Ícone da capital gaúcha, barco retomou os passeios pelas águas do Guaíba
Texto: ZAQUEU RODRIGUES (entrevista e edição: PAULO ATZINGEN)*
O barco Cisne Branco, ícone de Porto Alegre, retomou as navegações pelas águas do lago Guaíba após sete meses ancorado pela pandemia de coronavírus. Em seus passeios, moradores e turistas conhecem a capital gaúcha a partir de uma perspectiva repleta de contrastes e poesias visuais. O passeio tradicional, “Navegando pelo Guaíba”, percorre ao longo de uma hora as suas principais ilhas, entre elas a Ilha das Flores, cravada no imaginário popular brasileiro pelo curta-metragem documental Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado.
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Os passeios do Cisne Branco acontecem de segunda a sexta com a capacidade reduzida de 300 para 150 pessoas. A mudança integra o conjunto de protocolos de biossegurança adotados para garantir a proteção contra a Covid-19. A readequação à nova realidade também inclui o uso obrigatório de máscaras, disponibilização de álcool em gel, tapete sanitizante e medição de temperatura antes do embarque. O distanciamento social é orientado por sinalizações em toda a embarcação e é controlado pelos tripulantes. Com o serviço de garçom está suspenso temporariamente, os pedidos são realizados e retirados diretamente no balcão.
“Estamos vivendo um período anormal e alguns cuidados especiais são extremamente importantes para que possamos retomar as nossas vidas com segurança. Após longos meses de isolamento, as pessoas cansadas de ficar em casa. Eu noto um cuidado muito grande na escolha dos lugares que irão frequentar neste momento, pois tem gente que está se protegendo e também têm aqueles que não estão. Então, esse cuidado é fundamental. Por ser um passeio ao ar livre, com vento no rosto, o turismo fluvial tem uma vantagem. A área coberta do barco possui janelões que permitem a circulação permanente do ar”, afirma Adriane Hilbig, proprietária do Cisne Branco e apaixonada pelo Guaíba.
Todos a bordo
À medida que o Cisne Branco se afasta do Cais do Porto e avança Guaíba adentro, o centro histórico de Porto Alegre se levanta em diferentes contrastes de águas e concretos, montanhas curvas e edifícios retos, arquiteturas históricas e nuvens. No velho porto à espera do restauro, prevalece uma atmosfera bucólica.
A embarcação desliza suave pelas águas e revela uma Porto Alegre visualmente poética. Aos poucos, a paisagem urbana se transforma em pequenas ilhas. Diante dos olhos correm a vegetação espessa, os pequenos barcos de pesca, os grandes barcos de passeio, os casarões luxuosos.
A beleza da vida cotidiana se apresenta pelas margens do Guaíba, nas embarcações ancoradas, nos moradores relaxando aqui e ali, como quem diz: “aqui é Porto Alegre, guri, casa de Mário Quintana, terra de Elis. Venha contemplar o pôr-do-sol mais lindo do mundo, vem?”. Se é, eu não sei, só sei que é o que todo mundo ali diz. Mas hoje está nublado, penso comigo, e sigo, pois o barco não para.
Pelo Guaíba desfilam todos os tipos, os conhecidos e desconhecidos, os que acenam e os que encenam. O Cisne Branco avança. O passeio é conduzido por uma narração sobre a história do Guaíba, das suas ilhas, da sua gente. As descrições dividem espaço com as canções, ah!, essas canções sobre Porto Alegre, de Kleiton e Kledir e por aí vai.
Viagem pela história
A viagem a bordo do Cisne Branco concilia deslumbramento e conhecimento. As águas do Guaíba unem passado e presente, conecta gerações. Até o princípio do século XIX, o Lago Guaíba e o Laguna dos Patos eram nomeados conjuntamente de “Rio Grande”. E assim nasceu o nome do estado Rio Grande do Sul.
O Guaíba ocupa uma área média de 496 km². Até o século XIX ele era a principal porta de entrada de Porto Alegre, com acesso pelo oceano. O nome Guaíba é herança tupi-guarani (Guahyba) e significa “encontro das águas” ou “baía de todas as águas”. As variações de significados preservam a sua essência: a convergência de afluentes.
O Guaíba também inspira mistérios e curiosidades. Ele é um Rio ou um Lago? A classificação alternou ao longo dos anos. Hoje, oficialmente, o Guaíba é considerado Lago. Os pesquisadores se dividem. O vocabulário vivo das ruas de Porto Alegre prefere Rio Guaíba.
Nem só de poesia vive o Guaíba. O descaso com as suas águas ao longo do século passado é um capítulo triste da sua história, algo que acontece com as águas por todo o país. A luta pela preservação desse patrimônio ambiental é permanente. Ele é o principal manancial de abastecimento hídrico da capital gaúcha. Além dela, o Guaíba banha outras quatro cidades: Eldorado do Sul, Guaíba, Barra do Ribeiro e Viamão.
O ícone da cidade
O Cisne Branco foi lançado nas águas do Guaíba em 1978, após dois anos de construção. Desde então, seus passeios reaproximaram a população das águas e da cidade. O nome do barco é Cisne Branco em homenagem ao Hino da Marinha Brasileira.
“A solenidade de inauguração do Cisne Branco foi um evento e reuniu as principais autoridades do estado. Naquela época não havia um barco adequado para o turismo náutico no estado. O projeto do Cisne Branco foi inovador para a época, pois tinha uma danceteria e restaurante a bordo. Seus passeios percorriam o interior do estado, parando nas cidades ribeirinhas. Estamos retomando essas rotas históricas”, afirma Adriane.
Ela conta que o barco foi construído pelo falecido pai, Alfonso Pedro Hilbig, pioneiro do turismo receptivo na região e fundador, em 1962, da agência de viagem ORGATUR. Embora tenha passado a infância a bordo do Cisne Branco, a filha percorreu outros roteiros, distante da embarcação. A virada na sua relação com o Cisne Branco aconteceu em 2016, quando o barco virou, literalmente, após uma tempestade atingir a cidade de Porto Alegre. Na ocasião, o barco estava ancorado e sem a presença de tripulação e passageiros.
“Quando muitas pessoas começaram a me procurar para oferecer doações para restaurar o Cisne Branco e trazê-lo de volta à vida da cidade, eu fiquei muito emocionada. Naquele momento eu senti o que o meu pai sentia. Eu compreendi que o barco era maior do que eu pensava. Ele não era do meu pai. Ele não é meu. O Cisne Branco é de Porto Alegre”.
Após oito meses de restauração, o Cisne Branco retomou ao seu lugar com direito à champanhe e muita celebração dos moradores. “A embarcação é parte da memória afetiva dos habitantes de Porto Alegre”, destaca Adriane, que conta que o Cisne Branco vem ampliando as suas ações sociais na região.
Os passeios, prossegue ela, conciliam educação e cultura. “Temos um projeto ecológico com viagem que dura 3 horas. Durante a navegação, um guia professor apresenta o percurso pelo olhar histórico, ecológico, geográfico e cultural com enfoque na povoação das ilhas”. O Cisne Branco também é celebrado na cidade como palco cultural. Em suas viagens noturnas, os passageiros são embalados pelas apresentações musicais.
Navegando na Leitura
Aos pequenos navegantes, o Cisne Branco promove, em parceria com o SESI, o projeto “Navegando na Leitura”. Duas vezes ao mês, durante o passeio tradicional, às 15h, duas bibliotecárias do SESI sobem a bordo para conduzir atividades literárias com as crianças. Ao fim do passeio, os pequenos ganham livros para que possam, agora em suas casas, embarcar na leitura e continuar a viagem.
Barco Cisne Branco
Embarque: Cais do Porto – Av. Mauá, 1050 – armazém B3 – Centro Histórico de Porto Alegre (RS)
A entrada de pedestres é localizada atrás do Mercado Público, na escadaria subterrânea da Praça da Revolução
Telefones: (51) 3224.5222 ou (51) 99712.5672
E-mail: cisnebranco@barcocisnebranco.com.br
Para consular os tipos passeios, acesse: www.barcocisnebranco.com.br