A arte fazendo o seu papel em meio ao caos pandêmico. A expressão urbana se apresentando para fazer um corte na paisagem e entregar um pouco de harmonia, sonho, saudade, paz, amor, leveza.
EDIÇÃO DO DIÁRIO
O mundo atravessa um momento delicado com o avanço dos casos de Covid-19. As relações humanas estão forçosamente distanciadas e o futuro se transforma em incerteza. Em todos os debates, entretanto, há uma unanimidade: a importância dos profissionais de saúde envolvidos nesta pandemia.
Veja também as mais lidas do DT
Com o intuito de reconhecer toda essa cadeia fundamental de trabalhadores, Alexandre Orion, um dos pioneiros da street art mundial, se prepara para mais uma de suas intervenções que dialogam profundamente com a paisagem de São Paulo. Desta vez, o artista plástico está fazendo um mosaico de fisionomias ocupando todo o gigantesco mural, localizado no edifício do InCor – Instituto do Coração, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, voltado para a Avenida Rebouças e a Passarela Professor Dr. Emílio Athiê.
Ao todo serão 400 m² de parede cinza que ganharão vida após 3 meses, entre pesquisa e preparativos. O trabalho de escala monumental começou a tomar forma dia 09 de setembro e com previsão de conclusão no próximo dia 27 de setembro. A intervenção artística de Alexandre Orion possui o apoio da Nou e produção da Tela.tv.
“Escolhemos essa empena por ela estar voltada para a única passarela de pedestres que atravessa a Avenida Rebouças. Ela significa não só o fluxo físico das pessoas, mas a importância que essa travessia representa. Atravessar essa ponte, que te leva ao hospital e também tira você dele, carrega muitas emoções”, comentou Orion sobre a decisão.
A obra, intitulada “Saudação”, visa a representatividade e pluralidade dos profissionais que são indispensáveis para o funcionamento do setor da saúde, responsabilidade essa que passa por diversos cargos. Para realizá-la, Orion conversou com pessoas dos mais diversos segmentos do InCor e do Hospital das Clínicas, um dos mais respeitados núcleos de saúde do Brasil. Com essa pesquisa de campo, alguns profissionais foram escolhidos e terão parte de seus rostos extraídas para a formação de um grande mosaico de fisionomias, que transmite a ideia de união, sobretudo neste momento tão emblemático que estamos atravessando.
“O InCor e o HC me apresentaram alguns personagens. A escolha foi feita pensando em uma multiplicidade, tentando trabalhar com o máximo de pluralidade. Também tentamos dar visibilidade e representatividade a alguns setores que muitas vezes têm menos destaque, como quem trabalha na cozinha e na limpeza do hospital, auxiliares de enfermagem, motoristas de ambulância, entre outros. Sempre, claro, pensando em personagens inspiradores e reais”, pontuou o artista.
Orion é um dos pioneiros da arte urbana no mundo, suas pesquisas e reflexões tendo a cidade como suporte fizeram dele um expoente da arte contemporânea brasileira. Enxergando sempre a cidade como um organismo vivo e se expressando de maneira muito singular, ele teve obras expostas nas instituições de arte mais respeitadas do mundo. Um de seus trabalhos mais conhecidos é “Ossário”, composto por intervenções realizadas pelo artista limpando túneis da cidade de São Paulo.
“Eu tenho esse romantismo da cidade como espaço de convívio. E sempre que puder fazer da minha arte uma maneira de resgatar isso, farei! Por isso acredito que tudo o que acontece no espaço público tem uma dimensão política e social importante. Será um mural tecnicamente complexo por ser uma pintura realista. Mas não me interessa muito a pintura em si e sim a representação desses profissionais honestos e os desdobramentos que essa representação pode significar pra cidade, para o humano e para o futuro.”