Passados quase quatro anos do grave acidente com o navio Costa Concórdia ao sul da Toscana, na Itália, o que aconteceu com a Costa Cruzeiros? Ela não só enfrentou a situação adversa como fez dela oportunidade para reflexão e reavaliação de suas operações. Como resultado, resolveu se reinventar.
No dia 13 de janeiro de 2012, uma barbeiragem do comandante interrompeu o percurso
ao fazer a gigantesca embarcação chocar-se contra rochas subaquáticas, com a perda de 32 vidas. Por meses seguidos, até ser desmontado e rebocado para longe, a exposição do navio fatalmente atingido ganhou manchetes, e até virou macabra atração turística.
Crises desta envergadura custariam para outra empresa a sobrevivência. Mas não foi o que aconteceu com a Costa Cruzeiros. Em uma demonstração de resiliência e transparência nas comunicações, não enfiou o rabo entre as pernas. Ao contrário, aproveitou o momento mais dramático dos seus 68 anos para implodir conceitos ultrapassados e se antenar às tendências do século XXI.
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Hoje a companhia anuncia uma nova etapa. Nela predominam novas ideias, mas sem abandonar os ideais que a consagraram. Ganhou até um novo presidente, Neil Palomba, um jovem de 35 anos com passagens pela concorrente MSC e CLIA da Europa. Apaixonado por Ferraris, está promovendo revolução na modorrenta burocracia que predominava na empresa.
A Costa que renasce traz o mesmo DNA vanguardista do conterrâneo Cristóvão Colombo que sempre a distinguiu. Orgulha-se de ser a única companhia de cruzeiros que navega com bandeira italiana. Por isto, nada mais natural que se transformar em “Itália flutuante”. Ou seja, materializar a bordo o fascínio que o mundo – em especial os brasileiros, 500 mil deles com dupla cidadania – têm pelo país, sua cultura e gastronomia. Sob o lema “o melhor da Itália”, trouxe para os restaurantes várias marcas pátrias consagradas, entre elas Barilla (massas), Illy (café), Gelato Italiano (sorvetes), Pummid’Oro (pizzas), Vinícola Ferrari (vinhos).
A Costa também repaginou o entretenimento, com destaque para o “The Voice of the Sea”. Trata-se da aquisição dos direitos do famoso programa de tevê adaptado aos cruzeiros. Será assim: após duas noites de karaokê, oito selecionados ganharão coach, com o vencedor eleito por votação dos passageiros. Além disso, estão previstos novos shows e eventos temáticos, como a Noite Branca e Noite de Máscaras. Para as crianças há agora a presença a bordo da personagem de desenhos animados Peppa Pig.
Em linha com a era digital, a Costa embarcou também Pepper, um simpático robô que interage com os passageiros em vários idiomas. Além de prestar informações sobre o navio e perguntar sobre a experiência a bordo, Pepper dança, participa de jogos, e posa com as pessoas em selfies.
A Costa que renasce traz o mesmo DNA vanguardista do conterrâneo Cristóvão Colombo que sempre a distinguiu. Orgulha-se de ser a única companhia de cruzeiros que navega com bandeira italiana
O Grupo Costa é formado por 26 navios com 72 mil leitos e 27 mil funcionários, distribuídos por três unidades: Aida, Costa Asia e Costa Cruzeiros. Esta última, que atende também a América do Sul, conta com 15 navios que operam 553 cruzeiros com 137 itinerários em 261 destinos. São 60 portos de embarque com 2.500 excursões terrestres para hóspedes de 200 nacionalidades.
Presente no Brasil desde os anos 50, a companhia foi a primeira a dispor de cabines climatizadas e varandas, assim como abolir a divisão de classes e inventar cruzeiros no Mar Vermelho, Dubai e China. Já os bem-sucedidos cruzeiros temáticos, agora exportados para o mundo, foram inventados aqui mesmo. Podem ser creditados ao espírito criativo de Francisco Ancona, que somado ao CEO Renê Hermann se confunde com o sucesso da empresa no país nos últimos 20 anos.
A atual crise econômica brasileira e a opção por mercados mais atrativos pareciam conspirar contra o Brasil. Não foi desinteresse dos passageiros, mas sim a lamentável
infraestrutura portuária, falta de incentivos oficiais, impostos extorsivos, e legislação trabalhista caduca (leia Os Cruzeiros Começam a Desembarcar do Brasil). Esta situação fez com que os 20 navios de todas as companhias que navegavam em águas nacionais há cinco anos encolhessem para sete, dois dele da Costa, previstos para a temporada 2016-2017.
Diante do cenário, a Costa tinha duas escolhas: ou desacelerar a presença e até abandonar o mercado brasileiro, como fizeram alguns concorrentes, ou marcar posição, de olho no futuro. Escolheu o segundo. Um claro indicador desta decisão foi a chegada do italiano Dario Rustico na função de diretor de Marketing e Vendas para a América do Sul. Não se trata de um executivo qualquer. Alto funcionário da Matriz em Gênova, entre outras atuações importantes, implantou a operação da Costa no mercado chinês. Ele chega com carta branca e canal direto com a sede para acelerar as mudanças.
*Fábio Steinberg é jornalista