A guerra do WhatsApp não é só com a Justiça, é com as operadoras

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(Ramón Muñoz – El País)

A telefonia móvel nasceu da necessidade de falar em movimento. Essa funcionalidade mudou radicalmente nos últimos tempos. A generalização dos smartphones, ou telefones inteligentes capazes de se conectarem à Internet, e o aparecimento das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, revirou essa funcionalidade básica de telefonia. A Internet está devorando a telefonia móvel no mundo, e, no Brasil, as operadoras brasileiras tiveram uma prova acachapante de sua perda de hegemonia com a comoção provocada pela interrupção por quase 13 horas do WhatsApp, em punição pelo não cumprimento de uma medida judicial brasileira.

As bolhas tecnológicas
As mensagens de texto há tempos se tornaram um anacronismo. E agora chega a vez dos telefonemas. Trata-se uma tendência global. Essa mudança de hábitos, que desloca o usuário de um universo analógico e individualista para outro digital e socializado, tem uma dupla consequência empresarial e sociológica. No caso do Brasil, também jurídica e geopolítica: afinal, como deve ser a relação dessas empresas globais de aplicativos —o WhatsApp foi comprado pelo Facebook— com as justiças nacionais?

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Seja como for, quanto maior a economia na comparação entre as tarifas tradicionais de telefonia e o uso de aplicativos como WhatsApp, mais rápida é a transição, e foi exatamente isso que aconteceu no Brasil. No âmbito dos negócios, as operadoras veem suas receitas tradicionais com tráfego de voz desabarem e tentam compensar essa queda com faturamento por uso de dados. Por ora, o balanço é negativo porque os planos de tarifas fixas de dados móveis se mostram mais acessíveis que a receita com as chamadas, sujeitas a despesas extras, como o custo de sua realização. Mas o fenômeno mais desestabilizador para as contas das empresas é o wi-fi, que passou a ser o principal recurso de navegação para os dispositivos móveis.

No Brasil, de acordo com a Anatel, o número de novas linhas de celulares diminuíram pela primeira vez em anos. Entre abril e outubro, foram 10 milhões de celulares a menos conectados, num resultado que analistas atribuem tanto à crise econômica como ao uso de aplicativos e wifi. Na Espanha, os dados oficiais mostram a importância do wifi. Um total de 73,6% dos usuários com smartphone se conecta habitualmente a redes wi-fi e apenas 8,3% recorre exclusivamente às redes de banda larga móvel para acessar a Internet, segundo os dados oficiais espanhóis. “Os consumidores não querem surpresas em sua conta. Percebem o wi-fi como um serviço gratuito e ilimitado, embora na realidade esteja sujeito a uma tarifa mensal. Por isso, preferem consumir dados a consumir voz, apesar de empregarem esses dados para falar”, diz o porta-voz de uma operadora do país.

Apelo das operadoras no Brasil

No Brasil, o WhatsApp já é o aplicativo mais usado pelos internautas (93%), segundo pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Ibope. Por isso, quando a Justiça anunciou o bloqueio do WhatsApp, as operadoras em guerra fria há meses com o aplicativo, apenas anunciaram que cumpririam a decisão. A reação forte dos brasileiros em rechaço à suspensão do serviço, no entanto, deve ter feito as operadoras do setor pensar duas vezes antes de continuar uma campanha contra o aplicativo e similares, que flertou, inclusive, com ações judiciais. O principal linha de argumentação é chamar o WhatsApp de serviço pirata.

Em setembro, o sindicado das empresas do setor, o SindiTeleBrasil, fez uma nota que misturava protesto e apelo para falar de sua perda de espaço: “A concorrência desigual, injusta e mesmo desleal por parte de algumas OTT’s (serviço over-the-top), que ofertam serviços de voz, vídeo e mensagens de forma similar aos serviços de telecomunicações, pode colocar em risco o crescimento da infraestrutura, o emprego do brasileiro, a arrecadação nos níveis municipal, estadual e federal e a própria sustentabilidade do setor”, disse a entidade.

O SindiTeleBrasil diz defender “uma discussão profunda sobre a revolução digital” e cobra do Governo Dilma Rousseff uma definição. A solução, como em outras áreas da economia como táxis e hotelaria, não parece fácil e tampouco parece haver volta atrás.

Na Espanha

De fato, o panorama não é diferente na Europa. Para desgraça da Telefónica, Vodafone, Orange ou Yoigo, as principais companhias espanholas, os usuários falam e navegam mais que nunca por celular, mas cada vez gastam menos ao fazê-lo. A despesa dos domicílios da Espanha em telefonia móvel caiu 4,2% no último ano e o gasto médio mensal passou de 29 a 27 euros (120 a 110 reais), de acordo com os dados da última edição do informativo As TICs nos Domicílios Espanhóis, correspondente ao primeiro trimestre de 2015. Esse mesmo estudo revela que a segunda principal característica que os consumidores valorizam quando renovam seu celular é a conexão wi-fi (64,7%), só superada pela câmera (79,1%). Consequentemente, as receitas por telefonia móvel caíram 9,8% em 2014, enquanto as de banda larga móvel cresceram 4,4% e as de banda larga fixa aumentaram 5,5%, segundo o informe oficial correspondente ao quarto trimestre de 2014. Paralelamente, o uso dos aplicativos de mensagem instantânea, que agora se complementam com serviços de voz, como o WhatsApp, se generalizaram igualmente em tempo recorde.

“O sucesso do WhatsApp pode ser decorrente de uma convergência entre SMS e as redes sociais. Por um lado, guarda o respeito à privacidade; por outro, permite a troca de mensagens em grupo, emulando uma rede social, mas sem que o conteúdo seja público, e sem que o usuário tenha a impressão de que seu conteúdo está sendo rastreado com fins publicitários, como fazem o Facebook e o Google”, diz Frederic Guerrero-Solé, professor de Comunicação da Universidade Pompeu Fabra.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Na época das Operadoras de Telefonia Estatais, mesmo possuindo a “chancela” do governo, buscavam sempre o aprimoramento e, principalmente tinham a preocupação de manter o sistema em atividade. Quem tem mais de 40 anos se lembra dos descontos que haviam para ligações e, posteriormente, conexões à internet, após às 20h até às 6h, do dia seguinte e, durante o dia todo nos finais de semana e feriados. Havia o sistema de telex: ponto a ponto e circulares, lembrando o SMS e WhatsApp, respectivamente, nos dias atuais, resguardadas as proporções claro, já que o telex permitia textos bem longos, como as mensagens de e-mail. Busquei “agradar” à operadora que uso para telefonia e internet, inicialmente com um número para acesso à internet e outro número para telefonia, porém quando percebi que fazia poucas ligações telefônicas passei a ter um número apenas, cancelando a linha que era exclusiva à internet. Com a questão de pacotes de dados, decidi fazer a adesão aos 100MB/dia ao preço de R$ 1,99/dia. O que percebi é que, de início, a franquia logo expirava, depois percebi que quando conseguia ficar mais tempo conectado a velocidade era reduzida e, nos dias atuais há uma parada na conexão, várias vezes durante o uso, de aproximadamente três minutos. Lembro que também acontece de pedir pacote adicional, várias vezes, mesmo assim, a Operadora Não se sensibilizou/sensibiliza de oferecer serviço à contento. Fiz um breve relato do que vivenciei e vivencio com a telefonia, porque várias vezes me pergunto: será que falta competência tecnológica para atender a alta demanda pelos serviços ou haveria desinteresse na ampliação das torres de transmissão de dados e cabeamento necessários para oferecer o serviço continuadamente? No mundo dos negócios e em pleno século XXI, existir uma atividade essencial com tantas limitações, como a telefonia e internet, parece inacreditável !!!

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