A história da aviação no Brasil teve grande participação de Roland Garros, depois de demonstrações aéreas memoráveis no Rio de Janeiro, de incursões pessoais sobre o céu da cidade imperial de Petrópolis e as fotos pioneiras que fez da região serrana, rumo para a grande metrópole da capital de São Paulo.
Em suas memórias, o piloto francês confessa francamente o receio de enfrentar o lugar: “Foi a primeira vez que me vi responsável por uma empresa (a Queen Company Aviation), numa cidade estrangeira onde eu não conhecia absolutamente ninguém” (Mémoires, p. 278).
São Paulo, apesar das abastadas famílias em torno do cultivo do café, não era comparável à então capital federal, Rio de Janeiro, já tão conhecida dos europeus. Tratava-se de uma metrópole embrionária, mas isso ainda não era totalmente identificado.
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Porém, logo depois foi rápida a adesão dos paulistanos face ao deslumbramento dos voos do Blériot que ele pilotava, chamando a atenção inclusive das famílias Prado, Prates e, principalmente, os Chaves, cujo oitavo filho, Edu, era também um pioneiro da aviação. Logo foi proposto a Garros o uso do terreno de polo clube da moda, o Antártica (hoje Parque Antártica).
A lembrança mais viva para Garros, no entanto, foi relativa a que pôde levar, definitivamente, do ás brasileiro Edu Chaves. O altruísmo desse jovem piloto foi fundamental para que Garros cumprisse uma prova proposta pelo automóvel-clube, um prêmio ao piloto que fizesse São Paulo-Santos, ida e volta. Seria a primeira vez que alguém realizaria tal trajeto. Ávido de vencer tal desafio, Roland Garros se viu, todavia, impedido por falta de peças para seu avião, as quais haviam sido encomendadas em Buenos Aires, mas não chegaram.
Essa amizade franco-brasileira entre os jovens pilotos, Garros e Chaves, é bastante representativa das cooperações entre a França e o Brasil nos primórdios da aviação dos dois países. Se a França, no início do século XX, foi o país indubitavelmente pioneiro na aeronáutica, é impossível não se mencionar que lá voou, antes de todos, o brasileiro Santos Dumont.
Garros, que por sinal era um “demoisellite” (título dos que voavam com o Demoiselle, modelo do “pai da aviação”), sentiria a verdadeira camaradagem de Edu Chaves que, apesar dos lapsos históricos injustos que não o reverenciam devidamente, foi um ás brasileiro e, assim como Santos Dumont, deslumbrou os franceses por sua ousadia.
No exterior e no Brasil, Edu Chaves esteve à altura de Santos Dumont. Porque foi Edu Chaves (1887-1975) o segundo piloto brasileiro a tirar o brevê na escola de Étampes (julho de 1911), na França. E foi ele o primeiro piloto do mundo a realizar um voo noturno e o fez na França. E, uma vez pioneiro num país estrangeiro, o brasileiro Edu Chaves não deixou por menos em sua terra natal: foi o primeiro piloto a realizar um voo no Brasil, em Santos, em 1912; o primeiro a realizar São Paulo-Rio de Janeiro e entre o Rio de Janeiro e Buenos Aires – feito em que precedeu os pilotos da Latécoère, companhia francesa, pioneira no transporte dos correios via aérea para o Brasil.
Crédito: José Augusto Cavalcanti Wanderley
Colaborou: Nicole B. Vieira da Rocha Santos
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