Com uma trajetória construída entre aeroportos, escritórios internacionais e eventos do setor, João Araújo tornou-se uma das figuras mais respeitadas da aviação comercial e do turismo na América Latina. Com uma carreira iniciada ainda na adolescência, ele construiu uma reputação baseada em dedicação, visão estratégica e capacidade de adaptação — atravessando décadas de transformações no setor aéreo.
REDAÇÃO DO DIÁRIO
Na entrevista exclusiva concedida ao DIÁRIO DO TURISMO, João narra, em detalhes, os marcos da sua atuação, os desafios superados e as lições de uma vida profissional que moldou rotas, equipes e mercados. Entre Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, seu nome esteve associado a grandes projetos de expansão da LAN Chile — hoje LATAM — e à consolidação do turismo de luxo em novos segmentos.

A descoberta da aviação e os primeiros passos no setor
João Araújo ainda era criança quando se encantou pelo universo da aviação. “Aos 9 anos, meu pai me levou ao aeroporto de João Pessoa e, ao ver aquele avião azul, pensei: um dia, vou voar nesse avião.” Esse fascínio o acompanhou ao longo da vida.
Aos 16, já morando no Rio de Janeiro, começou a trabalhar em uma agência de viagens. “Foram oito anos de aprendizado intenso, sempre com o objetivo de chegar à aviação.” Chegou a estudar a parte teórica do curso de piloto, mas o alto custo das horas práticas o direcionou para outro caminho.
Foi em 1978 que se concretizou seu ingresso na LAN Chile, como executivo de vendas B2B no Rio de Janeiro. “Ali começou a realização do meu sonho profissional.” João não se limitou à função original: buscou formações internas, cursos operacionais, marketing, estratégias de crise e relações institucionais. A versatilidade seria uma de suas marcas registradas.

Três décadas de liderança na LAN Chile
Durante 34 anos na LAN Chile, João assumiu postos-chave no Brasil e no exterior. Atuou como supervisor e gerente de vendas, diretor de marketing e, com a privatização da empresa em 1994, foi nomeado gerente geral no Brasil. Suas responsabilidades se expandiram com passagens por Montevidéu e Buenos Aires, mantendo contato direto com a matriz em Santiago.

João Araújo esteve à frente de momentos estratégicos para a expansão da companhia:
Projeto “3 Oceanos”: viagens de volta ao mundo promovidas com a Imperial Tours, nos anos 1980. “Foram 16 viagens de luxo, cada uma com cerca de 30 dias, conectando passageiros a destinos do hemisfério sul e do Mediterrâneo.”
Voos charter para a Europa: realizados com a Concorde Operadora, também nos anos 1980, conectaram São Paulo a Madri com duas frequências semanais e democratizaram o acesso de brasileiros à Europa, Terra Santa e Índia.
Joint-venture com a SAS (Scandinavian Airlines System): resultou na integração de operações e no intercâmbio profissional entre as companhias. “O Brasil se beneficiou muito dessa fusão. Foi um ganho técnico e comercial importante.”
Outro marco foi a venda da LAN Chile a investidores privados liderados pela família Cueto. “Foi o início de uma nova era: surgiram LAN Peru, LAN Argentina, LAN Equador… e o Brasil ganhou novas rotas e maior presença no cenário internacional.”

Expansão regional e fusões estratégicas
Nos anos 1990, João coordenou a fusão da LAN Chile com a Ladeco no Brasil e no Uruguai. Em Montevidéu, como gerente geral, ampliou a oferta de voos e consolidou a malha aérea para a América do Sul, Estados Unidos e Europa.
Em 1999, assumiu a gerência comercial da Argentina e Uruguai. “Chegamos a operar nove voos diários entre Buenos Aires e Santiago, com resultados expressivos: mais de US$ 100 milhões em vendas no ano 2000.”
De volta ao Brasil em 2002, liderou a expansão de rotas com a Qantas para a Oceania, além de novos voos para Lima, Buenos Aires e Brasília. Em 2012, participou da complexa integração entre LAN e TAM, culminando na criação da LATAM. “Foi um dos desafios mais técnicos e sensíveis da minha carreira.”


Transição ao empreendedorismo e o turismo de luxo
Em 2014, com a saída da LATAM, João inaugurou uma nova fase: fundou a João Araújo Promoção & Vendas, voltada à representação de experiências premium no mercado brasileiro.
Promoção dos cruzeiros Australis, na Patagônia chileno-argentina
“Foi uma virada de chave: passei da aviação para o turismo marítimo, mantendo o foco em excelência e experiências transformadoras.” Representou também o hotel Hanga Roa, na Ilha de Páscoa, e a locadora Avis Rent a Car nos EUA, sempre em sintonia com o alto padrão de exigência do turismo de luxo.

As lições de uma vida entre voos e destinos
Para João, o turismo é uma ferramenta poderosa de transformação. “Ele conecta culturas, estimula a tolerância, ensina sobre diferenças e fortalece a compreensão entre os povos.” Ao longo da entrevista, deixa claro que a indústria de viagens vai além do transporte ou do lazer: trata-se de um eixo estruturante de cidadania e desenvolvimento.
O futuro das viagens sob o olhar político
“Viajar é preparar-se para um mundo mais complexo e competitivo”, reflete. Para ele, o intercâmbio cultural e profissional será cada vez mais necessário em uma sociedade que exige atualização constante. “As viagens continuarão sendo vetores de conhecimento, inovação e qualidade de vida.”

Presente com leveza, futuro com liberdade
João Araújo diminuiu a rotina corporativa, mas não abandonou o universo das viagens. Com filhos vivendo na Europa, passa boa parte do ano entre continentes, sempre ao lado da esposa Vera. “Hoje viajo por prazer e para estar com a família. Mas continuo observando tendências, escutando o mercado e me conectando com esse setor que nunca deixei de amar,” adianta ao DIÁRIO.

Fora das viagens, mantém uma rotina ativa cuidando das residências da família e colaborando com a companhia Australis em traduções para o site. Também segue à frente da empresa João Araújo Promoção e Vendas, oferecendo consultorias especializadas em turismo e aviação. Com serenidade e clareza, compartilha uma certeza: “Não importa se é por terra, mar ou ar — quem se entrega ao turismo se reconecta com o mundo. E isso é um privilégio.”
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