Das ruas de Jacarepaguá no Rio de Janeiro aos holofotes dos grandes eventos corporativos, a história de Andrea Nakane é marcada por paixão, propósito e transformação.
REDAÇÃO DO DIÁRIO
Carioca de alma e coração, mas há décadas radicada em São Paulo, Andrea Nakane construiu uma carreira sólida entre a hotelaria, a comunicação e a docência, tornando-se referência no setor de hospitalidade. Fundadora da empresa Mestres da Hospitalidade e membro da Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo, Andrea une experiência prática, sensibilidade humana e visão estratégica em tudo que faz, seja em sala de aula, no mercado ou nos bastidores dos eventos que ajudam a movimentar o país. Nesta entrevista exclusiva, ela compartilha sua trajetória da infância à academia, refletindo também sobre os desafios e as inovações do setor de eventos no Brasil.
Andrea, relate um pouco de sua infância, fatos marcantes de seu bairro/cidade Natal e o “start” em um dia vir ser professora, quando é onde foi?
Sou carioca, mas moro em São Paulo há muitos anos. Nunca escondi minha verdadeira devoção e paixão pelo Rio de Janeiro. Inclusive, vim para São Paulo transferida por uma grande rede internacional de hotéis, onde trabalhava na área de comunicação. A proposta era assumir uma função mais abrangente, com responsabilidade sobre diversos empreendimentos, mas a base precisava ser em São Paulo. Na época, atuava no Caesar Hotel, em Ipanema, e fui transferida para trabalhar na mesma rede, já sob o comando do grupo Posadas, com foco na América do Sul.
Minha infância foi toda vivida no Rio de Janeiro, mas não na tradicional zona sul. Cresci na zona oeste da cidade, uma região que começava a se desenvolver. Quando eu tinha oito anos, meus pais se mudaram para Jacarepaguá, que na época ainda tinha características de cidade pequena, quase provinciana. Lembro com carinho da liberdade de brincar na rua, das cadeiras de praia nas calçadas após o jantar e da convivência calorosa com os vizinhos. Foi uma infância muito feliz.

Relate sua entrada na vida acadêmica, como foi, onde, quando, circunstâncias…
Minha trajetória profissional começou quando ingressei no curso de Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, e depois também em Jornalismo. Em paralelo aos estudos, li uma reportagem da revista Nova que me marcou profundamente. A matéria falava sobre a rotina da relações públicas Vera Campacci, que atuava no hotel Maksoud Plaza. Fiquei fascinada com a descrição do trabalho dela e percebi ali uma vocação. Decidi, então, complementar minha formação com um curso técnico em Hotelaria. Após a conclusão, saí entregando currículos pessoalmente em diversos hotéis, até conseguir uma oportunidade como trainee na rede francesa Le Méridien, onde iniciei minha carreira na hotelaria.
Essa inspiração, que veio da Vera Campacci, se transformou em algo ainda mais especial com o tempo: hoje a considero uma colega de profissão. Já tive a chance de contar a ela essa história, o que a deixou muito orgulhosa. É muito gratificante quando pessoas que nos inspiraram se tornam parte da nossa jornada.
O desejo de ser professora surgiu de maneira muito natural, através da minha rede de contatos. Quando eu finalizava minha primeira pós-graduação em Marketing, o professor Bayard Boiteux, uma referência nacional no turismo e então coordenador do curso de Turismo da extinta Faculdade da Cidade, me convidou para fazer uma palestra. Aceitei com alegria e tive uma excelente recepção dos alunos. Pouco depois, ele me convidou para assumir uma disciplina — Eventos — e assim começou minha trajetória acadêmica. Desde então, já se passaram 28 anos em sala de aula.

Você criou uma empresa, a Mestres da Hospitalidade. Quais eram seus objetivos iniciais, eles se modificaram com o tempo?
A Mestres da Hospitalidade surgiu em um momento muito especial da minha vida. Eu havia decidido deixar o cargo de executiva no mercado corporativo, pois tinha acabado de descobrir que estava grávida. Sentia que precisava ter uma gestão de tempo mais flexível, algo que me permitisse conciliar melhor a vida profissional com esse novo e lindo projeto de vida que é ser mãe.
Sempre fui muito workaholic, mas entendi que precisava reorganizar minhas prioridades. Naquele momento, eu já havia concluído um mestrado em Hospitalidade, e foi durante esse processo que conheci minha futura sócia, a Shirley. Inclusive, ela já havia sido minha professora numa pós-graduação em Administração e Organização de Eventos no Senac.
Percebemos que nossas experiências e expertises se complementavam e decidimos unir forças. Assim nasceu a Mestres da Hospitalidade, com o objetivo inicial de atuar na área de eventos corporativos.
Com o tempo, o escopo de atuação da empresa foi se ampliando. Passamos também a atender eventos culturais e desenvolvemos uma área de treinamentos e capacitações profissionais, muito por influência da nossa vivência acadêmica. Hoje, essa área representa mais de 50% da nossa receita.
Oferecemos treinamentos voltados não apenas para o setor de turismo, hotelaria e eventos, mas também para outros negócios ligados à área de serviços. Nosso portfólio é bastante diversificado e inclui temas como hospitalidade, comunicação, organização de eventos, cerimonial e protocolo, arte de receber, etiqueta corporativa, entre outros.
Todos os nossos treinamentos são in company, ou seja, desenvolvidos sob medida para atender o perfil e as necessidades específicas de cada cliente. Essa personalização tem sido uma das grandes forças da nossa atuação.

Você integra a Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo. Como você vê a evolução dos eventos corporativos e feiras no Brasil? Ainda há o que inovar em termos de logística, tecnologia, estrutura, ESG etc.?
Atualmente integro a Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo, onde ocupo a cadeira número 7. Fico extremamente honrada com esse reconhecimento, pois fui eleita por meus pares, profissionais que acompanham minha trajetória. É um grande orgulho fazer parte dessa instituição, que valoriza o conhecimento e a atuação profissional na área de eventos e cerimonial. Já a Academia Brasileira de Eventos e Turismo, não integro oficialmente, embora colabore com alguns projetos especiais junto a eles.
Falando sobre a evolução dos eventos, é inevitável fazer um paralelo com minha própria trajetória. Quando comecei, no final da década de 1980, o setor era bem diferente. Hoje, já na segunda década do século XXI, os eventos corporativos ganharam muito mais dinamismo, especialmente com o avanço da tecnologia e o aumento da oferta de fornecedores e espaços para realização dos eventos.
A pauta ESG, por exemplo, deixou de ser um diferencial e se tornou uma exigência. Os eventos lidam com diversos recursos e insumos, por isso precisam estar alinhados às novas demandas da sociedade. A preocupação com otimização não se dá apenas por razões orçamentárias, mas também por responsabilidade social e ambiental.
A pandemia representou um marco importante. Foi um dos setores mais afetados, e precisou responder rapidamente com a migração para o digital. No entanto, o modelo híbrido mostrou-se uma solução eficiente e, hoje, é amplamente adotado. Ele permite unir o melhor dos dois mundos: o presencial, com seu calor humano e proximidade, e o online, com alcance e flexibilidade. Por exemplo, é possível contar com palestrantes internacionais sem os custos logísticos tradicionais.
Apesar de toda a inovação, os eventos presenciais seguem sendo essenciais. As pessoas estão cansadas das “telinhas” e valorizam o contato humano, o olho no olho. Eventos são, acima de tudo, momentos de encontro, de construção de relações, de fortalecimento de redes e de aprendizado contínuo.
Eles têm um papel fundamental para as empresas, seja para consolidar marcas, lançar produtos ou promover conhecimento. Os eventos existem desde os primórdios da humanidade e, enquanto houver pessoas, eles continuarão existindo.
Por fim, acredito que os eventos se transformam, se renovam e se aperfeiçoam, mas sempre preservam sua essência: são feitos por pessoas e para pessoas. Eles continuam sendo grandes catalisadores de trocas, conexões e negócios prósperos. Sou uma entusiasta do setor – não só por ser minha área de atuação, mas porque acredito profundamente no poder que os eventos têm de gerar impacto e movimentar o mundo. (Entrevista e Edição: Paulo Atzingen, redação: Clara Silva)