Contrabando de Vinho ganhou um nome bonito: descaminho

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Por volta de 2011 conheci um comandante do Exército, em Cascavel (PR), que me explicou as dificuldades que a Defesa Brasileira (Exército, Aeronáutica e Marinha) tem em proteger nossas fronteiras.

Por Werner Schumacher*


Além da falta de pessoal, há também falta de equipamentos e deu como exemplo as lanchas utilizadas pelos contrabandistas para transportar 10 mil maços de cigarro, essas lanchas tinham motores que somavam 500 Hp.

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Não era pouco, é verdade. Na mesma época conheci Alberto Petri, um italiano que está entre os mais jovens a conquistar o campeonato mundial de motonáutica no mar, cujo motor da sua lancha somava 700 Hp.

Ainda nessa época, em função da aplicação do emblemático Selo Fiscal, que diminuiria o contrabando, foi feito um evento aqui em Bento Gonçalves (RS) com a presença do então Ministro da Justiça Tarso Genro. Na ocasião um sabre foi utilizado por Hermes Zanetti, um ex-deputado federal – (para o pavor dos seguranças do ministro) para simbolizar uma maior ação do governo federal a partir de então no combate ao contrabando. De lá para cá o contrabando até mudou de nome, virou descaminho.

Para surpresa nossa, a partir de 2019 começamos a ver notícias de apreensão de pequenas quantidades de vinho, quase que diariamente, umas maiores e outras menores, em média 400 ou 500 garrafas.

Essas apreensões são fruto de uma ação da Polícia Federal, das polícias Civil e Militar e do Exército para combater o tráfico de drogas e essa operação acabou por atingir cigarros, vinhos & e companhia limitada.

Na semana passada foram apreendidas 22 mil garrafas de vinho no oeste de Santa Catarina, cujo valor se estima entre 4 a 6 milhões de reais, de acordo com a reportagem da NSC Total. Algumas garrafas alcançam no varejo o valor de até R$ 2.000,00

Os agentes fizeram ações em depósitos (em Francisco Beltrão a fachada era de uma fábrica de móveis), lojas, transportadoras e agências do Correio, além das abordagens nas rodovias dos estados da região Sul e em 16 municípios, aqui incluindo Goiás.

A título de comparação, em 2020 foram importadas 147 milhões de garrafas e a produção das nossas vinícolas alcançou 28 milhões de garrafas, totalizando 175 milhões. Importados representam 84% e os nacionais 14%.

Vejam os números do contrabando!!!

Em 2019 foram apreendidos cerca de 6 milhões de garrafas.

Em 2020 este número saltou para mais de 18 milhões de garrafas, e

Em 2021, nesses primeiros meses, os números já superam os 10 milhões.

Alguns podem achar que esses números são exagerados, mas não devem ser, pois os negócios ilícitos neste Brasil estão bem acima de 10% do PIB. Esse um primeiro indicador.

Parece exagerado 18 milhões de garrafas, pois são perto de 50 mil garrafas por dia, muito? Pois é, apenas 100 meliantes por dia, carregando cada um 500 garrafas, chegamos facilmente ao número informado.

Se as apreensões em 2021 continuarem nesse ritmo poderemos chegar a 60 milhões de garrafas. Não duvido, pois um país que cobra tantos impostos sobre o vinho e tantos outros produtos, o contrabando avança.

O importante é ver que se há vontade política, as coisas acontecem.


Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves (RS), 16 de março de 2021

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