Acidente aéreo com Carlos Gardel é revelado em livro censurado por governo colombiano

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Livro “La Verdade sobre la Muerte de Carlos Gardel” é lançado em Medellín durante o Festival Internacional de Tango

Por Paulo Atzingen, de Medellin*

O dia era 24 de junho e o ano, 1935. Carlos Gardel, o grande intérprete e compositor de tango, despedia-se de Medellín (Colômbia) após mais uma de suas grandes apresentações.  Grande número de fãs e entusiastas do tango – gênero musical originalmente argentino – estava no aeródromo “Olaya Herrera – Las playas” para se despedir do cantor. Foi uma despedida trágica.

O avião Ford Trimotor F-31 do Serviço Aéreo Colombiano (Saco), em que se encontrava o cantor, no momento da decolagem , colide violentamente com o avião da  Scadta (Companhia de Transporte Aéreo colombiano-alemã). Ao todo 17 pessoas morreram nos dois aviões, entre elas Carlos Gardel.

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Estas informações constam no livro “La Verdad sobre la Muerte de Carlos Gardel”, de Afonso Uribe Misas. A obra, originalmente escrita e publicada em 1938, foi censurada pelo governo colombiano à época e só agora, 81 anos depois vem à lume, graças a um trabalho de pesquisa, compilação e resgate histórico de Maurício Umana e Manuela Umana.

É importante destacar aqui a comoção do momento e os aspectos emocionais da tragédia. A multidão atônita via diante dos olhos a morte de seu ídolo Foto CV Uribe Chimichagua

O DIÁRIO, que participou do Festival de Tango de Medellin, como mídia convidada, conversou com Maurício Umana.

‘O Serviço Aéreo Colombiano (Saco) era uma empresa colombiana recém criada e tinha como concorrente a La Scadta (criada em 1919 e em 1940 viria a se tornar Avianca) com formação colombiana-alemã”,  adianta Maurício.

“Nos anos (1930) com a recessão econômica, o governo americano começa a promover a aviação norte-americana na América Latina e incentiva a Pan American World Airways para que se apoderasse de todo a aviação das Américas. A Pan American compra  a Scadta em 1931, secretamente, porque era um negócio ilegal para as leis colombianas na época”, narra o autor ao DIÁRIO.

Segundo ele, quando o Serviço Aéreo Colombiano (Saco) foi fundado inicialmente foi apoiado pela Pan-American, mas que – segundo os planos americanos – seria em breve incorporado por outras companhias, como a Scadta. Conta ele que o plano era que os pilotos norte-americanos aos poucos fossem tomando espaço (leia-se, postos) na Colômbia, já que os aviões eram estadudinenses. “Criou-se aí um conflito de interesses entre a companhia originalmente colombiana e a La Scadta, que possuía por trás o controle da Pan American”, revela. “Tudo fora e acima da lei”, acentua.

Umana se aprofunda no tema e revela que a questão se agrava quando um dirigente da Pan American vem à Colômbia em 1934 convencer o presidente (á época Alfonso Lopez Pumarejo) que os pilotos alemães da companhia deveriam ser trocados por pilotos americanos.

“Um negócio ilegal para a época, e principalmente para as leis da Colômbia”, reforça.

A grande rivalidade estava posta entre as duas empresas, principalmente em relação à questões nacionalistas, reserva de mercado, em especial ao colombiano.

Carlos Gardel, ídolo do tango também em Medellín (Crédito: domínio público)

O acidente de Gardel desvendou ilegalidades do governo

Para Maurício Umana o acidente de Carlos Gardel, em 1938 e todas as análises, perícias, provas e contra-provas constantes na obra trouxeram à lume as ações ilegais do governo (reveladas detalhadamente no livro).  “O acidente foi muito grave e teve como responsável o governo colombiano. O piloto não tinha competências suficientes para fazer o trecho Medellin-Calli, nem muito menos pilotar um avião trimotor”, destaca.

“O governo nacional da Colômbia violou os seus próprios decretos ao outorgar ao aviador Ernesto Samper (piloto do Serviço Aéreo Colombiano) uma patente que não merecia”, afirma Maurício ao DT.

O livro da editora Jurídica Dike, da Colômbia, revela uma série de embates jurídicos-criminais na tentativa (concluída) de apresentar os verdadeiros culpados pelo acidente. “O avião em que se encontrava Gardel estava sobrecarregado, além do piloto, co-piloto, do cantor, e mais três pessoas, havia muita carga, películas (filmes) e material fotográfico”, afirma Umana. “Juntou-se a isto outros fatores, como a inexperiência total do co-piloto, que só possuía 18 anos, o erro gravíssimo em decolar contra o vento, entre outros fatores”, enumera o co-autor.

“O piloto do Serviço Aéreo Colombiano errou a posição. Pois não teve experiência de posicionar o avião para decolar, e pesado, não soube controlar, e chocou-se com o avião (da Scadta) que estava na área de hangar, aguardando ordem para decolar”, descreve.

É importante destacar aqui a comoção do momento e os aspectos emocionais da tragédia. A multidão atônita via diante dos olhos a morte de seu ídolo. Criou-se, revela o livro, uma falsa necessidade de justiça e era necessário punir os culpados, no caso, a empresa de aviação não nacional.

Maurício Umana,: resgate histórico em busca da verdade (Crédito: Juneo Videira – DT)

Livro censurado

O autor do livro (original) Afonso Uribe Misas foi o advogado da companhia Scadta –  apontada como responsável pela tragédia, mesmo diante de todas as evidências em contrário. Durante três anos ele reuniu provas, documentos e fotografias para comprovar que o erro foi do piloto do avião em que estava Gardel.

“Em 1938, quando o livro estava pronto para ser lançado, o presidente da Colômbia impede sua circulação. “Usted compreende naturalmente, el peligro que se desprende de la imediata publicación de esa obra y por eso le pido que la impida”, trecho da fala do presidente Alfonso Lopez Pumarejo ao gerente da Scadta, Hermann Küehl. (pg. 25)

“Espero que muita gente possa usar este livro como referência. Muitos personagens da política colombiana atuaram com má fé para ocultar a verdade”, finaliza o co-autor.

O lançamento do livro ocorreu durante o Festival Internacional de Tango, na Praça Carlos Gardel, em Medellín (Crédito: Juneo Videira – DT)

Sobre o co-autor Maurício Umana

Maurício Umana é engenheiro mecânico graduado pela Universidade de Medellin, (USA), reside atualmente em Miami (USA). Seu pai trabalhou na Scadta na década de 30 e teve contato com os relatos, histórias e documentos sobre o fato, o que o inspirou à pesquisa. Seus filhos, que trabalham na aviação, o incentivaram a recuperar o livro, que foi encontrado entre os linotipos da Tipografia Bedout, de Medellin.

Serviço:

La Verdad sobre la muerte de Carlos Gardel – Junio 24 de 1935

Autor: Alfonso Uribe Misas

Obra recompilada por: Maurício Unama e Manuela Unama

Editora: Livraria Jurídica Dike – www.libreriajuridicadike.com

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* O jornalista viajou a Medellin convidado pelo Medellín Travel e   Greater Conventions Medellin – com Seguro GTA

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