A história da aviação é feita de diversas figuras que desbravaram os céus desconhecidos em busca do progresso. Não podemos deixar de mencionar os Cavaleiros do Céu, como Saint-Exupéry o Senhor das Areias, Jean Mermoz, o Arcanjo do Atlântico Sul, Henri Guillaumet, o Arcanjo da Cordilheira dos Andes e Marcel Reine, o piloto conhecido por seu bom humor e marca registrada: o sorriso, além de ser proprietário da La Grande Vallée em Itaipava, Petrópolis – Casa Histórica onde preserva-se a história do Pequeno Príncipe, seu autor Saint-Exupéry e seus camaradas pilotos. Mas um fator muito importante para contar a história de maneira completa é relembrar alguns importantes aviões, e um deles é o Lat 631.
E uma coisa que pouca gente sabe, é que a Companhia Latécoère de Aviación, mesmo tendo sido negociada para outro grupo empresarial, passou a se chamar em 1927, como Compagnie Générale Aéropostale, hoje conhecida mundialmente como Air France. Apesar das mudanças de nome, a empresa continuou construindo aviões, e um deles, foi justamente o Lat 631.
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Esse hidro-avião francês foi um projeto da Direção Geral da Aviação Civil Francesa que foi projetado para comportar até 40 passageiros e alcançar 4000 km de distância sem abastecimento a uma velocidade acima de 300 km/h.
Com seis motores radiais, o grande avião que prometia revolucionar o setor aéreo teve sua fabricação interrompida devido a Segunda Guerra Mundial, porém conseguiu deixar sua marca com um protótipo em 1942 e foi até confiscado pelos alemães. Mas apesar das boas expectativas, esse hidro-avião hexamotor, não foi confiável, era dispendioso e praticamente todos caíram durante seu uso.
E justamente por ter seu risco, ocorreu um acidente com esse mesmo exemplar em 31 de outubro de 1945. O F-BANT da Air France, estava em um voo do Rio de Janeiro com rota para Montevidéu e Buenos Aires quando a hélice do terceiro motor se partiu, danificando outros dois motores. Um orifício da pá da hélice se partiu quando o avião já estava a 3 metros, atingindo a cabine, resultando na morte de dois passageiros.
Já não bastasse o grave acidente, um incêndio começou e um pouso de emergência precisou ser feito na Laguna de Rocha, no Uruguai. Passada a tragédia, o avião foi consertado e voltou para terminar sua rota.
E imaginem só quem estaria nesse avião, o famoso poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes e o escritor Rubem Braga estavam a bordo e passaram esse grande susto.
Apesar desse episódio parecer trágico, nosso poeta Vinicius de Moraes eternizou essa lembrança do voo no Lat 631 em um soneto chamado “Soneto com Pássaro e Avião”
Deliciem-se a seguir com o soneto de Moraes:
SONETO COM PÁSSARO E AVIÃO
De “O grande desastre do six-motor francês
Leonel de Marmier, tal como foi visto e vivido pelo poeta
Vinicius de Moraes, passageiro a bordo
Uma coisa é um pássaro que voa
Outra um avião. Assim, quem o prefere
Não sabe às vezes como o espaço fere
Aquele. Um vi morrer, voando à toa
Um dia em Christ Church Meadows, numa antiga
Tarde, reminiscente de Wordsworth…
E tudo o que ficou daquela morte
Foi um baque de plumas, e a cantiga
Interrompida a meio: espasmo? espanto?
Não sei. Tomei-o leve em minha mão
Tão pequeno, tão cálido, tão lasso
Em minha mão… Não tinha o peito de amianto.
Não voaria mais, como o avião
Nos longos túneis de cristal do espaço…
Crédito: José Augusto Cavalcanti Wanderley
Colaborou: Nicole B. Vieira da Rocha Santos.