Viagem à Croácia – Crônica de Osvaldo Alvarenga*

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Conhecia o que da Croácia? Sabia da guerra, que esfacelou a Iugoslávia em várias repúblicas independentes, na década de noventa; ouvi dizer da seleção de futebol, que é ou foi um bom time; do Modric, jogador do Real Madrid e Dubrovnik, que a Bel visitou anos atrás e adorou. A viagem à Veneza para a Bienal desencadeou a vinda à Croácia.

Pesquisas, planejamento, tem gente que adora essa parte da viagem, aqui em casa fazemos a muito custo; definido mais ou menos o roteiro, escolhidas as cidades, vem a pior parte de todas: definir onde ficar – essa é toda da Iêda. Por fim, como chegar em cada lugar. Pelo que lemos, concluímos que ônibus e barco seriam opções melhores que o aluguel de carro ou as viagens de trem. Há vantagens e desvantagens em cada escolha, não tenho certeza se de carro não teria sido melhor. De ônibus não está mal. As maiores desvantagens são a falta de liberdade e o tempo em deslocamentos. Mas há vantagens. Passamos por cidadezinhas que de carro provavelmente não veríamos e não temos que nos preocupar com estacionamentos. Depois, viajar de ônibus por aí rende boas histórias.

De Veneza para Trieste, de Trieste para Rovinj, nossa primeira parada na Croácia. A cidade fica na Ístria, salvo engano a maior península no Adriático, e tem fortes laços com Veneza que desde o Séc. XII até as guerras napoleônicas dominou toda a região. O italiano é a segunda língua local, a gastronomia é a mediterrânea e não faltam as massas, risotos e pizzas.

 

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Rovinj, é uma cidade medieval bem preservada, o centro histórico é pequeno e lindo, há marinas – os iates impressionam – águas translúcidas, praias de cascalho e um grande parque. Mais que o verde, é o perfume da mata que fica na memória. Durante o verão a cidade ferve com muitas festas e atrações no mar. Agora no outono ficam os passeios de barco. Se houve festa por esses dias, passou despercebida.

 

De Rovinj para Plitivicka Jazera, uma reserva natural, patrimônio da humanidade. No caminho o ônibus passou pelo litoral leste da península. Se soubéssemos da existência dessas estradas sobre a montanha, estreitas e sinuosas, e das várias cidadezinhas praianas dessa costa com ar de Riviera Francesa (aí que vontade que deu de ficar em Opatija por uns dias), penso que de carro teríamos aproveitado melhor a viagem. No ônibus apreciamos a paisagem e seguimos sem intervalo para o interior do país.

Do parque, meu Deus, quanta beleza: lagoas e mais lagoas de águas cristalinas em níveis distintos, quedas d’água, cachoeiras. As montanhas são mais altas e o frio no início e fim do dia mais intenso, ainda sim lembra, um pouco, não, lembra sim, Minas Gerais. 

É bom acordar cedo e caminhar pela mata. O friozinho da manhã no outono, a floresta castanha ou quase toda castanha; macieiras, figueiras, pinheiros, castanheiras, ciprestes, lavanda, ainda há flores que resistem, os cogumelos abundam, ar fresco, cheiro bom, passarinhos que cantam… Assim foram os nossos dias no Plitivicka Jazera. Do parque, meu Deus, quanta beleza: lagoas e mais lagoas de águas cristalinas em níveis distintos, quedas d’água, cachoeiras. As montanhas são mais altas e o frio no início e fim do dia mais intenso, ainda sim lembra, um pouco, não, lembra sim, Minas Gerais.

 

Aproveito a viagem de barco, entre Split e Hvar, uma hora de catamarã, para repassar os últimos dias. Zadar foi uma fortificação veneziana. Cresceu muito desde então e expandiu para muito além da ilha. Por ser um ponto estratégico na Dalmácia foi bombardeada e destruída em várias guerras. Sobrou pouco da cidade medieval. Medonhos são os prédios do período comunista e são eles, na maioria, que recheiam a ilha. De tão feios e sem graça, formam um conjunto curioso. Em 100 anos os turistas hão de admirá-los.

 

Ainda assim, Zadar guarda algumas ruínas romanas, uma bela catedral do séc XIV, igrejas católicas e ortodoxas e o portão veneziano da antiga entrada principal. Para atrair turistas fizeram intervenções na calçada que margeia o mar, a riva. A saudação ao sol é uma instalação do arquiteto Nikola Bašić. Parece uma pista de dança, só possível ver a noite. São placas de vidro sobre células fotovoltaicas que seguem uma determinada programação e fazem um show de luzes. O conceito é interessante. Liga energia solar ao mar, à festa e tem algo a ver com os santos padroeiros da cidade. Ao lado fica o órgão do mar, do mesmo arquiteto. São tubos que vibram ao balanço das ondas para fazer música com ritmos e melodias próprias, que variam com a maré e a força das ondas. Eu gostei. Mas foi o órgão da catedral que me fez chorar. Foi preciso assistir a missa, já que o prédio não estava aberto para o turismo. Eles têm um coral afinadíssimo e o belo órgão que faz o canto ainda mais harmonioso. Da homilia, em croata, não ficou nada, mas ao final da missa, o poslúdio, em alto volume, coisa maravilhosa. Foi o ponto alto da nossa passagem por Zadar. Ah, ia me esquecendo, Alfred Hitchcock teria dito que a cidade tem o pôr do sol mais lindo do mundo. Hoje tornou-se marca do lugar. Achei bonito; sempre o é.

Rovinj, é uma cidade medieval bem preservada, o centro histórico é pequeno e lindo, há marinas – os iates impressionam – águas translúcidas, praias de cascalho e um grande parque (Crédito do autor)
Split foi sim uma bela surpresa. Havia lido que há lá poucas atrações, que uma tarde seria suficiente para ver tudo. Felizmente viajamos com tempo e reservamos duas noites para a cidade. De verdade é possível correr pelas ruas do que foi o palácio do imperador romano em uma tarde. Muito melhor é caminhar por ali de manhã, à tarde e à noite. O palácio foi patrocinado por Diocleciano que para lá foi viver após sua abdicação – é verdade que estava velho e doente e que viveu poucos anos na cidade que mandou construir. Isso foi lá pelos anos 300 d.C. Após a morte do imperador, a fortaleza continuou como residência oficial e lugar de exílio do Império Romano Ocidental; até vir a queda. Daí, o palácio começou a ter outras funções ligadas aos governos locais até cair no controle dos eslavos, transformado em complexo têxtil e então em cidadela medieval. Entrou em declínio na idade média e recuperou importância no Renascimento como entreposto veneziano. Finalmente Napoleão, o curto domínio francês, então os austro-húngaros e, por fim, a Iugoslávia comunista e chegamos aos dias de hoje. Séculos e mais séculos de transformações, camadas sobre camadas, fizeram da fortificação um amálgama arquitetônico. Mas são as casas de pedra em becos e travessas sinuosas, do período medieval, ainda bem preservadas, que prevalecem na paisagem, caracterizam o lugar e encantam.

Séculos e mais séculos de transformações, camadas sobre camadas, fizeram da fortificação um amálgama arquitetônico

Também o porão. Sim, a cidade foi construída à beira mar, sobre um porão de pilares e arcos de pedra esculpida e encaixada, que está aberto à visitação. Impressiona muito. Ali foram gravadas várias cenas do Game of Thrones o que gera um interesse especial pela cidade. Além das excursões de aposentados e chineses, há muitos turistas jovens por aqui.

Pequena e bela Croácia. A viagem continua, que venham as ilhas, mais Dubrovnik e Zagreb.

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Sobre o articulista: 

Osvaldo Alvarenga, tem 54 anos, reside em Lisboa e escreve para os blogs: Flerte, sobre lugares e pessoas e Se conselho fosse bom…, sobre vida corporativa e carreira. Atuou por 25 anos no mercado de informações para marketing e risco de crédito, tendo sido presidente, diretor comercial e diretor de operações da Equifax do Brasil. Foi empresário, sócio das empresas mapaBRASIL, Braspop Corretora e Motirô e co-realizador do DMC Latam – Data Management Conference. Foi diretor da DAMA do Brasil e do Instituto Brasileiro de Database Marketing – IDBM e conselheiro da Associação Brasileira de Marketing Direto – ABEMD, dos Doutores da Alegria e, na Fecomercio SP, membro do Conselho de Criatividade e Inovação.

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