Entre gritos de “Chapê, Chapê!” e inúmeras outras manifestações de apoio, estádio Atanásio Girardot rompe fronteiras para a solidariedade frente ao acaso e seu luto inoportuno
por Marcos Sokabe – (repórter freelancer do DIÁRIO
Embora comumente se pense o contrário, não há limites para o gesto humano puro quando este envolve solidariedade e empatia. Uma multidão lotou o estádio Atanasio Girardot nesta quarta-feira (30), em Medellín, Colômbia, para homenagear as vítimas da maior tragédia futebolística e jornalística da história, infelizmente ocorrida nos entremeios da madrugada dos dias 28 e 29 de novembro.
Mais de setenta pessoas compunham a delegação que participaria do primeiro jogo da final da copa sul-americana entre as equipes da Chapecoense e Atlético Nacional, seja dentro das quatro linhas, ou, fora delas durante a cobertura dos veículos esportivos em campanhas internacionais.
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Com capacidade máxima, os gritos eufóricos de incentivo, típico-motor dos torcedores colombianos apaixonados, deram lugar para uma voz uníssona que ecoara por todo o estádio, ainda que o sentimento presente correspondesse mais a um conforto que exclusivamente um abraço é capaz de fornecer. Aos familiares, ao povo brasileiro e a qualquer um que se comova perante a um golpe do acaso de tamanha magnitude, o caldeirão de Medellín transmutara-se num grande pico de distribuição gratuita de centelhas de esperança. Deram-nos a prova de que nenhuma vida é em vão para a história que segue como locomotiva e toda e qualquer sempre permanece viva independentemente das circunstâncias, por mais torrenciais e aterradoras que pareçam.
Balões brancos preenchiam o céu noturno de Medellín, sendo soltos um a um conforme os nomes das vítimas eram declamados. Seguidos, já ao final da homenagem, por flores também brancas atiradas no gramado pelo quase infinito de indivíduos ali presentes em corpo e principalmente alma.
Após o minuto de silêncio completamente recheado pelas luzes de celular e velas que procuravam imitar constelações e toda a poética doravante delas, o estádio inteiro unira-se para urrar – como se a verdadeira expressão humana derivasse do coração e não das cordas vocais propriamente – “Olê, olê, olê… Chapê, Chapê!”.
Outra massa de pessoas, por volta de vinte mil, acompanhavam de fora as homenagens por telões postos nos arredores do centro ocidental da cidade.
Autoridades Emocionadas
José Serra, ministro de relações exteriores do Brasil, emocionara-se com a atitude dos colombianos; tanto devido à imensa homenagem desta noite quanto pelo pedido de que o título fosse dado para a chapecoense. Não conteve-se e acabou por derramar lágrimas e interrupções forçosas pelo soluço único que o choro desesperado desencadeia:
“Muito obrigado, Colômbia. Jamais nos esqueceremos da forma como vocês sentiram o desastre e a interrupção do sonho deste time heroico da Chapecoense, e, a sugestão de que dessem o título para a equipe brasileira. Parece um conto de fadas com final trágico”, encerrara com os olhos mareados.
Ademais, Juan Carlos de La Cuesta, presidente do Atlético Nacional, completara os diversos discursos – governador da Antioquia, mulher de um dos jogadores do time de Medellín e afins – convidando todos os presentes para uma reflexão necessária:
“Hoje é um momento para a reflexão… entender que a vida é o mais importante. Convidamos para que o momento seja de união e convivência, é o que todos nós almejamos.”
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*O repórter viajou a Medellin a convite do Convention Bureau da cidade para cobrir a abertura dos eventos do Natal – Marcos Sokabe viaja com Assistência GTA