A criação de sete novas Unidades de Conservação (UC) anunciadas recentemente pelo governo federal suscitou reações variadas. O curto período de tempo – foram sete UC criadas em uma semana – deu espaço a críticas relacionadas, por exemplo, a uma suposta motivação eleitoreira, visto que à época a presidente ainda concorria às eleições presidenciais.
Foi também o momento de manifestação dos que se indignaram com o fato de nunca ter-se criado tão poucas UC no Brasil, em um período onde grupos que são contra as áreas protegidas também têm se manifestado, alegando que esses espaços constituem entraves ao desenvolvimento.
Quem critica a existência e criação, provavelmente desconhece o potencial econômico das UC e se fundamenta em conceitos desenvolvimentistas ultrapassados. Cada vez menos podemos negligenciar indícios e provas concretas dos impactos socioeconômicos gerados pelas áreas protegidas em todo o mundo.
Certamente essas pessoas nem mesmo imaginam que, para cada dólar investido na operação de um parque, podem ser gerados até 10 dólares em atividade econômica (no próprio parque ou na comunidade do entorno). Essa é uma das principais conclusões de uma série de relatórios publicados pelo National Park Service (NPS).
As análises produzidas pelo Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos comparam os efeitos dos gastos de visitantes dos parques nacionais nos anos de 2012 e 2013. Nesse período, verificou-se uma queda brusca nos índices de visitação, explicada basicamente pelo furacão Sandy, que provocou danos em mais de 70 parques, e pela paralisação do governo federal, gerada por um conflito de base orçamentária entre os parlamentares republicanos e o presidente Barack Obama.
O último fator propiciou uma conjuntura interessante, da qual se pode extrair importantes lições. Com orçamento insuficiente, o NPS se viu obrigado a fechar os parques durante 16 dias. Fez, contudo, um acordo com os estados de Utah, Arizona, Colorado, New York, South Dakota e Tennessee para reabrir e operar temporariamente 14 dos 401 parques nacionais.
Amparados pela já reconhecida importância dos parques para as economias locais, os estados puderam viabilizar alternativas de financiamento para que os espaços se mantivessem em pleno funcionamento.
Frente ao desafio, o governo estadual de Utah investiu pouco mais de 990 mil dólares para que o NPS continuasse operando todos os nove parques nacionais situados em seu território por seis dias. Os resultados são surpreendentes: no período, as unidades receberam 153.400 visitantes, que deixaram aproximadamente 9,95 milhões de dólares em gastos nos parques e no entorno.
Pode-se falar, assim, em entrave ao desenvolvimento? Aparentemente não. O que é possível fazer é aprender a ousar com aqueles que já perceberam o potencial e a magnitude de que as unidades de conservação dispõem para a transformação social e o desenvolvimento socioambiental – claro, desde que possuam efetividade de gestão.
*Ana Luisa Da Riva, é diretora-executiva do Semeia



