Encontro reuniu líderes do setor, apresentou tendências e trouxe dicas para uma gestão mais eficiente
São Paulo recebeu nesta segunda-feira (15) a sétima edição do Fórum Nacional da Hotelaria (FNH), realizado no Pullman São Paulo Vila Olímpia. Promovido pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), o evento reuniu executivos, investidores, fornecedores e especialistas do setor em uma programação que se estendeu do início da manhã até o final da tarde.
Por Bruno Almeida, colaborador do DIÁRIO
Com o tema “Conhecimento e Inspiração”, o encontro começou com o designer Hans Donner apresentou a palestra “Live Your Time: Design, Tempo e Vida“, na qual refletiu sobre como o design influencia a percepção do tempo e pode inspirar novas experiências.
Na sequência, o presidente do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze, abordou a economia brasileira e destacou o papel estratégico do turismo no desenvolvimento do país. “A mensagem que eu quero deixar para vocês aqui é que o turismo e a hospedagem são um processo de resiliência”, afirmou.
Após Dietze, o professor da ESSEC Business School Paris e sócio da Noctua Advisory, Paulo Salvador, apresentou a pesquisa “Tendências dos Canais de Distribuição”, realizada em parceria com o FOHB. Ele destacou que a gestão eficiente desses canais pode trazer maior rentabilidade aos hotéis. “Passar para o lado da distribuição direta representa uma economia da ordem de R$ 10 milhões em pagamento de comissão, portanto isso é geração de valor”, disse.
O economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), deu continuidade ao encontro explicando como a tendência de servitização pode trazer novas oportunidades para o setor. Para ele, apesar dos desafios conjunturais, “o setor tem conseguido crescer ano a ano. Hoje o nível de volume de receita do setor é quase 20% acima do que era antes da pandemia, mesmo com tudo que o setor passou”.
Alimentos e hotelaria
Em Foodservice no Coração da Hospitalidade: Inovação, Tecnologia e a Jornada do Novo Consumidor, a CEO da Gouvêa Foodservice, Cristina Souza, expôs as principais tendências de consumo alimentar e começou com uma provocação para o setor, questionando se ainda há resistência ao uso de tecnologia. “Todo mundo vai se lembrar do famoso bloquinho do garçom que ia lá tirar o pedido”, brinca.
“Uma pergunta que a gente pode se fazer é se a gente está utilizando a tecnologia para resolver problemas do futuro ou se a gente está usando a tecnologia só para resolver os problemas do passado. (…) Hoje a gente tem falado muito sobre eficiência extrema, gente. Não dá mais para gerenciar de uma forma flexível o setor de alimentos e bebidas de uma forma geral”, afirma.
Ela defende atendimentos mais digitalizados como forma de não “perder competitividade”.
Na parte da tarde, Toni Sando, presidente executivo do Visite São Paulo, defendeu a importância dos Convention Bureaus para o aumento do fluxo de viajantes. “O destino está muito ligado aos equipamentos”, afirmou, ao reforçar a necessidade de ações integradas entre turismo, hotéis e a cadeia produtiva.
O sócio-diretor da HotelInvest, Cristiano Vasques, apresentou o Panorama da Hotelaria, estudo que revelou custos ainda elevados para novos empreendimentos, mas apontou aumento no número de turistas vindos de países do Mercosul. “O foco hoje em dia é de produto mid-scale, super econômico, mas mais mid-scale do que o econômico, e principalmente franquias, que estão ganhando espaço das administrações tradicionais”, explicou.
Hotelaria sustentável
Na palestra A Evolução da Matriz Energética do Brasil, o especialista de matriz energética Wilson Ferreira Jr. falou sobre fontes sustentáveis e o mercado livre de energia e a relação com os hotéis. “A maioria de vocês têm hotéis em áreas litorâneas”, alertou no início da palestra ao lembrar que as regiões costeiras serão ser as primeiras afetadas pelo aumento do nível do mar e das variações climáticas extremas, como as tempestades mais violentas que atingem o planeta.
Ele aponta três caminhos com os quais o setor hoteleiro pode contribuir para uma transição energética sustentável e ajudar na adaptação para resistir por mais tempo a esses efeitos.
- “Identificar os riscos e a vulnerabilidade das cidades a essas mudanças climáticas e ajustar o comportamento. Por exemplo, os locais de construção — certamente nós vamos colocar as construções mais longe de onde a gente pode ter problema, principalmente com o aumento de água nas costas”.
- “Adaptação de infraestrutura, que é construir estradas e edifícios fora das zonas de exploração. Vocês viram muito isso no caso (das enchentes) do Rio Grande do Sul. Várias cidades alagadas, várias rodovias alagadas. Isso são coisas que a gente tem que começar a olhar, são condições da adaptação”.
- “Você tem que adaptar também às inundações, às ondas de calor, onde que há mais probabilidade dessas coisas acontecerem. E em algumas adaptações climáticas, eu vou exigir transformações completas, como mover o desenvolvimento para fora da área costeira por conta da elevação no nível do mar”.
O investidor e head do WhatsApp para Brasil, Índia e Indonésia, Guilherme Horn, abordou o papel da inteligência artificial (IA) na palestra “O Mindset da Inteligência Artificial”. “Não é para daqui a dez anos, não é para daqui a vinte anos, isso é agora”, afirmou ao ressaltar como a tecnologia já é decisiva para o setor.
Ele cita os chatbots — software para simular conversas humanas e interagir com usuários — como exemplo bem-sucedido da IA na hotelaria. “Não tenha medo de experimentar”, pediu o executivo ao público.
O evento seguiu com o debate Hospitality Real Estate: de volta ao protagonismo. Para o diretor executivo da CBRE Brasil, empresa de serviços imobiliários comerciais, Paulo Mâncio “se o Brasil não tiver um problema muito grave com relação à economia, nós somos muito resilientes e a gente está construindo um ciclo importante”, começou. “A gente teve em 2013, 2014, a melhor performance da hotelaria no Brasil (na hospitalidade), e agora a gente está muito próximo. Alguns indicadores dizem que a gente já passou, alguns indicadores dizem que a gente está empatado”, revela.
A sétima edição do FNH foi encerrada com a palestra do filósofo Mário Sérgio Cortella, que tratou de liderança, propósito e o papel das pessoas na transformação organizacional, trazendo uma reflexão inspiradora aos participantes.
A organização do Fórum anunciou a data da edição de 2026: 14 de setembro.
