A Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHE Belo Monte), no Pará, foi um dos locais visitados pela reportagem do DIÁRIO DO TURISMO em sua passagem por Altamira e região, ocasião em que seu editor, o jornalista Paulo Atzingen conheceu a Rota Turística do Cacau ao Chocolate. Trata-se de um complexo hidrelétrico gigante no coração da Amazônia, com 11.233 mil megawatts (MW) de potência total e que distribui energia elétrica para o Brasil inteiro.
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Inaugurada em novembro de 2019 (mas planejada desde 1975), a Belo Monte é um marco da engenharia mundial por seu tamanho e pelo pequeno impacto ambiental em sua implantação: ela é a segunda maior geradora de energia do Brasil – vindo atrás apenas de Itaipu – e com apenas 478 quilômetros quadrados de área alagada. É também a única usina no país 100% brasileira. O DIÁRIO aproveitou sua viagem ao Xingu para conversar com Eduardo Camillo – Superintendente de Relações Institucionais da Norte Energia.- e desmistificar aquela ideia de que a construção de Belo Monte destruiu o ambiente e dizimou povos indígenas. O que vimos é justamente o contrário, além da usina ser um incrível atrativo turístico. Confira a entrevista:
DIÁRIO: Vocês receberam no ano passado 3,8 mil visitantes, um incremento de 150% em comparação a 2022. Qual a expectativa para este ano de 2024 e qual o perfil desse público?
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Eduardo Camillo: Em 2023 aproveitamos importantes oportunidades para bater nosso próprio recorde de visitação. Exemplo disso foi a parceria com o Seminário Nacional de Operadores de Sistemas e Instalações Elétricas (SENOP), evento organizado pela Norte Energia em Altamira, com mais de 600 participantes. Portanto, sabemos que o recorde de público em 2023 deverá ser mantido, não será facilmente superado.
Neste ano de 2024, nosso objetivo é levar informações sobre a Usina Belo Monte e a atuação da Norte Energia na região para um público ainda maior, por meio do Conheça Belo Monte nas Escolas, um formato que vai até as escolas de Altamira, Vitória do Xingu e região. Mesmo assim, já recebemos mais de 1.250 visitantes na Usina até o momento – em sua maioria estudantes de escolas públicas e privadas, povos tradicionais, além de turistas de passagem pela região.
DIÁRIO: A reportagem do DIÁRIO percorreu os pontos da usina em cerca de 2 horas. Qual o tempo médio que um turista nacional ou internacional necessita para conhecer totalmente a hidrelétrica?
Eduardo Camillo: As visitas são gratuitas e têm em média 4h30 de duração, considerando o deslocamento com partida e retorno de Altamira.
DIÁRIO: Nos trabalhos preliminares à implantação da Usina foram encontradas peças arqueológicas de povos do Xingu. Como a Norte Energia promove esse salvamento cultural da nossa história?
Eduardo Camillo: Assim que foi dado início à implantação da Usina Hidrelétrica Belo Monte, a Norte Energia começou a executar o Projeto de Salvamento Arqueológico, que encontrou 199 sítios, nos mais de 17 mil hectares de áreas prospectadas, de onde foram resgatadas mais de 3 milhões de peças. É o maior acervo arqueológico já descoberto em um empreendimento hidrelétrico no Brasil.
Do total de sítios, 140 estavam dentro dos canteiros de obras ou em áreas que seriam inundadas; portanto, precisaram ser resgatados. O restante foi cercado, identificado e resguardado. Foram encontradas pinturas rupestres em 15 sítios. A maior parte está à vista e foi preservada. Os que ficaram submersos passaram por um sofisticado processo técnico, semelhante a um decalque, que permite reproduzir as figuras encontradas, já que é impossível tirá-las de onde estão.
A Norte Energia vem executando a etapa de curadoria, quando o material encontrado passa por um processo de higienização, numeração, triagem e avaliação. Todo esse processo é amplamente acompanhado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que é o órgão responsável pelo patrimônio arqueológico brasileiro.
DIÁRIO: Vocês têm uma ação “Conheça Belo Monte nas Escolas”. Como ela funciona?
Eduardo Camillo: No “Conheça Belo Monte nas Escolas”, nossa equipe leva até as instituições de ensino uma apresentação sobre as estruturas do complexo hidrelétrico e a atuação da Norte Energia na região. Por meio de apresentações e materiais audiovisuais, são abordadas características como capacidade de geração de energia limpa e renovável, além de projetos que beneficiam as comunidades do entorno do empreendimento e as estruturas da usina, a fim de despertar o interesse da comunidade escolar em conhecer mais e visitar à UHE. Isso acontece de forma lúdica, com uma linguagem mais simples e direta. Até o momento, foram mais de 4.520 estudantes e professores alcançados com essa iniciativa.
Instituições de Ensino interessadas em receber o Conheça Belo Monte nas Escolas também podem entrar em contato por meio do e-mail conhecabelomonte@norteenergiasa.com.br
DIÁRIO: Nossa reportagem verificou que está sendo construído um portal para receber os visitantes. Qual o prazo de entrega?
Eduardo Camillo: A obra em questão não é dedicada aos visitantes do programa Conheça Belo Monte. Trata-se da construção de uma portaria destinada ao controle de acesso à usina.
DIÁRIO: Existem outros projetos destinados ao público visitante e//ou turista nacional e internacional?
Eduardo Camillo: Sim, estamos em constante aprimoramento. Desde abril, por exemplo, passamos a disponibilizar rede Wi-Fi para que o visitante que chega ao Centro de Apoio ao Visitante (CAV) possa compartilhar sua experiência em suas redes sociais. Recentemente também realizamos uma visita de reconhecimento com pessoas com deficiência (PcD), visando adaptar nosso roteiro para recepção deste público, e estamos trabalhando em um projeto de reestruturação do CAV.
DIÁRIO: Além da geração de energia a vários estados brasileiros , quais os benefícios diretos à população dos municípios da região, especialmente os da Área de Influência Direta (AID): Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu?
Eduardo Camillo: Belo Monte é a quinta maior hidrelétrica do mundo e a maior 100% brasileira. A usina tem capacidade instalada de 11.233,1 MW e quantidade média de geração de energia (Garantia Física) de 4.571 MWm, podendo atender a demanda de 60 milhões de brasileiros. Possui 18 turbinas – Unidades Geradoras (UGs) – com capacidade nominal de 611,11MW. A hidrelétrica gera 1.700 empregos na região onde está instalada.
Belo Monte é responsável, hoje, pelo atendimento de 10,3% da demanda anual do país e é fundamental para garantir a segurança do sistema elétrico nacional. A atuação da usina vem sendo fundamental, porque além de evitar o acionamento de térmicas, possibilita o equilíbrio com outras fontes de energia intermitentes, sobretudo à noite, quando não há produção de energia solar. Belo Monte contribui ainda para o armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste, reduzindo a demanda sobre elas.
DIÁRIO: E quanto aos royalties e benefícios sociais diretos?
Eduardo Camillo – Desde que entrou em funcionamento, há sete anos, Belo Monte repassou à ANEEL 1,07 bi de royalties, que são distribuídos à União, ao Estado e os municípios de influência do empreendimento. O Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu (PDRSX), promovido pela Norte Energia, prevê a destinação de R$ 500 milhões para a localidade. A hidrelétrica gera 1.700 empregos na região onde está instalada.
Como consequência das melhorias levadas pelo empreendimento, o percentual de moradores abaixo da linha de pobreza em Altamira, de 25%, em 2010, (Censo IBGE) caiu para 3%, em 2023. Os dados constam da Pesquisa de Condições de Vida aplicada pelo Programa de Monitoramento dos Aspectos Socioeconômicos da usina.
A Norte Energia executou também a construção de 609 km de redes de água e esgoto e implantou 90% da rede de saneamento de Altamira, conectando 19 mil imóveis. Outro indicador é a queda em 97% de casos de malária nos cinco municípios da área de influência da hidrelétrica, resultado de um programa conduzido pela companhia para combater a doença, que é endêmica na região.
Desde a implantação da Usina, em 2010, os investimentos em ações socioambientais representam R$ 7,1 bilhões. Para as comunidades indígenas foram destinados R$ 1,2 bilhão, com destaque para educação, saúde e geração limpa de energia elétrica.
Além de construir e equipar 492 salas de aulas e 64 Unidas de Básicas de Saúde, metade em território indígena, a empresa também construiu o Complexo Penitenciário de Vitória do Xingu, reformou unidades policial e doou 80 veículos e um helicóptero para a Secretaria de Segurança Pública de Altamira. A companhia projetou ainda seis bairros em Altamira, com 4.500 casas de alvenaria para receber 20 mil pessoas da região da usina.
DIÁRIO: Camillo, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi muito bem planejada e executada em suas diretrizes ambientais, culturais e sociais. Por que ocorreram tantas críticas a sua implantação?
Eduardo Camillo: Porque ocorre muita desinformação sobre o que é o empreendimento hoje. O projeto da Usina Hidrelétrica Belo Monte passou por alterações desde a primeira proposta, elaborada pelo Estado brasileiro entre 1975 e 1980. Em outubro de 2007 foi finalizada uma atualização dos estudos de Inventário Hidrelétrico da bacia do rio Xingu e definidos novos locais para o aproveitamento hidrelétrico. Em atenção às comunidades ribeirinhas e indígenas e ao ecossistema da Volta Grande do Xingu, a área total, efetivamente alagável, foi reduzida de 3% para 0,04% da bacia, se comparável com o primeiro inventário. Não houve alagamento de qualquer Terra Indígena.
Assim, em outubro de 2007 foi finalizada uma atualização dos estudos de Inventário Hidrelétrico da bacia do rio Xingu, sendo definidos novos locais para o aproveitamento hidrelétrico. Foi mantida somente a barragem principal, deslocada 70 km à montante do local previsto nos estudos iniciais, com configuração a fio d’água, divididos em dois reservatórios interligados por um canal de derivação, como é o projeto atual. O modelo a fio d’água significa que a usina opera praticamente com o fluxo de água do rio Xingu.
O Estudo de Impacto Ambiental, aprovado pelo Ibama, teve como premissa causar o menor impacto ambiental possível e gerar energia durante o inverno amazônico, normalmente entre os meses de dezembro e maio. Todas as previsões feitas pelo órgão, na ocasião da construção de Belo Monte, há 14 anos, tinham um panorama de alta magnitude. No entanto, o impacto real causado até o momento nos dez indicativos (velocidade da água, transporte de sedimentos, floresta aluvial inundada, peixes, pesca, rendimento de pesca, condição de vida dos pescadores, mustelídeos e quelônios) do estudo apresenta outro cenário. Para velocidade da água e rendimento da pesca, por exemplo, o indicativo apresentado é de médio risco e para os outros oito indicativos, a realidade atual é de baixo risco e/ou impactos positivos. Esses são dados de cientistas renomados de universidades públicas do Brasil, integrantes do board de monitoramentos executados pela Norte Energia.
Belo Monte é importante para a segurança energética do nosso país, gera emprego na região onde está instalada e levou desenvolvimento econômico e social. Convido quem tiver interesse ir visitar a usina e andar pela região.
DIÁRIO: Verifiquei inloco que foram tomados os devidos cuidados com os povos indígenas, respeitando seus habitats e sua cultura. Após quase 5 anos do início do funcionamento da usina quais os benefícios diretos e indiretos desses povos, atualmente?
Eduardo Camillo: Junto as comunidades indígenas, a Norte Energia investiu, até o momento, pouco mais de R$ 1 bilhão, com destaque para educação, saúde e geração limpa de energia elétrica. É importante voltar a deixar claro que nenhuma Terra Indígena foi alagada pelo projeto do empreendimento e nenhuma comunidade precisou deixar seu local de origem. Antes de Belo Monte, os indígenas da região eram 2 mil em 26 aldeias. Atualmente são 8.568 – 5.096 indígenas aldeados e 3.472 em contexto urbano/ribeirinho – de nove etnias diferentes do Médio Xingu.
A Norte Energia executa 12 programas voltados para a população indígena, que se desdobram em 30 projetos, com ações para a realização de atividades produtivas, proteção territorial e ambiental, fortalecimento institucional, patrimônio cultural material e imaterial, saúde e educação.
A companhia construiu e equipou 56 salas de aula e 32 Unidades Básicas de Saúde Indígena em Terras Indígenas. Dentre as ações, destaca-se a construção de 17 pistas de pouso para atender as comunidades; as instalações de 100 rádios e 77 antenas satelitais para acesso à internet nas aldeias; a construção de 354 Sistemas de Esgotamento Sanitário em 15 aldeias e em uma comunidade ribeirinha; a implantação de 527 infraestruturas, sendo 395 aviários, 78 casas de farinha, 16 estufas para cacau, 22 paióis para secagem de castanha, 5 currais, 5 cantinas; e doações de 101 embarcações, 1 balsa, 58 carros, 132 motos, 13 tratores e 24 caminhonetes aos indígenas, além de motocicletas, voadeiras e caminhão guincho ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Altamira, mantendo 170 profissionais de saúde indígena à disposição desta unidade.
Destacam-se a construção das 11 Unidades de Proteção Territorial (UPTs) nas Terras Indígenas com a contratação das equipes (56 colaboradores); estruturação da Coordenação Regional da Funai de Altamira com veículos, embarcações, móveis e equipamentos; e a conclusão da aviventação de terras indígenas.
A empresa também estruturou e mantem desde 2015 o Centro de Monitoramento Remoto (CMR) da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que vigia 98% das Terras Indígenas (TIs) do país, onde vivem 867,9 mil indígenas. A ferramenta monitora e analisa imagens e dados para combater desmatamentos, degradação, incêndios florestais e ocupação e uso criminosos em cerca de 600 TIs da Amazônia Legal. De acordo com a própria Funai, o CMR tem sido capaz de proporcionar maior efetividade da política pública, com tomadas de decisões mais rápidas, assertivas e de menor custo para o Estado, sobretudo no planejamento e nas ações de segurança.
*O jornalista Paulo Atzingen viajou ao Xingu convidado pela prefeitura de Altamira e pela Rota do Cacau ao Chocolate
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