Atuação conjunta entre setores públicos e privados, redução de impactos ambientais, diálogo com outras áreas, fomento à pesquisa e inovação foram algumas das diretrizes abordadas durante webinário de lançamento do projeto
POR ZAQUEU RODRIGUES (Especial para o DIÁRIO)
“Queremos que o turismo retome, mas não como era antes da pandemia”, afirmou o presidente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), José Roberto Tadros. Em sua mensagem gravada e transmitida na tarde desta terça-feira (23), durante o lançamento do projeto Vai Turismo – Rumo ao Futuro, Tadros ressaltou que o empresário do Turismo quer um desenvolvimento mais sustentável para o setor.
Tadros ressaltou que o turismo é um setor muito importante para a sociedade e que, nesta crise provocada pela pandemia, ele está amargando prejuízos históricos. “Precisamos de políticas públicas efetivas e estruturantes que levem o turismo a um novo lugar”, ressaltou o presidente da CNC, que defendeu uma agenda integrada para o desenvolvimento sustentável do setor no Brasil.
Veja também as mais lidas do DT
O que é?
O projeto Vai Turismo – Rumo ao Futuro é uma iniciativa da CNC em parceria com entidades, instituições e lideranças da cadeia do turismo e de outros setores. O Objetivo é conectar instituições, promover o diálogo e desenvolver políticas públicas que impulsionem o desenvolvimento sustentável de destinos turísticos brasileiros.
Nesta primeira etapa foi lançado o site vaiturismo.com, que receberá as contribuições de empresas e pessoas, e uma série de palestras no formato online. Posteriormente os dados serão desenvolvidos em oficinas e então irão fundamentar 28 documentos, sendo 27 a serem encaminhados aos governos estaduais e um ao governo federal. De julho a setembro acontecem as reuniões de empresários; em outubro as oficinas.
Presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) e coordenador do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur), Alexandre Sampaio explicou que a prioridade do Vai Turismo é criar diretrizes para o desenvolvimento do setor com estratégias a curto e a longo prazos. Para isso, ele considera essencial a união do trade. “O projeto nasceu da base empresarial nortear o desenvolvimento do turismo no Brasil”.
Três crises: sanitária, econômica e política
A sócia-diretora da Strategia Consultoria Turística, Gleice Guerra, ressaltou que o mundo atravessa um momento muito difícil. No Brasil, ela aponta a existência de três crises: sanitária, econômica e política. “Para o turismo, o tempo tem sido difícil desde março de 2020. O Vai Turismo propõe dialogar, aprender, ouvir, conectar o poder público, a iniciativa privada, o terceiro setor… Vamos construir o turismo juntos. A gente só consegue sair da caixinha quando ouvimos o diferente”.
Guerra destacou que o projeto compreende ações como pesquisas, oficinas e análise de dados para desenhar estratégias e políticas públicas, estabelecer relações de parcerias, exercer o papel de monitoramento e participação na construção de diretrizes para a retomada saudável. O projeto irá traçar o perfil e identificar as potencialidades e carências dos destinos turísticos para fundamentar um programa de desenvolvimento alinhado com a verdadeira realidade do setor em cada região. “Os documentos técnicos serão disponibilizados ao público em geral”, disse ela.
Retrocesso de 30 anos
Em sua palestra, Michel Julian, economista e especialista em tendências do turismo da OMT (Organização Mundial do Turismo), apresentou um panorama dos impactos da pandemia no turismo mundial. “Em 2020, o número de turistas estrangeiros recuou 71%. Aproximadamente 100 milhões de empregos foram perdidos. Na pandemia, o turismo internacional retrocedeu 30 anos”, dimensionou ele, lembrando que as mulheres e os jovens foram os mais afetados pela crise provocada pela pandemia.
No Brasil, país que ultrapassou os 500 mil mortos pela covid-19, e que encontra grandes dificuldades para vacinar a sua população, a recuperação do turismo internacional será mais demorada, aponta Michel. “Tudo dependerá de como estarão as restrições [de deslocamentos], da confiança dos consumidores e da vacinação. A recuperação do turismo a níveis de 2019, pré-pandemia, não ocorrerá antes de 2024. A recuperação levará de 2,5 a 4 anos”, projetou o estrategista da OMT.
Michel considera que o Brasil tem um enorme potencial para o turismo internacional. Ele apontou alguns aspectos que podem melhorar a competitividade do país globalmente. “Conexão entre instituições, colaboração entre setores público e privado, produção de dados para fundamentar as decisões a longo prazo e se antecipar, investir em infraestrutura, mobilidade”, relacionou ele, que vê a sustentabilidade e a inovação como pilares para a recuperação do turismo.
Vetor de Conservação
Para Vitor Leal Pinheiro, do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o desenvolvimento sustentável do turismo passa pele enfrentamento de três grandes crises que acontecem simultaneamente neste momento: poluição, perda de biodiversidade e mudança climática. “O turismo é um vetor de poluição do meio ambiente, e também pode ser um vetor de conservação”, afirmou ele durante a sua palestra no lançamento do Vai Turismo.
Pinheiro destacou que 400 milhões de toneladas de plásticos são descartados anualmente. Desses, 13 milhões são despejados no oceano. “Em 30 anos teremos mais plástico do que peixes. Isso é assustador, principalmente para o turismo, que depende da biodiversidade. No Brasil são despejadas no oceano 325 mil toneladas de plásticos todo ano. Hoje o plástico representa 70% do lixo das praias”, informou ele, ressaltando que 72% do turismo internacional ao Brasil é motivado pelas praias.
Pinheiro afirmou que é fundamental desenvolver políticas públicas e estabelecer metas para reduzir o uso de plástico, material que demora 400 anos para se decompor. “O envolvimento do setor é muito importante. A pandemia está destacando os destinos mais sustentáveis”, salientou. Ele considera importante colocar em prática uma agenda verde que envolva toda a cadeia do turismo, associações, governos… “Precisamos adotar modelos de reuso e revisar nossos padrões”.
Persistência
Sergio Guerreiro, diretor sênior da Turismo de Portugal, contou que a tecnologia é fundamental para a retomada do setor, mas lembrou que ela também precisa melhorar a experiência do turista. Além disso, prosseguiu ele, é preciso aproveitar as ferramentas atuais para cuidar e conectar os micros e pequenos empreendedores, que representam a maior parte do setor de turismo.
“Precisamos estimular a cultura empreendedora e o acesso a financiamentos. O desafio do Brasil é imenso. O desenvolvimento do turismo precisa conectar universidades, empresas, destinos, financiadores… O importante é começar pequeno e ter foco. Somos resistentes e precisamos ter persistência”, encoraja Guerreiro.