Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado
De frente para a Cordilheira dos Andes e cercada por paisagens marcantes, a cidade de Esquel, a 2 mil km ao sul de Buenos Aires, está num dos mais belos trechos da Patagônia argentina. Rica na cultura galês que para lá imigrou há mais de 150 anos, a localidade se apresenta para o turismo brasileiro e oferece além de toda sua beleza e hospitalidade, o encanto do novo, do desconhecido, de um destino a ser desvendado.
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A cidade de Esquel é pequena, cerca de 30 mil boas-vindas te aguardam. Ela é arejada, os prédios não têm mais de três andares, as ruas são arborizadas e a maioria das casas é de madeira, construídas no estilo montanhês que prometem em seu interior um encontro com sonhos e delícias. Tudo na cidade desperta interesse: uma loja, um restaurante ou uma pousada. De qualquer lado as montanhas são visíveis e se harmonizam por trás das casas. Os ventos trazem um aroma doce, de flores ou de frutas. Ali a natureza é benévola com o ser humano.
Inverno, Primavera, Verão e Outono. Esquel reserva belezas a cada época do ano. No outono, as montanhas se enfeitiçam com as tonalidades de vermelhos, laranjas e amarelos de suas árvores. Folhas nestes tons revestem os caminhos que ao lado de musgos e troncos caídos, parecem nos levar a um mundo encantado. O inverno traz neve que cobre os campos com um manto liso, ótimo para esquiadores. Verão e primavera é a época em que a cidade explode em flores, e torna-se a capital argentina das frutas finas como a cereja, morango, framboesa, blueberry e cassis. A atmosfera na região é sempre poética.
Você escolhe a época e o roteiro. Saindo de Esquel vale a pena alugar um carro e cair na estrada. Qualquer que seja o trajeto, o cenário é um espetáculo. Atraídos pelas encostas coloridas das montanhas, escolhemos nosso primeiro destino: o Bosque de las Lengas. A Lenga (Nothofagus pumilio) é uma árvore representativa dos bosques andinos-patagônicos do sul da Argentina e Chile e se adaptam bem nas escarpas das montanhas. Nosso objetivo era conhecer Trevelin, um povoado distante 25 quilômetros de Esquel que tem na rica cultura galês seu principal atrativo. Além de experimentar o chá típico na “Casa de Te Nain Maggie”. Este é um lugar que deve ser visitado e saboreado. Tortas regionais do País de Gales, como a negra e a de nozes, pães de centeio, geleias e um delicioso chá podem ser ali degustados.
No inverno a neve está à espreita. Os amantes desta natureza encontram em Esquel uma grande variedade de cenários, e as nevascas são poderosas chamadas para esquiadores que com roupas coloridas gingam sobre a neve. La Hoya, um centro de esqui localizado a 15 quilômetros da cidade, é considerado como tendo a melhor neve da Argentina. Exagero? Com certeza não. A particular orientação de suas pistas, de frente ao sul, permitem manter a excelente qualidade da neve seca em polvo. Para os experts, este detalhe é o grande diferencial, além do traçado de suas 24 pistas, dedicadas desde aos principiantes até os mais audazes. Elas se desenvolvem desde os 1.350 metros até os 2.000. O que também atrai os visitantes é a localização do centro de esqui. Hoya significa grande concavidade o que permite aos esquiadores uma paisagem especial e também abrigo dos ventos fortes.
Puro prazer da aventura
É a grandeza daquelas paisagens que provoca no visitante um misto de desbravador e aventureiro. Quem manda nesse território é a natureza e notáveis surpresas nos são ainda apresentadas. A começar pelo Parque Nacional Los Alerces, a 50 km de Esquel. Entre lagos e rios, este parque com mais de 260 mil hectares é surpreendente. O alerce é uma espécie de pinheiro que pode atingir 50 metros de altura, três de diâmetro e alcançar 4.000 anos de idade. Para conhecer os alerces milenares, a melhor alternativa é uma excursão lacustre pelo Lago Futalaufquen, pelo Rio Arrayanes até o Lago Verde. Dali desembarcamos e entramos no misterioso alerzal milenário. Diferentes atividades podem ser ali realizadas, como o trekking, cavalgadas e pesca desportiva.
Esquel reserva outras aventuras, como o passeio pelo Velho Expresso Patagônico. Uma viagem no túnel do tempo que te leva lá pelos idos da década de 1930…ou antes. “La Trochita”, como é mais conhecido o trem a vapor, percorre em uma hora o itinerário de Esquel até a localidade mapuche de Nahuel Pan. Neste vilarejo um rústico e bem informativo museu convida a conhecer a cultura desse povo que foram os primeiros habitantes da região. As salas de suas casas foram transformadas em lojinhas, onde se vendem artigos de lã de ovelhas tecidos pela artesãs, além de empanadas e tortas doces.
A sobrecarga visual de Esquel é algo digno de nota, e isto se manifesta no fim de tarde quando nuvens lenticulares, aquelas que sugerem enormes discos-voadores surgem no céu.
Montanhas que enfeitiçam, volta ao passado por um trem que cruza a pradaria e que a qualquer momento nos traz imagens de filmes de cavaleiros-bandidos tentando assaltar o trem, pinheiros milenares, esportes radicais, muita neve e hospitalidade. O que mais quer um viajante?