DIÁRIO de um cruzeirista no MSC Grandiosa (2)

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O MSC Grandiosa desligou suas máquinas às 7 horas em frente à Ilhabela. É minha primeira manhã nessa cidade flutuante, um  espetáculo de engenharia da MSC que faz a sua primeira apresentação aos olhos verde-amarelos.

Paulo Atzingen – de Ilhabela – (SP)**


Vejo um morador da ilha vendo-me na varanda do navio. Sou um ponto minúsculo em meio ao prédio que – como um milagre – levita sobre a água. Aceno primeiro com a mão, depois com a toalha e uso-a como um bandeira, a bandeira da paz. Ele reage e retorna meu cumprimento. É um código universal essa atitude cordial de sair de si mesmo e estender a mão; é uma ponte sem cimento e aço, uma ponte de luz, de irmãos que se conhecem desde os primórdios da humanidade.

O sol não aparece

Embora um navio como o MSC Grandiosa seja um mundo em si mesmo e avance pelo mar como se fosse um reino independente de tudo, o tempo lá fora dá as cartas. A atmosfera interna do navio vai se ajustando conforme a atmosfera externa. Nos dias de meu cruzeiro,  as costas fluminense e paulista estavam encobertas de nuvens com um tímido sol saindo, mas logo sendo abraçadas por colossos de algodão cinzas. Uma das almas do MSC Grandiosa são as piscinas, e, especialmente as piscinas externas para os banhos de sol.

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Sem o 17º andar

Se uma das almas está encoberta (ela se chama Atmosphere pool),  restam as outras almas, que são as piscinas internas, os salões de jogos, o spa (MSC Aurea Spa),  a pista de boliche, uma variada oferta de atividades infantis para quem está com criança (as) e, evidentemente os andares (decks) alusivos aos mestres da pintura, a saber;  5º andar – Caravaggio; 6º andar – Leonardo da Vinci; 7º andar – Michelangelo; 8º andar – Monet;  9º andar – Van Gogh; 10º andar – Miró; 11º andar – Dali; 12º andar – Rafaello 13º andar – Goya;  14º andar – Magritte; 15º andar – Cézzane; 16º andar – Velazquez; 17º andar (não existe pois os italianos consideram o número 17 azarento); 18º  andar – Gauguin; 19º andar – Degas.

Navegar é sentir

Caminho pelos corredores e andares do Grandiosa e reproduções de obras desses artistas são expostas como um grande espaço para refletir o papel da arte na vida, o papel da arte em uma travessia. Navegantes privilegiados  têm um all inclusive dos maiores mestres da pintura que se tem notícia desde a Idade Média.  Uma navegação grandiosa, portanto, não é navegar por navegar, navegar para comer e beber, navegar para beber e comer, não necessariamente nessa ordem.  Navegar tem a ver com pensar, sentir, absorver um mundo que está além, distante, e que é oferecido como um portal, uma chance de tirar os pés da terra.

Diplomático

Converso com casais experientes em travessia. L. e C. partiram de Gênova dia 3 e comemoraram 30 anos de casados. Discretos, não querem aparecer e ouço a primeira (e única) crítica. Ficaram incomodados com o volume de pessoas que embarcou no Rio de Janeiro. Até então a travessia transatlântica do casal seguia seu perfil Diamond, mas que se transformara a partir da Cidade Maravilhosa. O marido foi diplomático ao dizer-me que encaminharia suas observações diretamente à MSC.

Extra-sensorial imperdível

As amizades maduras nos oferece um certo aconchego, pois nos livra da solidão quando viajamos sozinhos. Nesta viagem encontro-me com Cláudio Oliva e Mário Fittipaldi, ambos colegas de profissão.

A experiência dos sexagenários é confrontada com a superficialidade bombástica dos blogueiros e influencers. De um lado, a descrição de Mário de uma uva específica que foi colhida na França e que gerou um vinho encorpado e que agradaria aos deuses. Do outro, apenas a foto da taça, ou o vídeo de um rótulo e um sorriso que vai bombar no Instagram. De um lado a descrição apaixonada e poética de uma experiência extra-sensorial vivida pelo jornalista que mistura o factual com a literatura e convida seus leitores a uma travessia. Do outro, o uso de adjetivos rasos para dizer que ser fotografado na escada prateada do Atrium Infinity é uma “coisa imperdível”.

Vivo uma experiência pessoal a bordo do MSC Grandiosa e me desintoxico desta telinha do celular que me condiciona, diminui a distância de meu olhar do horizonte e meu amor pelo mar.

Descarbonização

Sentado em uma das espreguiçadeiras da piscina coberta, navego pelos mares da sustentabilidade do navio e caio de cara em um depoimento de Pierfrancesco Vago, presidente executivo da divisão de cruzeiros da MSC: “nosso objetivo é claro: que a MSC Cruzeiros seja uma empresa com emissões líquidas zero até 2050. Esta é uma ambição ousada, mas reconhecemos que a descarbonização da nossa indústria é essencial: o futuro dos cruzeiros depende disso”, escreve Vago no mais atual Relatório de Sustentabilidade da MSC. Penso na desintoxicação das pessoas antes das máquinas. Quanto falta para retornarmos àquele estado de pureza e solidariedade confiando no outro como o bebê que suga o leite da mamãe? A sustentabilidade e o meio ambiente não começam no meio da gente? Fiquei muito pensativo, vou pedir um drink.


*Este texto é a continuação da série DIÁRIO de um cruzeirista confinado, publicada em fevereiro deste ano, quando o autor contraiu covid em um cruzeiro de 7 noites para a Bahia. (confira nas próximas edições a continuidade deste diário)

**Paulo Atzingen é jornalista e viajou a convite da MSC com seguro Europ Assistance

 

LEIA TAMBÉM:

DIÁRIO de um cruzeirista no MSC Grandiosa (1)*

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