por Fábio Steinberg*
A transformação da aviação em transporte de massa fez o número de passageiros em todo mundo crescer exponencialmente. Basta dizer que em 2016 as companhias aéreas devem receber a bordo mundialmente 3,6 bilhões de pessoas, prevê a IATA, associação internacional de transporte aéreo. Mas a explosão de viajantes promoveu um efeito colateral. É que nem todos sabem se comportar bem nos aviões. Muitos pensam que estão em casa ou entre amigos, e por vezes ignoram noções básicas de convívio.
Com isto, estão se tornando cada dia mais frequentes incidentes causados por passageiros mal-educados. Em casos extremos, situações inesperadas trazem prejuízos às companhias aéreas que podem variar entre 10 mil e 200 mil dólares por episódio.
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São conflitos que podem começar por uma simples discussão sobre inclinação de assentos, até chegar a agressões físicas. Há vários exemplos de situações que já provocaram até pousos de emergência. Foi assim depois que um passageiro da Qantas acendeu um cigarro no banheiro e socou um membro da tripulação. Ou quando um bêbado que voava pela Norwegian Air desafiou as regras com um cigarro eletrônico, desligou os detectores de fumaça, e a seguir agrediu um comissário de bordo. Ou o sujeito em voo da United que não só se recusou a sentar como exigia o tempo todo ser servido de amendoim e biscoitinho.
Houve a agressão de um passageiro a uma aeromoça com cinto de segurança seguido de mordidas que tascou em passageiros, mesmo depois de amarrado à poltrona com fita adesiva. Nem mesmo a primeira classe escapa do fenômeno. Uma advogada que viajava pela US Airways, depois de entornar três taças de vinho junto com pílula para dormir, destruiu sua poltrona e a seguir tentou quebrar a janela do avião com um controle remoto.
O Brasil não está imune a estas situações: recentemente um grupo de 52 adolescentes foi retirado de um voo da Azul pelo comandante por algazarra e mau comportamento, inclusive por um deles tentar fotografar a calcinha da aeromoça.
Uma pesquisa sobre etiqueta a bordo realizada nos Estados Unidos pela Gfk a pedido da Expedia, identificou os tipos de passageiros mais irritantes. Em primeiro lugar, vem a criança que chuta a parte traseira da poltrona da frente, ou que é excessivamente inconveniente ou gritante, enquanto os pais fazem a maior cara de paisagem.
Logo a seguir, o passageiro fedorento e sem a menor noção de higiene. Depois, há o barulhento, que fala alto ou ouve som em alto volume. Seguem na lista dos inconvenientes o bêbado e o tagarela, capazes de não dar paz ao vizinho de assento durante todo o voo. Há também o paquerador, o que tira sapato e meia sem qualquer cerimônia, o “bexiga solta” que vai a cada momento ao banheiro, o mastigador compulsivo de salgadinhos, o homem-canguru que saltita de poltrona em poltrona e o apressadinho que fura fila no desembarque, entre outros.
A mesma pesquisa dedicou um capítulo para a reclinação do assento. Um terço dos pesquisados gostaria que as poltronas fossem fixas ou com movimentos restritos a certos horários do voo. Um terço disse que não costuma reclinar, enquanto 30% dos demais só o fazem para dormir e 13% apenas se o passageiro da frente reclina, provocando um efeito dominó. Há ainda 26% de vingativos, que só fazem isto para punir o comportamento grosseiro do ocupante da poltrona traseira. Finalmente, existem os insensíveis: 10% reclinam mesmo que o passageiro de trás seja muito alto, ou se trate de uma mulher grávida.
No melhor estilo do “perguntar não ofende”, a pesquisa revelou ainda que 1% dos viajantes tiveram relações íntimas durante o voo. Se isto é verdade, aí é outra questão.
* Fábio Steinberg é jornalista e administrador, trabalhou 18 anos na IBM e também foi executivo em comunicação na AT&T, Hill & Knowlton e Rede Globo. De 2000 a 2013 atuou como consultor em comunicação empresarial. Atualmente, escreve sobre turismo, viagens, negócios, tecnologias e mobilidade. É autor dos livros Ficções Reais (sobre o mundo corporativo), Viagens de Negócios e O Maestro (biografia).