Brasil está no topo de ranking sobre patrimônios naturais, mas cai em outros aspectos. Essa é a conclusão do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) – numa lista de 136 países
BBC Brasil
O Brasil tem os patrimônios naturais e a biodiversidade mais ricos do planeta, mas seu potencial turístico é limitado por deficiências em segurança, infraestrutura, mão de obra e outros fatores. Essa é a conclusão do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) – numa lista de 136 países, o Brasil aparece em primeiro lugar em potencial de recursos naturais, mas perde competitividade em quase todos os outros 13 itens listados. No ranking geral, fica na 27ª posição.
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O resultado está no documento The Travel & Tourism Competitiveness Report 2017, lançado recentemente pela organização. Desde 2007, a pesquisa monitora o potencial competitivo de recursos e serviços para o turismo internacional. Na avaliação do órgão, o Brasil também tem recursos culturais “muito fortes”, que incluem desde patrimônios a eventos esportivos e de entretenimento, e desenvolveu uma estrutura turística relativamente boa, mas peca em vários outros quesitos. Em comparação com outros anos analisados, houve piora do ambiente de negócios (129º lugar), item que abrange eficiência legal e impostos; na segurança (106º) e mão de obra (93º).
Também não são animadoras as posições de infraestrutura terrestre e portuária (112º), saúde e higiene (70º) e sustentabilidade (66º). A situação geral, no entanto, melhorou se comparada a rankings anteriores. Em 2007, o país aparecia no 59º lugar. E em 2015, estava em 28º. “O crescimento de um ponto no ranking geral de competitividade do WEF mostra que estamos no caminho, mas precisamos fazer mais”, comentou o ministro do Turismo, Marx Beltrão, por e-mail.
Entre os países da América Latina, o Brasil aparece apenas atrás do México, que ficou no 22º lugar. No topo da lista estão Espanha, França e Alemanha. A Europa, aliás, é o continente com o melhor desempenho, com seis nações no top 10.
Medidas para o turismo
O ano de 2016 foi intenso para o turismo brasileiro com a realização da Olimpíada, ocorrida sob o impacto causado pela epidemia de zika na visibilidade do país. No fim, o Brasil recebeu 6,6 milhões de turistas estrangeiros, um aumento de 4,8% em relação a 2015, segundo a Organização Mundial do Turismo. A projeção do governo é chegar a 12 milhões em 2022.
“Após o ciclo de megaevento e a grande exposição que tivemos no Brasil, temos de atacar os gargalos estruturantes para explorar todo o potencial de geração de emprego e renda para o país”, disse Beltrão. Para aumentar a competitividade brasileira do setor, o Ministério do Turismo lançou nesta terça-feira o plano “Brasil+Turismo”.
A principal medida é a liberação da abertura de 100% do capital de companhias aéreas brasileiras ao capital estrangeiro, contra o atual limite de 20%. A alteração consta de medida provisória (MP) assinada pelo presidente Michel Temer nesta terça-feira.
MPs entram imediatamente em vigor, mas têm de ser aprovadas pelo Congresso Nacional, onde essa proposta enfrenta resistência. Partidos como PT, PDT e PSOL argumentam que a abertura poderia prejudicar a aviação regional – o ministério, por sua vez, defende que ela pode contribuir para capitalizar companhias brasileiras e fomentar o setor. No relatório do Fórum Econômico Mundial, o Brasil aparece em 40º no ranking de infraestrutura aérea – que avalia aspectos como número de trajetos operados e densidade de aeroportos.
Ministério do Turismo diz investir em capacitação de profissionais do turismo
O anúncio do ministério inclui, entre outras medidas, o investimento em capacitação profissional e a implantação do visto eletrônico – até o final do ano, turistas de EUA, Canadá, Austrália e Japão terão acesso a um processo digital que leva 48 horas. O presidente da Organização Mundial do Turismo, Taleb Rifai, viajou ao Brasil para participar do anúncio. “O potencial (do país) é enorme, realmente. O Brasil não atingiu ainda a ponta do iceberg do que ele merece, mas está caminhando nesta direção”, comentou.
Uma pesquisa do Ministério do Turismo com cerca de 2 mil brasileiros, realizada em março, mostrou que 86% enxergam no setor uma forma de impulsionar a economia e gerar empregos e negócios. No mesmo levantamento, 80% afirmam que o país tem potencial para explorar o setor como alavanca econômica – 60% avaliam que o patrimônio é pouco aproveitado.
Geração de empregos
Pelo ano sexto consecutivo, o crescimento da indústria turística superou o da economia global, diz o Fórum Econômico Mundial. O órgão argumenta que o setor se mostrou resiliente diante da incerteza geopolítica global e da volatilidade econômica. E que, por isso, tem papel essencial na criação de empregos.
Taleb Rifai foi na mesma linha do relatório e acrescentou que “a criação de emprego deve estar na vanguarda de nossas agendas”. O turismo tem esse potencial, já que “continua a crescer apesar dos desafios globais”, completou. Trata-se de uma oportunidade para um país que viu uma explosão no índice de desemprego – hoje em 13,2%. Por enquanto, porém, a tendência brasileira vai no caminho oposto à mundial.
Turismo tem potencial de geração de empregos
Segundo o relatório da organização internacional, o setor gerou US$ 56 milhões (R$ 175 milhões) em receitas, o que representa 3,3% do PIB, e criou 2,6 milhões de empregos, 2,9% do total – o relatório de 2015 havia registrado 3 milhões de empregos, 15% a mais e 3% do total. No mundo, o peso do setor é maior: foram acumulados US$ 7,6 trilhões (10,2% do PIB global) e 292 milhões de empregos (cerca de 10% do total).
O Fórum Econômico Mundial pontua ainda que a maior parte dos governos ao redor do mundo está percebendo que “as fronteiras não estão tornando pessoas e países mais seguros, mas dificultando o crescimento econômico, a criação de empregos e a tolerância entre países”. Em 2016, 58% dos destinos mundiais exigiam visto de estrangeiros, contra 77% em 2008.