Uma viagem ao Vale de Humahuaca, a Argentina peruana

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Este vale grandioso de Humahuaca tem uma montanha colorida e dentro dela há segredos minerais de antanho.

Por Paulo Atzingen*


Pelos veios escorre o líquido que faz o milagre das plantas e mata a sede do povoado de Purmamarca. Cactos rechonchudos decoram escarpas como guardiões verdes. Suplicam por chuva com seus braços apontados para o céu, mas são irrigados pelo enigma que vem das serras andinas. Existe algo magnético, energético que desprendem dessas terras. Para chegar a Purmamarca, passamos por San Salvador de Jujuy, a capital, San Pablo de Reyes, Volcán, Tumbaya e Tilcara, vilarejos à margem da carretera nacional 9, a noroeste da Argentina.

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Essas 12 cores das montanhas de argila e oxido de ferro, em suas versões verde, pastel, violáceo, lilás, ocre, bordô, amarela, laranja, bege, marrom, vermelha e rosa que se multiplicam em outras cores indizíveis entregam aos que as observam uma experiência de arte em seu estado mais colossal.

O período do tempo para o sedimento de uma camada violeta para outra lilás foi o mesmo que o planeta gastou em impalavráveis parábolas em volta da estrela mais próxima. Ou 600 milhões de anos, segundo os cientistas.

Essas 12 cores da montanha de óxido de ferro e argila entregam aos que as observam uma experiência de arte em seu estado mais colossal

O vale de Humahuaca, região conhecida como Pórtico dos Andes pertencia à antiga denominação geográfica: Alto Peru. Por aqui foi traçada uma rota inca e até aqui chegou essa grande extirpe de reis que os livros contam. Aqui se vê vestígios de um grande reino perdido na história com seu povo remanescente de olhos negros e esticados, cabelo liso e pele em bronze.

As roupas dos moradores são feitas no tear com fibras de lhama e alpaca. Tingidas, ou básicas, pintam os olhos dos turistas e servem como um prolongamento das montanhas com seus tons e meio-tons.

Cactos rechonchudos decoram escarpas como guardiões verdes.

O Vale de Humahuaca, antes, com suas cores resultantes de sedimentos marinhos foi triturado por tsunamis e maremotos em eras imemoriais. A absorção de água por uma esponja gigantesca, a liquidação do úmido por raios solares implacáveis e a varreção da superfície por ciclones indescritíveis criaram uma escultura multicor que avisto hoje enquanto caminho pela feira de artesanato de Pumamarca. Sua gente é trabalhadora e as mãos da artesã comprovam isso. Deve dividir o tear com o plantio de tabaco e papas no campo.

As roupas dos moradores são feitas no tear com fibras de lhama e alpaca.

À tarde acontecem os contrários

Essas reentrâncias de vales e cumeeiras geológicas se estendem por centenas de quilômetros e formam um intrincado desenho em série, encadeado, belo e titânico, uma paisagem fractal vista sob a ótica de Deus.

As cores se alteram de acordo com o movimento, ângulo e horário que o sol se escancara no céu. De manhã a cor violeta ganha um tom mais suave se aproximando do lilás, o verde folha vira verde água, o castanho altera-se em bege e essa paleta natural gigante pinta em cada íris, em cada mente e em cada coração, sua paisagem. À tarde acontecem os contrários.

Em Gênesis 9: 13-17 acontece a aliança entre Deus e os homens quando o arco-íris surgisse no céu. Aqui, entre Reservas de Biosfera, Patrimônios da Humanidade e Parques Nacionais, entre a Bolívia e a Cordilheira, cria-se uma nova aliança entre o povo andino e os turistas que chegam para amar e contemplar.


*Viajei a Jujuy a convite da Secretaria de Turismo do Município de Jujuy
** Esta crônica de viagem integra meu 4º livro, Em busca do Realismo Mágico, que lancei em 2018.

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