roteiro pelo aplicativo do evento, que é bem elaborado, conseguimos uma verdadeira epopeia de assistir cinco shows.
Como caminho quase todo dia no Parque Olímpico, que aliás ficou fechado quase três meses para a montagem do evento, vejo uma forma de distribuição dos palcos e lojas cuidada e bem aproveitada.
Começamos por Gloria Groove, uma artista cujo nome de batismo é Daniel Garcia e que faz a multidão dançar e cantar. Fico um pouco longe do público e do stand do Itau, consigo uma visão muito boa. A sede me toma e vejo que só há disponível cerveja Heineken, energético, água e refrigerantes. Sinto falta dos drinks mas como as empresas não patrocinaram o Rock in Rio, não estão disponíveis.
Opto por conhecer o espaço Favela, a melhor surpresa da noite. Com pequenos bares que vendem comidas oriundas das comunidades, me delicio com opções bem feitas. É uma pena que os atendentes não sabem informar a procedência dos quitutes. São feitos por micro-empresários das comunidades, me diz o colaborador que nos atende. Para evitar o manuseio de dinheiro pelos que manipulam os alimentos e as bebidas a compra é feita separadamente. Um espetáculo de funk com bailarinos me faz sentir vontade de dançar e sinto uma alegria pelo poder de inclusão. O evento, embora os ingressos não sejam baratos, é um exemplo de pluralidade e Democracia.
Hora do segundo show, CPM22 no palco mundo. Embora não seja meu estilo, é bonito, deveras, ver a alegria do público cantando e dançando. Dali, vamos para o Supernova, um outro palco.
A fome chega. O Bobs que está em todos os lugares não é minha primeira opção. Me dirijo então para o Gourmet Square, pensando encontrar algo mais sofisticado. Ledo engano, os preços são bem salgados e o serviço é péssimo. Optamos por sushi, cujo combinado custa o preço médio de um rodízio, pasmem e nossos números são gritados …Não é dos melhores, mas nos dá energia para aguentar mais 3 horas, pelo menos.
As filas são enormes em qualquer local de entretenimento, até para um carrossel, as pessoas esperam quase duas horas. É estranho, mas demonstra que o público presente busca várias formas de se divertir. Vamos no espaço Natura, onde há uma verdadeira campanha pela sustentabilidade, num espetáculo com DJ, mas que falta mais interação. Há até redes para se descansar na saída.
Não sou fã de rock, mas minha curiosidade é grande para o grupo italiano Maneskin, que brinca com a plateia, mexe com os presentes. Eu apenas conhecia uma música, que toca inclusive numa novela. Conseguimos um lugarzinho na porta de uma loja de produtos oficiais, cujas camisetas custam 150 reais, em média, um boné 125 reais e um chaveiro 15 reais. Para não sair de mãos vazias compro um chaveiro com uma ecobag.
Agora estamos quase perto do show do Guns & Roses. Antes, vou participar de outra experiência sustentável com a Heineken com plantas e músicas.
A medida que a noite avança o número de pessoas vai aumentando. Higienizo minhas mãos o tempo inteiro e já começo a ficar cansado. São quase 6 horas em pé.
O toilette me chama e encontro tudo muito limpo, supervisionado e sem nenhum cheiro.
A sinalização dentro do evento é razoável, alguns seguranças circulam e não vejo nenhum consumo de drogas proibidas.
É hora de assistir ao último show. Troco as duas máscaras e me dirijo para o meio do local da plateia. Há uma paz grande. Não vi nenhuma briga, nem nenhum desentendimento entre participantes. Assisto duas músicas e começo a volta para casa, que deveria ser rápida pois moro perto, mas o percurso de saída é complicado para moradores.
Devo confessar que na atual edição não senti aquele som ensurdecedor invadindo meu apartamento. Parecia que alguma modificação foi feita pelos organizadores. A invasão de carros dentro do condomínio continua com filas duplas., mesmo na rua principal, onde é proibido estacionar com inúmeros motoristas de aplicativo e taxis. É preciso uma ação mais contundente da Prefeitura. Caso o morador tenha condições de alugar seu apartamento durante o evento, ganhará uma boa quantia….
*Bayard Do Coutto Boiteux é vice-presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ, professor, escritor e pesquisador.
Perfeito professor !!
Muito obrigado !