Luiz Thadeu se oferece ao voo de si mesmo e conta em seu 1° livro “Das Muletas fiz Asas” , sem figuras de linguagens ou firulas da inteligência artificial, seus primeiros passos na Ilha do Amor, São Luis do Maranhão, e de suas viagens, muitas viagens, pelo planeta.
Por Paulo Atzingen, de São Paulo*
O livro é inspirador, paradoxal, porque Luiz mostra-se por completo, aberto, sincero, ao reconhecer suas limitações e com todas elas alcançar sonhos, objetivos e aspirações.

Luiz nos apresenta um amor próprio – que não é confundido com egoísmo ou soberba tão comuns hoje em dia – e esse amor e fraternidade transborda em sua obra. Ele não tem vergonha de despir-se de orgulhos, vaidades e complexidades e toca seus leitores com uma simplicidade genuína, uma beleza sutil e uma franqueza desconcertante.
Nascido na capital maranhense, de família humilde, com seu livro Thadeu ergue-se à altura de qualquer imortal, de qualquer academia de letras, de qualquer estado brasileiro por sua coragem e força intrínseca, por sua garra de levantar-se do chão e não aceitar que seu destino fosse definido pelos ferros prensados e retorcidos de um caminhão sobre suas pernas naquele dia 11 de julho de 2003, em Natal, no Rio Grande do Norte.


Em “Das Muletas fiz Asas” ele conta – antes de iniciar as narrativas de mais de 140 países visitados – que nasceu à fósceps e assim sua vida foi traçada a ferro e fogo, no entanto o que parecia um fim, pintou-se de um recomeço.
Sua luta pela vida; e vida em abundância diga-se, tem seu cerne na infância quando conviveu com missionários americanos em São Luís e por sua paixão pelo conhecimento, pelos livros, por sua cultura e pelos poetas de sua terra. “Nunca fui pobre na vida, sempre tive o melhor que uma pessoa pode ter: uma mente rica”, escreve em seu livro e me prova pessoalmente em um café que tomamos em São Paulo.
E é essa riqueza que Luiz nos oferece de bandeija em “Das Muletas fiz Asas”: sabedoria erigida com a experiência de um ser humano que soube extrair de sua dor e sofrimento o combustível para manter-se nas estradas, nos aeroportos do mundo!


Luiz Thadeu dá aulas de economia
Como eu, averso a clichês, Luiz não dá dicas insossas em seu livro autobiográfico de viagens. Ao contrário, ele mata a cobra e mostra o pau. Sem o pudor de parecer pão-duro ou mão-de-vaca, dá aulas de economia em suas viagens e critica com classe o hábito cultural de nossa gente brasileira de querer sempre parecer esnobe, ou querer parecer o que não é gastando mais do que pode gastar. “Apesar de pouco, meu dinheiro é bem administrado e abençoado. Nasci em uma família simples, tive uma infância sem luxo e aos 17 anos de idade tive que assumir muitas contas e a criação de meus cinco irmãos”, escreve no início do capítulo 4: “Bolsos rasos, sonhos profundos” .
Em nossa conversa no café, Luiz explicou que viaja pelo mundo com as economias que faz e paga tudo, além de usar as milhas de seu cartão de crédito. “Viabilizo tudo o que caiba no meu bolso. Uso o recurso do parcelamento, mas fujo dos juros”. Ele me diz que paga religiosamente a fatura de viagens como se fossem as contas de água, luz e gás de sua casa. “Quando embarco para um destino, minhas passagens e hotéis quase sempre estão quitados”, me conta. Seu objetivo é alcançar os 194 países que integram o quadro das Organizações das Nações Unidas (ONU). Atualmente é o sul-americano com mobilidade reduzida mais viajado do mundo.

A história do amigo Luiz já saiu na Revista Veja, no programa de Ana Maria Braga, no jornal O Globo e na Folha de São Paulo. Geralmente em ocasiões que ele alcança alguma marca nova. Quando atingiu 130 paises visitados em 2019, Luiz contatou a Infraero que administrava à época o aeroporto de São Luís.
“No dia 14 de março daquele ano ao lado da porta principal do aeroporto foi instalada a placa que diz: ‘Deste aeroporto, partiu para o mundo Luiz Thadeu Nunes e Silva, engenheiro agrônomo, andarilho e sonhador, que superou suas limitações, foi em busca de seus sonhos e pisou em mais de 130 países em todos os continentes da terra’. O mesmo ele quer fazer no hospital São Camilo, unidade de Santana, em São Paulo. Foi lá que o corpo clínico do hospital evitou que tivesse a perna amputada. “Vou instalar uma placa nesse hospital agradecendo por salvarem a minha vida”, me confidencia.

Projeto para São Luís
Autor profícuo, palestrante e colaborador de diversos jornais, inclusive do DIÁRIO DO TURISMO, Luiz deve às bibliotecas públicas parte de seu conhecimento e sabedoria de viajante. Um de seus projetos, além das viagens, é a criação de uma biblioteca comunitária em São Luís, sua cidade Natal.
“Minha paixão pelas viagens nasceu nas bibliotecas públicas que frequentei, vou retribuir. Tenho conseguido muitas doações de livros de amigos e editores e fortes parceiros para essa empreitada. Entre eles Raimundo Araújo Gama da nVersos Editora e do poeta Rinaldo Nunes. Aguardamos apoio do governo do Estado do Maranhão e em breve concluiremos esse projeto”, me conta.
Aos 66 anos, Luiz tem a cabeça de um jovem de 25. Entusiasmado, transpira esperança e cita Ariano Suassuna em nossa conversa: “Sou um realista esperançoso”…
“O tempo não envelhece a alma de um sonhador. Todos os dias o mundo me manda desistir, mas como sou teimoso; desobedeço”, completa.
Continue desobedecendo Luiz, e nos leve com suas muletas reluzentes e encantadas a mais um destino sonhado que nos ajude a nunca, nunca desistir.

*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO de SP
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