O biólogo e professor do Instituto de Biociências da Unesp, Mario Rollo apresentou na noite desta quarta-feira (5) o Webinar: “Atrações com golfinhos e a exploração por trás do comércio de animais silvestres”. O evento foi organizado pelo órgão Proteção Animal Animal representado pelo gerente de Vida Silvestre, João Almeida.
REDAÇÃO DO DIÁRIO*
“Os golfinhos parecem estar sorrindo o tempo todo. E essa é uma retórica da indústria do turismo para usá-lo e justificar que não sofrem. É ao contrário, eles sofrem”, disse o professor logo na abertura do painel, citando uma campanha global em favor dos golfinhos denominada “Não se engane com um sorriso”.
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Um golfinho é feliz em cativeiro? Os golfinhos nasceram para entreter? Um golfinho merece viver em aquários, ou na natureza?
O biólogo, que é doutor em zoologia pela Unesp e pesquisador referência internacional em comportamento de cetáceos (golfinhos e baleias), enumerou questões e apresentou uma série de danos aos animais criados em cativeiro.
“A indústria fala em bem-estar animal. Como em cativeiro o animal pode ter bem-estar? Estudos científicos já comprovaram que não há bem-estar aos golfinhos, mas sim alto nível de estresse, que ocasiona sofrimento, doenças, mortes precoces”, enumerou.
Segundo pesquisa da Proteção Animal Mundial, existem mais de 3 mil golfinhos em cativeiro sendo explorados por atrações de turismo no mundo todo, os chamados delfinários. O uso desses animais para entretenimento arrecada anualmente cerca de 500 milhões de dólares com a venda de ingressos. Essa renda é obtida às custas do sofrimento animal.
De acordo com o cientista, o Brasil atualmente proíbe golfinhos em cativeiro, no entanto é um país importante na emissão de turistas para fora, em especial para os parques aquáticos em Orlando, na Flórida (EUA). “É preciso conscientizar o brasileiro para não ir a esses parques, pois ele incentiva a prática do cativeiro”, explicou.
Mario Rollo fez uma retrospectiva da interação do golfinho com a população e citou as primeiras exibições turísticas, realizadas nos Estados Unidos (Marine Stúdios – Marineland 1938; Miami Seaquarium – Flórida, 1955 e Seaworld , Califórnia , 1964)
“Esses três empreendimentos definem o padrão de tratamento de golfinhos encontrados no mundo todo. As experiências desses estabelecimentos nortearam todas as metodologias, e forma de exibição dos golfinhos”, disse.
O Grande Mercado ou o grande circo de horrores.
Na segunda parte de sua apresentação o biólogo fez uma diferenciação entre aquários, golfinários e oceanários, conceituando-os cada um deles.
“Raramente os golfinhos se reproduzem em cativeiro. O fato é que um recém-nascido de uma mãe capturada nunca terá vida livre. Além disso, a longevidade de um golfinho cativo ´é menor do que um de um livre”, afirmou. “O estresse é uma condição inevitável”, completou.
“Extremamente inteligentes e dóceis os golfinhos se organizam socialmente e a indústria se aproveita dessa inteligência. O golfinho faz qualquer coisa para você se ele ficar dois dias sem alimento”, denunciou.
O DIÁRIO participou do webinar questionando porque se esperou tanto tempo para denunciar essa prática contra os golfinhos. Mario Rollo explicou que todo processo de conscientização contra os animais em cativeiros e maltratados sempre ocorreram, mas a amplificação disso se deu por conta das redes sociais que colaboraram muito na disseminação de informações.
“É bom lembrar que essa disseminação em redes sociais também nem sempre são verdadeiras. Da mesma forma que a política, na ciência também. O importante é que nós tenhamos de uma forma mais ampla despertado para isso atacando diferentes frentes. E é necessário que mais entidades, mais pessoas, entrem nessa batalha também”.
“Uma das propostas é que vocês ajudem na causa. Todas as entidades defendem o fim do cativeiro. Os cientistas hoje são unânimes nessa questão”, adiantou.
Carta
O webinar que reuniu cerca de 90 pessoas serviu para divulgar a carta aberta que pressiona a indústria de turismo pelo fim da exploração de golfinhos em cativeiro para fins de diversão turística.
*O DIÁRIO DO TURISMO apoia essa causa e integra-a a seu projeto Turismo Ético e Responsável – que tem o apoio das seguintes empresas e entidades: Braztoa, Accor América do Sul, Operadora AsiaTotal, Agência Indo Ásia Tour, Operadora Raidho, Agência Roraima Adventures.