Milagres acontecem. Ocorrem de forma misteriosa, não são notícia no rádio, no jornal ou na televisão e só são percebidos para quem os experimenta na pele e no osso, na alma e no bolso.
por Paulo Atzingen, de Santos (Texto e fotos)*
A tempestade que inundou vários bairros de Santos (SP) no dia 18 de fevereiro causou grandes estragos, gerou angústia e estresse em muita gente e, em especial, ao casal Maurício Ibelli e Jurema Ibelli.
Eles são proprietários do café bistrô Duport, na rua Oswaldo Cruz, no bairro do Boqueirão e naquela noite o projeto de vida do casal quase foi por água abaixo, literalmente. Quase.
O que aconteceu com o café-bistrô Duport?
Todos os jornais deram a notícia. Naquele dia 18 de fevereiro a chuva deixou um rastro de destruição na Baixada Santista, em especial em Santos. Os canais transbordaram, as ruas alagaram, árvores caíram, imóveis e veículos foram danificados. Por volta das 23 horas um raio atingiu o imóvel da rua Osvaldo Cruz, 500 e desencadeou um curto circuito nas instalações elétricas, gerando um incêndio. Maurício e Jurema perderam praticamente tudo, só a cozinha não foi engolida pelas chamas e fumaça.
Antes da pandemia o casal mudara para Santos para reiniciar uma nova etapa da vida. Montaram um café bistrô no bairro do Boqueirão e tocavam o negócio de forma equilibrada, sem grandes sobressaltos, trabalhando e crescendo de forma sustentável. A casa de dois pisos, alugada por Maurício e Jurema, fica a meio quarteirão da praia e sempre foi ponto de encontro de amigos e moradores do bairro.
“Quando decidimos que Santos era o lugar que iríamos morar, definimos que precisávamos arrumar algo que tínhamos experiência e paixão. Eu tinha vivência anterior em restaurante e pensei em montar um café. Jurema é barista e a ideia foi adiante depois que ela fez vários cursos se qualificando na área e após uma parceria que fizemos com o Museu do Café”, revelou Maurício.
Resgate
“Foi muito doloroso! Os bombeiros chegaram uma hora após o chamado!. Meus vizinhos, como na parábola do beija-flor, buscavam água na rua em baldes e jogavam nas chamas numa luta desproporcional!”, relata Maurício.
Se Maurício e Jurema experimentaram o gosto das cinzas e o cheiro da fumaça naquela noite de fevereiro, a partir desse dia eles foram acolhidos por amigos, clientes e visitantes eventuais.
“Fomos abraçados pela comunidade e no dia seguinte fizemos um mutirão para ver o que podíamos resgatar em utensílios, louças e equipamentos”, conta Maurício à reportagem.
Do dia do incêndio até hoje, relata Maurício, a solidariedade experimentada pelo casal foi sobre-humana. Além das doações espontâneas, amigos criaram uma vaquinha on-line o que gerou dinheiro para pagar os custos da reconstrução do ponto comercial. “Ficamos até constrangidos pelo carinho, pelo cuidado e pela resposta que a comunidade nos deu. Hoje (sábado, 22), conseguimos reabrir com toda força, com toda a garra e com toda fé que sempre nos moveu”, resumiu Maurício, enquanto ele próprio atendia os clientes.
“Antes do incêndio construímos uma rede de amizade muito boa aqui no Boqueirão. Nosso café sempre foi ponto de encontro de amigos, pessoas sozinhas, idosos, casais, famílias, enfim…”
“Somos gratos”‘, resumiu o casal.
Um milagre coletivo
O retorno do Café Duport não foi apenas uma conquista do casal, mas uma conquista coletiva. A força da comunidade, o carinho dos amigos e a solidariedade ofereceram vida nova ao sonho que quase se perdeu nas chamas. Maurício e Jurema viveram na pele o peso da destruição, mas também o milagre do recomeço, marcado por apoio, amizade e resiliência.
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