Vendo esse cair de tarde, busquei alento nas lembranças. Considero o mês de junho muito especial e marcante, é o fim e início de uma nova era, é a minha festa do ano, meu natal e tem sido assim desde tenra idade.
Vendo esse cair de tarde, busquei alento nas lembranças. Considero o mês de junho muito especial e marcante, é o fim e início de uma nova era, é a minha festa do ano, meu natal e tem sido assim desde tenra idade. A noite de São Pedro é como uma ruptura e o outro dia, quase um luto pelo fim daquele festejo cheio de sentimento e de amor pelas coisas, pelas pessoas, pela tradição e tudo o que ela vem a simbolizar. Vivi mais uma noite de São João em casa, recluso com a família, mas tem sido assim desde o ano passado e por todo esse cenário de crise pandêmica, não poderia ser diferente. Mas não faltou comida de milho, forró e bandeirolas. Ausentes a fogueira e os fogos, mas buscamos ressignificar o que não podia com o que estava liberado.
No outro dia, feriado, tomamos um animado café-da-manhã com toda culinária junina. Um caldinho de mocotó no cuscuz não foi nada mal e a tradição preservada. São Pedro é o fim da festa, a última fogueira, os últimos estampidos desse cenário mágico de celebração, e não houve festa!
Volto para a contemplação da Campina no vale do Bodocongó e aquele pensamento lá distante, é quando Papai se encosta no parapeito da varanda ao meu lado, parecia que estava ali a ler meus pensamentos: – O que tu tens que estás desse jeito? – Que diferença em Papai? Hoje é véspera de São Pedro, mais uma sem festa. – E amanhã é dia de trabalho! Respondeu. Como que suplicasse um tantinho de reciprocidade: – Eu sei Papai, mas é São Pedro! Depois de um sorriso maroto, ele entrou e me deixou com minhas indagações.
Volto para a contemplação da Campina no vale do Bodocongó e aquele pensamento lá distante, é quando Papai se encosta no parapeito da varanda ao meu lado, parecia que estava ali a ler meus pensamentos: – O que tu tens que estás desse jeito?
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Pego o celular e vejo apontar 18h, ao mesmo tempo que recebo uma mensagem de um querido amigo/irmão, Agenor, que está recluso com sua esposa em um sítio na Zona Rural de Juazeirinho. A distância entre nós ia muito mais que os setenta e tantos quilômetros ou quase uma hora, passava pelos cuidados, o isolamento e os riscos. Não só ele, como eu também sou festeiro, mas durante todos esses meses de pandemia, não temos sequer saído de casa e como ele mora em um sítio afastado da cidade e não iríamos juntar gente, pensei que dava para dar um pulinho lá e aquecer o sentimento, as lembranças e amizade ao redor de uma fogueira. E fui!
Dona Corrinha saía pela porta da cozinha. Vi seus sorrisos por trás das máscaras, aqueles olhinhos apertados e cintilantes demonstrando a alegria e hospitalidade que lhes são peculiares.
No som Luiz Gonzaga e o choro de sua “sanfona sentida, sofredora”, e fui encarregado de acender a fogueira, uma honra para jamais olvidar. Um pouco de gás em um chumaço de palha de coqueiro e a chama do fósforo logo virou labaredas. Mais uns galhinhos em cima e tudo pronto. O primeiro estalo da lenha me emocionou. O cheiro de fumaça e tudo clareando em derredor; estiro minhas mãos na busca daquele inconfundível calor. Olho para Agenor o agradecendo e com um gesto ele confirma a singeleza daquele momento ao mesmo tempo tão marcante. Em poucos instantes, a mãe natureza nos dá uma lua minguante que surge baixa no horizonte no giro da fogueira. Enorme, alaranjada, parecia ter se erguido daquele fogo encantado. Incrível!
Conversamos bastante sobre o significado daquilo tudo, o momento em que vivemos e curtimos a noite. Celebrando a vida e com fé em dias bem melhores. Um São Pedro inesquecível! Simples e inesperado.