Roma: passado que nos hipnotiza e presente que nos apequena
Roma – Quando se estabelece um contato mais íntimo com as camadas de história colocadas séculos sobre séculos aqui em Roma, concluímos o que as escrituras profetizavam: somos o pó do tempo.
Não é exagero. É pouco. O nível de inconsciência coletiva que o cidadão cosmopolita e globalizado adquiriu com sua compacta maneira de ver e digerir o mundo o transformou em uma partícula isolada no tempo e no espaço, por mais que pareça o contrário nesse processo midiático em que todos têm o mundo na palma da mão em seus smartphones.
A googlologia tem nos levado a buscar respostas prontas, desde receita de calda de bolo de laranja a espécies de parasitas na politica brasileira, mas quando no deparamos com os museus – (a galeria Burguesi com as esculturas de Gian Lorenzo Bernini e Michelangelo Caravaggio, por exemplo), as construções épicas e o sopro de cultura que vem por entre as colunas do Templo de Saturno, concluí-se que esse caos de significados que criamos com nossa digitalização, de forma espiralada, tem afastado o cosmos da unidade. Explico.
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Os grandes nomes da história romana, César, Adriano, Nero, Tibério, construíram colossais monumentos e marcaram sua lápide na história com fatos concretos. César conquistou impérios, Adriano reconstruiu o Panteon e levantou o Templo de Vénus e Roma, Nero perseguiu os cristãos e mandou matar os apóstolos Pedro e Paulo, Tibério reorganizou o exército romano, reformou a lei militar e criou novas legiões de soldados.
E os turistas, ah, turistas com seus dólares e euros… vêm com sua pressa industrial atrás do abstrato e fotografam o ícone de um ideal vivido e construído à força da espada e do gládio. Gravitam sobre um fato que teve ferro, fogo e sangue em sua construção e saem com suas imagens cor-de-rosa para colocar no Instagram.
Vivemos o clímax de um tempo de dispersão e de congestionamento de ideias e sofremos ao sentir a vida e a história escorrendo por entre os dedos, das mãos e dos pés. Por isso fotografamos o Coliseu já que ele representa algo concreto em nosso caráter longínquo de gladiadores, de homens das cavernas.
Por isso fotografamos o Pallatino – o ponto crucial do poder romano – e acreditamos que podemos alçar do poço das lembranças nossa força, o sopro inicial da nossa vida, de nosso império.
Por isso fotografamos a cúpula da igreja medieval, porque restabelecemos com isso a crença de algo maior que o pensamento da época, que levou à fogueira Giordano Bruno, o herege.
Por isso que nos deleitamos com a simplicidade arquitetônica da ponte Fabricium, que faz a ligação entre o passado que nos hipnotiza e o presente que nos apequena.
Ou nada disso, fotografamos mesmo só para colocar no Facebook e termos a rápida impressão que adentramos o panteon dos deuses, por cinco segundos. O tempo de uma curtida.