458 anos: Rio de Janeiro, a cidade das belezas e das contradições

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Artigo sobre o aniversário do Rio de Janeiro, de Bayard Do Coutto Boiteux, neste 1º de março, faz uma análise poética da cidade, mas não poupa críticas e reflexões sobre a apropriação indébita e política de um Rio de Janeiro turístico, universal e muito maior daquele Rio que os oportunistas  de plantão não compreendem mas sobrevoam como aves de rapina.

por Bayard Do Coutto Boiteux*

Meu Rio, onde nasci, em plena Tijuca tem sabores e odores que me remetem a várias reflexões. Hoje, num calor infernal, a cidade faz 458 anos. Paraíso tropical, com suas praias, seu verde, sua gente acolhedora, sua gastronomia inovadora, seu acervo de arte, seus passeios inusitados encantam quem aqui mora e os que nos visitam.

Quando acordo bem cedo e caminho pelas áreas que circundam meu condomínio sinto no ar um cheiro de amor inusitado, misturado com suor, que me faz pensar nas contradições do desenvolvimento  de uma cidade, que vive momentos de muita tristeza mas também de junção de afeto e  fervor frenético em seus blocos carnavalescos e na possibilidade de criticar com entretenimento, no recente Desfile das Escolas de Samba na Sapucaí.

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A realidade da metrópole carioca é um conjunto de bolhas, onde se acomodam tribos, que dentro de suas especificidades vão sobrevivendo. A palavra-chave é conseguir respirar, com tanta poluição dos que insistem em negar a vida paralela, que se instala em algumas áreas com verdadeiros submundos de inquietações.

O Turismo é um epicentro das falas que se contradizem no glamour da prestação de serviço. Colaboradores que se utilizam de um transporte público precário  vivem dias de realidades frívolas para os mesmos, na ofuscante experiência de rir e agradar, para voltar para casa e ter seu trabalho garantido. Alguns conseguem se alimentar, ter plano de saúde e mudar rumos de um peso que carregam, sem sentido para aqueles que são servidos. Outros, vivem sonhos de participar de viagens internacionais em famtours, com uma contrapartida de tantas dificuldades, que prefiro me calar.

A gestão administrativa  busca soluções mas faz marketing institucional para se manter na mídia e preparar as próximas eleições. Acaba ocupando os cargos com afilhados e perpetua a utilização dos espaços públicos, como comitês eleitorais.

O Rio, que me faz lutar até hoje, sem medo, sem querer agradar a todos, sem precisar de conselhos de administração ou verbas públicas, por menores que sejam, para projetos associativos, que cuidam do ego, de quem os  coordena vive um período de instabilidade. A gestão administrativa  busca soluções mas faz marketing institucional para se manter na mídia e preparar as próximas eleições. Acaba ocupando os cargos com afilhados e perpetua a utilização dos espaços públicos, como comitês eleitorais. Será que conseguiremos em algum momento caminhos diferentes?

Meu Rio, você precisa de gente que queira mudar sua vocação de mero figurante, no processo de crescimento sustentável. Que de mãos dadas, busque um outro norte para sua concretização. Pare de pensar em projetos mirabolantes e desenvolva ações pequenas, que reduzam a desigualdade social e o descrédito, trazido pelos intolerantes de tudo aquilo que é diferente.

Evoluímos um pouco  nos últimos anos na Cidade Maravilhosa, embora tenhamos retrocedido em décadas, no âmbito da administração federal, que hoje tenta se reerguer mas infelizmente ainda precisa das velhas raposas, para não cair.

Parabéns, meu Rio de Janeiro, você é merecedor de nossas palmas, sobretudo os moradores mais humildes que brigam para acordar diariamente e traçar uma meta de viver, com tantas incongruências mas como uma resiliência, que a COVID nos ensinou.


Bayard Do Coutto Boiteux é um cidadão do mundo, que busca entender contradições e propor debates e desafios.

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